Fora das muralhas de Prato, a Via Pistoiese, o principal acesso a esta cidade italiana, transformou-se numa movimentada Chinatown, que cresceu como resultado das numerosas confeções chinesas que se foram aí instalando para produzir “made in Italy”.
Existem 50 mil chineses a viver e a trabalhar na região italiana de Prato, confecionando vestuário com a etiqueta “made in Italy” (ver Made in Italy por chineses - Parte 1). Camiões transportam as roupas para os clientes nos principais mercados europeus num dia ou dois. No negócio da moda rápida, isso dá às fábricas do Prato uma vantagem competitiva sobre os rivais na China, que demoram 40 dias para enviar a sua produção por via marítima para a Europa.
Durante muitos anos, o governo local de Prato pouco fez em relação à crescente comunidade chinesa, cuja presença ajuda a economia local. «Houve um pacto tácito de olhar para o outro lado, porque os chineses também estavam a trazer muito dinheiro, ajudando a amortecer o impacto da crise financeira global sobre a região», revela Massimo Bressan, investigador sobre assuntos de imigração no Instituto Iris de Prato.
Quando Roberto Cenni tornou-se presidente da câmara de Prato, prometeu restaurar o Estado de Direito na cidade de pouco menos de 200.000 habitantes. Para além de aumentar o número de inspeções em fábricas, o governo local aumentou o custo de recuperar máquinas confiscadas e introduziu um decreto que permite a um armazém ser declarado “inapto” até que cumpra as normas de segurança.
Mas parte do problema é que 60% das fábricas chinesas duram apenas dois anos, muitas vezes fecham e reabrem com outro nome para escapar às inspeções realizadas pelas autoridades fiscais. Os imigrantes ilegais encontrados pela polícia são ordenados a deixar a Itália no prazo de cinco dias, mas não há forma de ter a certeza de que realmente o fazem, afirma o vereador para a segurança, Aldo Milone. «É uma piada», acrescenta o responsável.
Além disso, muitos imigrantes ilegais chegam com vistos de turista de três meses, mas ficam em Itália durante alguns anos, até ganharem dinheiro suficiente para regressar à China.
«Eu tenho feito inspeções há 15 anos e posso dizer que, por cada fábrica que fechamos, outra vai aparecer no dia seguinte. Aqui, a atitude é muito branda, existe uma espécie de conivência», explica um oficial da polícia judiciária local que não quer ser identificado por não estar autorizado a falar com a imprensa.
Fora da fábrica Teresa Moda, onde deflagrou recentemente um incêndio, encontram-se cabides carbonizados e rolos de tecido espalhados pelo chão, restos de cortinas queimadas impedem que as pessoas olhem para o interior do edifício.
«A dor não tem cor», lê-se numa folha de papel fora do portão por cima das fotografias das sete vítimas, que a polícia diz ter demorado dias para identificar os parentes, porque estavam com medo de se apresentarem. Um dos mortos ficou sufocado enquanto tentava escapar por uma janela protegida por barras de ferro.
Um trabalhador chinês, que veio prestar os seus sentimentos, referiu que fabricava, em média, 70 camisas por dia e recebia 70 cêntimos de euro por cada camisa, referindo que, num bom mês, poderia ganhar 1.500 euros.
Perto dali, numa fábrica recentemente encerrada pela polícia italiana, os trabalhadores ficavam frequentemente sentados em frente às suas máquinas de costura até 14 horas por dia. Li Hong, de 29 anos, estava lá a trabalhar há quase um mês, todos os dias, das oito da manhã até às dez da noite.
Shen Jianhe, de 38 anos, que perdeu o trabalho e a sua habitação, era a trabalhadora mais antiga na fábrica encerrada. Jianhe estava em Itália há 10 anos e era a única trabalhadora com autorização de residência e contrato de trabalho. «O que vai acontecer com a minha máquina de costura? Eu preciso dela para trabalhar», exprimiu Jianhe, quando a polícia começou a selar todas as ferramentas encontradas no local.
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Li Hong, de 29 anos, estava lá a trabalhar há quase um mês, todos os dias, das oito da manhã até às dez da noite.
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