Costurar é desmanchar, avisa Maria Celina de Freitas Nunes, revelando o maior segredo da profissão. “É preciso fazer e refazer a mesma peça dezenas de vezes até que esteja perfeita”.
Ela sabe do que está falando. Celina aprendeu a costurar aos 14 anos com as bordadeiras da Ilha da Madeira, em Portugal. Fez o que toda garota da sua idade fazia para garantir um bom casamento: costurar, bordar, cozinhar, cuidar da casa. O mínimo. “Uma moça prendada”, diziam.
Foi também nessa época que o enxoval para o casamento ainda nem programado com o noivo que ela ainda nem conhecia começou a ser confeccionado. “Ninguém tinha dinheiro para comprar tudo de uma vez”, lembra. “Fazíamos aos poucos, com as próprias mãos”.
O de Celina demorou dez anos para ficar pronto. O vestido de noiva foi emprestado. Um dia, ela entrou na igreja. No outro, embarcou com o marido para o Brasil, segunda opção na lista encabeçada pela Inglaterra. O casal emigrou em busca de trabalho com a ideia de permanecer em terras estrangeiras o mínimo possível. Faz 34 anos.
Em São Paulo, a menina que sempre foi considerada boa costureira se transformou numa das modistas mais requisitadas da cidade. Profissão conhecida somente por quem já passou dos 50 anos, a modista, uma especialista em alta costura, além de manejar linhas e agulhas com perfeição, cria o modelo e desenha o molde. Hoje, existem costureiras, estilistas, personal stylers, produtores de moda, gestores de moda, designers de moda e outros profissionais aos montes. A modista é uma espécie em extinção.
“É preciso dedicação, disciplina e paciência”, diz Celina, enumerando as qualidades que o ofício requer. “As pessoas aprendem a costurar porque querem ganhar dinheiro rápido, mas nesta profissão a pressa é a principal inimiga da perfeição”. Quem é de uma classe social mais alta e se interessa por moda, dificilmente se propõe a “pilotar a máquina”. Esse serviço normalmente é terceirizado, e as costureiras são consideradas o degrau mais baixo na hierarquia do mundo da moda.
Celina começou por ele: costurando roupas do dia a dia. Calças de alfaiataria, tubinhos de piquê, vestidos de viscose, tailleurs. Detestava. De tanto escutar elogios de clientes como Reinaldo Lourenço, Glória Coelho, Tônia Carreiro e José Possi Neto, Celina convenceu-se de que realmente tinha mãos de fada. Decidiu especializar-se em roupas de festa.
Há 15 anos, finalmente descobriu e apaixonou-se por sua vocação: a mulher que se casou usando uma roupa emprestada agora só faz vestidos de noiva – “e o da mãe da noiva, quando elas insistem muito”. Neste ano já foram 26. O preço médio é 7.000 reais por peça, já incluído o valor do tecido (seda pura, na maioria das vezes). “Eu sei que o que faço é uma obra de arte”, fala com orgulho, esforçando-se para vencer a timidez.
Celina pode até baixar um pouco o valor, dependendo do modelo. Mas, depois de amargar muitas injustiças, aprendeu a valorizar o ofício. Serviço não falta. E até sobra. Se lhe perguntam qual sua profissão, a resposta é sempre a mesma: “do lar”. “Quando você diz que é costureira, as pessoas pedem seu telefone na hora”, diverte-se. “Todo mundo procura uma boa costureira”. Muitos correm atrás de trabalho, Celina foge.
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/secao/feira-livre/
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“É preciso fazer e refazer a mesma peça dezenas de vezes até que esteja perfeita”.
“Quando você diz que é costureira, as pessoas pedem seu telefone na hora”, diverte-se. “Todo mundo procura uma boa costureira”.
Romildo, voltei 60 anos, quando me dei conta que teria de levantar da cama, na sala, pois uma freguesa viria experimentar o vestido de noiva as 8:00hs. Minha mãe considerada a melhor modista/costureia do ABC, esteve a frente de sua Singer(comprada em 1943) até os 83 anos, quando foi obrigada a parar. Nestes anos todos foram centenas e centenas de vestidos de noiva, debutantes, madrinhas e p/viagens. Só uma diferença do citado acima, é que ela, não fazia moldes, ia cortando o tecido por pura técnica e sensibilidade e um detalhe, sabia as medidas das clientes todas de cor, um gênio sem computador. Trabalhava como uma "galega", até por vezes altas horas. Cresci, vendo minha mãe sempre com alguns alfinetes no avental. Grandes recordações.
Me permitem um complemento:- Nunca a vi cansada, reclamando da vida e falava, mais que o radio amigo inseparável. E falava tanto que quando alguém ia embora, ela acompanhava até a porta e falando ,falando. Uma das meninas( que c/ela trabalhava) disse uma vez que quando minha mãe ia dormir, sua língua descansava no travesseiro também. Em S.Caetano do Sul, o jornal local, na época, por vários anos a agraciou com o troféu de FIGURA DE RENOME DA SOCIEDADE e TRABALHO da cidade. Agora seu nome: Odette Cardoso. Esposa de Aristides Cardoso criador do terno sem Bolsos (PERLATO) que foi nos idos 1960 até capa da revista VOGUE FRANCESA. Meu pai tinha alfaiataria(não sabia pregar um botão) brincavamos sempre com ele.Outra figura.
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