Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Reestruturação industrial em SC: PMEs têxtil-vestuaristas no final do século XX

Os resultados da pesquisa de campo que subsidiaram o estudo a que se refere este texto consistem numa primeira exploração da base de dados construída a partir das entrevistas nas empresas visitadas, e seu objetivo é traçar um perfil das atividades têxteis e vestuaristas de Santa Catarina no que concerne ao segmento das Pequenas e Médias Empresas – PMEs

As PMEs têxtil vestuaristas de SC marcam presença em diferentes atividades da cadeia produtiva, não raramente de forma combinada. Entre as firmas estudadas, havia fabricantes só de produtos têxteis (23%) ou só de artigos de vstuário (18%); havia produtores de artigos tanto têxteis quanto de vestuário (18%); havia prestadores, em exclusividade, de serviços de beneficiamento, como tingimento e estamparia (5%); e havia produtores de artigos e/ou de vestuário que também prestavam serviços de beneficiamento (9%). As firmas da Grande Florianópolis eram quase exclusivamente fabricantes de artigos de vestuário, assim como as do Sul do estado. Combinação de fabricantes têxteis e vestuaristas (envolvendo também prestadores de serviços de beneficiamento) foi observada na região Nordeste do estado e no Vale do Itajaí, o que tem a ver com a própria estrutura do complexo têxtil-vestuarista no estado; é nestas duas áreas, principalmente no Vale do Itajaí, que as atividdes correspondentes apresentam longa trajetória, inclusive com projeção do complexo rumo ao segmento vestuarista desde pelo menos aos anos 60.

  As PMEs que só fabricavam artigos têxteis protagonizavam diversos tipos de atividades. Havia quem só fiasse ou tecesse, mas observaram-se vários casos onde diferentes processos ocorriam em paralelo: visitaram-se firmas que faziam beneficiamento e fiação, ou que fiavam e também teciam, e assim por diante, em variadas combinações. ]as que se dedicavam exclusivamente à prestação de serviços de tingimento e estamparia eram empresas que tinham desenvolvido outras atividades no passado, como malharia ou produção de artigos de vestuário, e que, por imposição da concorrência e/ou devido à percepção de nicho de mercado, optaram pela especialização em serviços. As atividades vestuaristas, de sua parte, envolviam uma extensa e variada gama de produtos, mostranto que também em Santa Catarina incide uma característica básica da indústria de vestuário brasileira e mesmo mundial: a enorme diversificação das mercadorias fabricadas. As empresas visitadas produziam roupas masculinas e femininas, para adultos e crianças, para verão, inverno e meia-estação, de tecido plano e de malha, e acessórios diversos, como chapeus. Classificar essas firmas de acordo com o que produziam é, desse modo, tarefa difícil, pois quase todas fabricavam diversos tipos de itens. Isso não quer dizer que produziam para os mesmos segmentos de mercado, ou que seus artigos apresentavam níveis de qualidade e sofisticação equivalentes. As empresas eram diferentes entre si, e havia diferenças até entre firmas que participavam de um mesmo segmento e dos mesmos contextos produtivos e socioindustriais locais.

  No subgrupo de firmas envolvidas ao mesmo tempo em atividades têxteis e vestuaristas, observou-se tanto o pequeno quanto o médio oprte, de forma mais ou menos equilibrada. Via de regra, essa presença simultânea em dois pontos da cadeia produtiva caracterizava-se pela fabricação de malha e de artigos de vestuário que utilizavam malhas (geralmente de algodão) como matéria-prima básica; algumas vezes, a comtinação da atividades englobava a fiação e até o beneficiamento. Ressalte-se que grande número de empresas possuía escala de produção pequena, em termos relativos, sobretudo no segmento vestuarista. As que ostentavam escala maior (menos de 1/5 do total) eram geralmente produtoras de artigos têxteis e localizavam-se no Vale do Itajaí.

  Pouco menos de 2/3 das PMEs assinalaram não possuir mais de 100 empregados, o que significa predomínio do pequeno porte. Tais firmas constituíram ampla maioria entre as que produziam exclusivamente artigos de vesituário (3/4 possuíam até 100 empregados). Na produção têxtil, a distribuição revelou-se mais equilibrada entre firmas de portes pequeno e médio, o que condiz com as características do segmento. Por outro lado, pouco menos da metade apresentou concentração dos níveis de faturamento anual em intervalos que não ultrapassavam US$ 2 milhões. Porém, enquanto esse patamar representou limite para a esmagadora maioria das firmas de menor porte, entre as de tamanho médio (com mão-de-obra entre 100 e 499 assalariados) a maior parcela revelou dispersão do faturamento entre US$ 2 milhões e US$ 15 milhões, Com a incidência do menor porte mostrou-se relativamente mais acentuada na produção de artigos de vestuário, foi nesse tipo de atividade que se observou a maior proporção de casos de menor faturamento (envolvendo bem mais da metade das firmas exclusivamente vestuaristas). Consequentemente, foi nas regiões em que a produção de artigos de vestuário desponta como atividade predominante, no interior do conjunto têxtil-vestuarista, que se verificou a maior quantidade relativa de firmas com baixos níveis de faturamento: Grande Florianópolis e Sul do estado.

  A maioria das empresas (60%) iniciara as suas atividades entre o começo dos anos 70 e 1990, em bom número registrava pelo menos uma década e meia de presença nos respectivos negócios. Assim, na maior parte dos casos, tratava-se de PMEs com significativo acúmulo de experiência, inclusive porque algumas funcionavam havia muitas décadas (5 firmas tinham iniciado suas atividades antes do final dos anos 20). Essa considerável antiguidade não deve surpreender, tendo em vista o destaque das atividades correspondentes na história da industrialização catarinense, conforme já referido. Assim, não causa admiração que as empresas mais antigas do conjunto pesquisado se localizem no Nordeste do estado e no Vale do Itajaí, áreas que integram o grande quadrilátero nordestino catarinense de industrialização excorada na colonização de origem principalmente germânica, no século XIX. No sul do estado e na Grande Florianópolis as atividades vestuaristas têm raízes muito mais recentes.

  As histórias das empresas registravam considerável variedade de origens e trajetórias. Muitas PMEs da região Nordeste de SC e do Vale do Itajaí ostentavam histórico condizente coma própria evolução da indústria naquelas áreas. Por exemplo, eram firmas criadas a partir de dissoluções de sociedades anteriormente existentes, vinculadas à produção têxtil e inciadas havia décadas, ou que integravam grupos industriais que, a partir do falecimento dos fundadores, sofreram fragamentação entre os herdeiros, algumas vezes no calor de disputas acirradas, com desdobramentos na forma de rupturas de relações no âmbito familiar; ou eram firmas instaladas por funcionários de grandes empresas que, demitidos, tornaram-se fabricantes e/ou prestadores de serviços, não raramente apersentando o antigo empregador entre os clientes. Foram poucos os casos de escassa relação prévia dos fundadores com atividades têxteis ou vestuaristas, embora não houvesse sempre aderência completa em relação ao que se tinha realizado no passado: algumas vezes, o posicionamento na cadeia têxtil diferia daquele exibido em outros tempos.

  Entretanto, em regiões onde só recentemente as atividades do complexo têxtil-vestuarista ganharam certo destaque, como a Grande Florianópolis  e o Sul do estado, as trajetórias revelaram diversos casos de pouca relação anterior com as atividades em questão. Na ragião de Criciúma, um certo número de firmas assinalou o comércio atacadista como origem das atividades de fabricação. Algumas, inclusive de médio porte, começaram a produzir tendo em vista a vivência assim adquirida: eram comerciantes que compravam em mercados do Sudeste (São Paulo, principalmente) e revendiam sobretudo para clientes do Rio Grande do Sul. Isso ocorreu pelo menos desde os anos 60, e a experiência acumulada possibilitou o início da produção de artigos de vestuário. Outras firmas iniciaram as suas atividades como faccionistas, situação que permitiu instalarem-se como confeccionistas a partir da criação de etiquetas próprias (sem que, no entanto, tivessem abandonado totalmente o trabalho de facção).

  Como  se percebe, foram absolutamente diversas as formas como as empresas entrevistadas enstalaram-se na condição de fabricantes. Assim, é difícil identificar um padrão de trajetória, já que os históricos individuais são bastante diferenciados. Não foram poucas as firmas que tiveram o início de suas atividades ligado a motivos até certo ponto prosaicos. Constitui exemplo uma empresa de artigos de vestuário criada a partir de uma separação conjugal, como se a proprietária desejasse mostrar ao ex-marido que era capaz de conduzir um negócio por ela mesma, ou o caso de um ex-funcinário público que, cansado de bater ponto e exercer uma atividade considerada maçante e mesmo infurtífera, decidira trabalhar por conta própria, montando uma cnfecção com vistas a conquistar o que considerava se a sua independência.

  A maioria das empresas, sobretudo entre as vestuaristas, atuava em mercados abertos, com grande número de concorrentes. Também foram majoritárias as que acusaram aumento do número de concorrentes desde o início dos anos 92 (entre as quais predominaram igualmente fabricantes de artigos de vestuário). Mais de 80% admitiram enfrentar a concorrência de empresas maiores, mas tal circunstância foi considerada ora como desvantagem, ora como fator que não comprometia a competitividade. Indicou-se desvantagem sob o argumento de que as empresas maiores têm melhores condições para comprar insumos, em especial os importados, e também para comercializar, tendo em vista uma presença (através de marca mais conhecida, por exemplo) melhor consolidada no mercado.

  As empresas que assinalaram não enfrentar problemas apontaram, entre as razões, as vantagens derivadas da maior flexibilidade relativa com a qual operavam, fonte de respostas mais ágeis às mudanças em termos de moda, por exemplo. De toda maneira, quase todas as firmas assinalaram posições pelo menos intermediárias no ranking da cncorrência, nos principais mercados em que atuavam, possibilitadas pelo desempenho das principais linhas d produtos em aspectos como preço, qualidade e vendas. A maioria (85%) reconheceu enfrentar concorrentes instalados nas mesmas regiões, o que surpreende tendo em vista o caráter de espaços de concentração de produção têxtil-vestuarista ostentado por boa parte das áreas onde se fez a pesquisa. Grande número de empresas indicou relações com concorrentes locais (menos de ¼ afirmou ausência absoluta de relações), mas esses vínculos foram caracterizados muito mais como encontros meramente aleatórios, que só em poucos casos eram motivados por problemas ligados aos negócios.

  Observou-se que as empresas com presença em mercados externos eram minoritárias: só 31% exportavam ou haviam exportado recentemente, a maioria de porte médio. A menor incidência de vendas no exterior foi observada na fabricação de produtos de vestuário, segmento em que não mais que 27% das firmas exportavam. Os países do Mercosul, Argentina à frente, figuravam como principais destinos dessas vendas, representando 49% das indicações. As demais referências envolviam países industrializados e outros países da América Latina, com presença significativamente mais destacada no primeiro grupo, composto de economias da América do Norte (tanto Estados Unidos como Canadá) e da Europa (Alemanha, principalmente), e englobando também o Japão. As mercadorias dirigidas aos países mais industrializados, que representam mercados mais competitivos e exigentes, envolviam produção tanto têxtil quanto vestuarista: uma média empresa de artigos esportivos localizada em Joinville declarou vender camisetas para os Estados Unidos através de firma exportadora de São Paulo; uma outra empresa de médio porte, fabricante de tecido plano e de produtos de copa (toalhas, guardanapos, etc...) em Jaraguá do Sul, informou que vendia tecidos para os Estados Unidos e para paíes europeus, além da Argentina. Em alguns anos, essa presença em mercados mais dinâmicos exigia adaptação de produtos: a mencionada empresa Joinvillense que exportava para os EUA necessitou fabricar um tipo específico de camiseta para poder participar daquele mercado; um médio e tradicional fabricante brusquense de roupas de tecido plano precisou desenvolver modelos especiais para lograr inserção no mercado norte-americano, onde se fazia presente desde 1988.

  Para a esmagadora maioria das empresas envolvidas, a exportação era realizada diretamente para o cliente no exterior, sem apoio institucional de qualquer tipo. Um médio confeccionista de Blumenau – que exportou para os EUA durante certo tempo (tinha cliente em San Diego – CA) e que no momento da entrevista vendia só para a Bolívia – mencionou a precariedade da atuação dos representantes como justificativa para a relação direta que sempre procurou estabelecer. Só duas firmas, ambas de médio porte, localizadas em Joiville e em Criciúma, fizeram referência ao uso de tradings para as vendas dirigidas aos EUA e Europa.

  Parte das PMEs que exportavam, ou que tinham experiência no assunto, associou a competitividade exibida em mercados externos à qualidade dos produtos fabricados. Às vezes, o reconhecimento desse tipo de vantagem apareceu acompanhado da percepção de que os preços que praticavam favoreciam a inserção internacional, embora concorrer com produtos asiáticos, fabricados a custos ínfimos de mão-de-obra, tenha sido considerado algo extremamente difícil. Entertanto, nos últimos anos, tanto as vantagens em termos de qualidade quanto aquelas referentes aos preços foram até certo ponto eclipsadas pelas dificuldades derivadas da sobrevalorização cambial que caracterizou a economia brasileira durante boa parte doa anos 90.

  É importante frisar que para certas empresas as exportações eram dificultadas pela própria natureza dos produtos envolvidos. Um tradicional fabricante de chapeus de Jaraguá do Sul, que exportava de forma direta para o Mercosul, declarou ser relativamente pouco vantajoso exportar o que produzia. Motivo: a necessidade de cuidados especiais para evitar que os chapeus ficassem amarrotados (o que significava acondicionar em caixas próprias, com armação que mantivesse a estrutura intacta) tinha consequências em termo de relação valor/volume. Assim, apesar de estabelecido desde os anos 20, com marca consolidada e posição de destaque no ranking da concorrência em escala nacional, o fabricante apresentava exportações cujo valor não superou 0,8% do faturamento em 1996.

  Na verdade, a participação das exportações nas vendas foi geralmente muito reduzida. Para 61% das firmas que exportavam ou tinham exportado recentemente (e que informaram o valor exportado; 18 firmas o fizeram), essa participação não se revelou superior a 5%. Só 4 empresas (pouco mais de 1/5 das exportadoras) tinham nas exportações uma prática que correspondia a 15% ou mais das vendas totais: tratava-se de um médio fabricante de Brusque, que exportava roupas de tecido plano inclusive para os EUA; de um médio produtor de artigos da linha quarto (acolchoados, travesseiros, etc...), instalado em Blumenau, que exportava para países do Mercosul e para o Chile; de um édio fabricante de toalhas e roupões, também em Brusque, que, a exemplo da empresa anterior, vendia para os países do Mercosul e para o Chile; e de um médio produtor de artigos esportivos, instalado em Joinville, que vendia modelos específicos de camisetas para os EUA, caso (único no painel) em que as exportações representavam 27% das vendas em 1996.

  Dois comentários adicionais sobre o problema das exportações são pertinentes. Havia firmas que, embora não exportassem, tinham entre seus clientes (subcontratantes de etapas ou da totalidade de linhas de produtos ou clientes dos serviços de beneficiamento que ofereciam) empresas que vendiam para mercados externos. Assim, para fins práticos, era como se aquelas firmas exportassem: recaíam sobre elas pressões relativas ao nível de qualidade, do mesmo modo (ou quase) como ocorreria caso vendessem diretamente para o exterior. Da outra parte, observaram-se empresas que tinham deixado de exportar nos últimos anos: um médio fabricante joinvillense, com presença em atividades têxteis e vestuaristas, teve suas vendas para os EUA e Alemanha contraídas de 20% do total em 1990 para 5% em 1996; um produtor de tecido plano e toalhas, de Jaraguá do Sul, revelou que, entre 1993 e 1996, suas exportações para Argentina, EUA e Europa caíram de 20% do total das vendas para 2%; um tradicional confeccionista de Blumenau, que chegou a vender para clientes canadenses e argentinos, simplesmente zerou as exportações nos últimos anos. Entre os motivos elencados, apareceram referências às dificuldades para atender as exigências dos clientes. Porém, foram também evidenciados problemas associados ao sistema de câmbio vigente no país durante vários anos, desde a implementação do Plano Real.

  Outras informações podem ser obtidas no livro “Reestruturação Industrial em Santa Catarina” de autoria de Hoyêdo Nunes Lins.

http://www.administradores.com.br/artigos/academico/reestruturacao-...

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e engraçado só falar em queda,fim........da industria têxtil.........qual sera o futuroooooooooo,

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