Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Estudo Descobre Alternativas de Reuso para o Lixo Têxtil

Um estudo na área de têxtil e moda verificou que a mistura de fibras descartadas e destinadas a virarem lixo a placas de resina aumenta a tenacidade e resistência desse material. A tese de mestrado de Welton Zonatti se dedica à reciclagem têxtil, aliada ao design, buscando uma forma de reaproveitar o grande volume de resíduos dispensados na produção de artigos de vestuário.

Do luxo  ao lixo têxtil: problemática urbana
Os bairros do Bom Retiro e do Brás, em São Paulo, se destacam pela profusão de confecções e chegam a produzir juntos 26 toneladas de resíduo têxtil por dia. O descarte atualmente é regido pela política nacional de resíduos sólidos, de 2010, que realiza a gestão compartilhada de resíduos. Porém, “gestão compartilhada”, no caso, quer dizer que estes são recolhidos indiferenciadamente, não havendo política própria para o que resta dos tecidos. Há uma quantidade máxima permitida confecções podem depositar na calçada e, respeitando este limite, o poder público é obrigado a recolher o volume e se encarregar de seu destino – que, exceto por cerca de 1 tonelada (das 26 diárias) encaminhada para as recicladoras, é levado aos aterros sanitários junto com outros tipos de lixo. Agravando estre problema,  muitos dos tecidos utilizados hoje no Brasil são importados de países asiáticos como China e Bangladesh, cuja política ambiental “permissiva” faz com que o produto possa conter quantidades altas de corantes tóxicos, passíveis de contaminar o solo quando depositado no aterro.
Tendo em vista o volume significativo de despejos, as alternativas para um melhor gerenciamento desse material seriam investir em empresas de reciclagem, com maquinário expressivo para a produção de um novo fio a partir de um velho, que será reinserido na cadeia produtiva, orquestrar a logística de distribuição do lixo para as empresas e, também, fundamentalmente, a separação prévia do material pelos confeccionistas. Esta coleta é muito importante, uma vez que ao misturar os retalhos a outros tipos de resíduos orgânicos, as confecções responsáveis inviabilizam a reciclagem: é necessário que se saiba a composição exata das fibras, o ponto de fusão de cada uma ali presente, já que se misturadas e submetidas a processos com altas temperaturas, podem se fundir ou pegar fogo.

O experimento
Na etapa experimental do estudo, o pesquisador se ateve à fibra de algodão, a mais consumida no Brasil – 70% dos artigos de vestuário produzidos são feitos desse material, sem contar que o país é o segundo maior produtor de denim (utilizado na confecção do jeans), feito exclusivamente dessa fibra – mas realizou também alguns testes com fibras de poliéster. Após verificar por meio de microscopia se as indicações do tecido correspondiam à sua composição real, isto é, se o que por exemplo é definido como “100% algodão”  de fato contém 100%  de algodão, resíduos de calça jeans e de chifon (trama feita de poliéster). Três diferentes resinas, epóxi, poliéster ortoftálico e poliuretano, foram misturadas a estas fibras, destino que diminuiria a quantidade de refugos têxteis nos aterros. As propriedades das placas de resina puras foram comparadas às das placas reforçadas com fibras.

 

Compósito feito de retalhos e resina epóxi flexível
Compósito feito de retalhos e resina epóxi flexível 


O compósito – feito de pelo menos dois componentes, cujas características são uma combinação entre as da matriz e das fibras, além da interação entre ambas – resultante se tornou viável tanto do ponto de vista da qualidade do material, que ganhou resistência e coesão, quanto do ponto de vista do apelo visual, que o torna aplicável na área de moda. Empregando o conceito do eco-design, agregador do reuso consciente à criação de um produto esteticamente funcional, Zonatti produziu ainda peças de bijuteria para validar o estudo. Mas destacou que as possibilidades de aplicação do produto não se restringem ao artesanato.

 

Gema de colar produzida com resina epóxi e resíduos têxteis
Gema de colar produzida com resina epóxi e resíduos têxteis

 

Bracelete produzido com resina epóxi e fibras têxteis oriundas dos resíduos de calça jeans e camiseta
Bracelete produzido com resina epóxi e fibras têxteis oriundas dos resíduos de calça jeans e camiseta

 

A bibliografia disponível sobre materiais compósitos, praticamente segmentada na área de engenharia, foca numa análise meramente química e mecânica. Por isso também a pesquisa inova, não somente por comprovar o que se propõe, mas pela busca de reunir moda (estética) e têxtil (função), com cunho sustentável.

Fonte:|http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=5220

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Respostas a este tópico

Esta postagem tem como virtude chamar, mais uma vez, a atenção para o flagelo que os resíduos têxteis têm para a ecologia planetária . Trata-se sem dúvida dum problema gravíssimo e todas as soluções que forem sendo encontradas são bem vindas. No entanto não me levem a mal se disser que encorparam em resinas uma percentagem, provávelmente muito pequena, de resíduos têxteis possa resolver ou minorar o problema. Por aquilo que tenho conhecimento são cerca de 50, toneladas diárias produzidas, só na área de São Paulo. A solução, mais lógica e com maior impacto tem de passar, quanto a mim, pela reutilização, através do desfibramento dos resíduos. Isto não é nada novo e está a ser feito à já muitos anos na Europa principalmente na zona de Prato na Itália. E, posso garantir, que os tecidos resultantes desta técnica são comercializados com muito êxito em roupas de moda para homem, senhora e principalmente criança, também se aproveita em tecido-não-tecido para enchimento de colchões, instrumentos de limpezas, etc. Renovo o que afirmei ao princípio; todas as soluções são importantes! Pois o problema é muito grave. O governo Brasileiro deve ajudar à criação de industrias que possam ajudar a minorar o problema criado com o excesso de resíduos , sejam eles de têxteis ou outros.

Jorge, minha dissertação discorre sobre algumas possibilidades de reciclagem e reutilização de têxteis. É sabido que a geração de resíduos é imensa e que destinar este montante a ONG´s e cooperativas (trabalho artesanal) não resolve fortemente o problema, por conta da abundância do material. No meu trabalho, eu falo sobre a desfibragem de têxteis e a reinserção do material para produção de um novo fio também, que seria a alternativa "mais lógica" como você mesmo pontuou. Também analisei a produção de compósitos têxteis, que no caso, foram aplicados em bijuterias (havendo o emprego do design - conceito que muitos trabalhos "mais técnicos" não discorrem), mas não teria apenas esta finalidade, dado os resultados positivos que obtive com análises mecânicas e químicas do material - boa coesão, aumento da tenacidade e da resistência. Assim, com mais estudos, tais compósitos poderiam ser empregados em áreas técnicas, por exemplo (isolamento térmico, acústico etc). E claro, finalizo enfatizando a importância de otimizar o gerenciamento dos resíduos têxteis e dos artigos confeccionados descartados pelos usuários, principalmente em São Paulo, a fim de minimizar impactos ambientais, gerar lucro a partir de "lixo" e cobrir, parcialmente, a demanda por fibras virgens.

Inclusive, para quem tiver interesse, há a possibilidade de baixar minha dissertação no seguinte link: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100133/tde-13032013-0...

Welton dou-lhe os meus parabéns pelo seu excelente trabalho. O que eu pretendo dizer é que a quantidade de resíduos têxteis é tão grande que todas as alternativas para a sua reutilização são importantes e a alternativa de produtos para isolamento térmico e outros são óptimas ideias. É bom que um jovem como você tenha preocupações ecológicas e com elas contribuir para um mundo melhor. Mais uma vez os meus parabéns.

Muito obrigado!

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