Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Coteminas reabre fábrica nos EUA, mas mercado que anima é o Brasil

Silvia Costanti/Valor / Silvia Costanti/ValorJosué Gomes da Silva quer contribuir com atual governo, neste ano eleitoral, mas a partir de Minas Gerais

A Springs Global, holding que abriga Coteminas e demais operações do grupo têxtil de cama, mesa e banho, comandado por Josué Gomes da Silva, vai reabrir uma fábrica nos Estados Unidos nos próximos meses, na cidade Hartwell, na Georgia. A unidade produzirá tecidos para uniformes industriais, contou o empresário, em entrevista exclusiva ao Valor. "Os Estados Unidos estão retomando a competitividade industrial".

Apesar do pouco impacto nos números, a novidade é emblemática. Nos cinco anos seguintes à chamada "fusão de iguais" entre a Coteminas e a americana Springs, em 2006, a soma dos negócios encolheu drasticamente.

A reabertura de uma produção em solo americano é boa nova após anos de ajustes, fechamento e venda de fábricas. E essa não deve ser a única novidade para 2014.

A companhia deve começar a traçar um caminho de sucessão, no qual o empresário, famoso pela dedicação e centralização na condução da gestão, pode se afastar do comando dos negócios para se dedicar à política.

A questão, contudo, ainda não está definida. Na assembleia geral de acionistas de abril, quando é feita a eleição do conselho de administração, algumas mudanças já devem ocorrer, diz ele, pois será feita a separação entre presidência do conselho e executiva. Quais? "Daí já é querer saber demais", desconversa, mas em tom divertido.

E não conta nem mesmo se o caminho sucessório pode trazer alguém de fora ou se será alguém de dentro da empresa. Também recusa a afirmação de que é "a cara" da companhia. Defende que o grupo tem uma cultura forte, uma grande unidade, o que passa a "impressão de um homem só".

Gomes da Silva não esconde que a política o está chamando, como herdeiro do legado de seu pai, o falecido ex-vice-presidente da República José Alencar. Em 2013, filiou-se ao PMDB e nas últimas semanas seu nome foi comentado Brasil afora como possível indicação ao Ministério do Desenvolvimento.

O empresário admite ter sido alvo de um convite formal para o Ministério do Desenvolvimento. Além de sentir-se honrado, viu-se no dever de ponderar. Mas após estudar a questão, concluiu que ajudaria mais este governo, num ano de eleição, atuando a partir de Minas Gerais. Como, exatamente, não conta. Todo tempo reforça que sua colaboração não depende de candidatura, mas não rejeita a possibilidade - nos bastidores comenta-se que poderia concorrer ao Senado ou como vice-governador.

O projeto para o grupo Springs-Coteminas agora está refeito, o que abre espaço para o empresário pensar em política. Em 2006, ano que se deu a combinação de Springs e Coteminas, o grupo tinha receita líquida de R$ 4,77 bilhões e gerava fora do Brasil 65% do faturamento. Era, então, um gigante com 31 fábricas entre Estados Unidos, Brasil, México e Argentina, com capacidade produtiva de 270 mil toneladas.

Em 2013, até setembro, a Springs Global, teve receita líquida R$ 1,52 bilhão - 35% obtido no exterior, na proporção inversa a do momento da fusão. O negócio teve que ser profundamente ajustado às novas realidades de câmbio e de economia internacional, especialmente a partir de 2008. O grupo tem hoje 15 fábricas que produzem juntas 120 mil toneladas. Os maiores ajustes foram nos Estados Unidos. "No Brasil, a receita sempre cresceu", diz Gomes da Silva.

"Eu brinco dizendo que Deus criou o câmbio para deixar os economistas humildes. E criou os Estados Unidos para me deixar humilde", diz, descontraído, agora que o ciclo volta a ser de expansão.

Os ajustes amassaram o valor em bolsa. A Coteminas holding, que chegou a valer R$ 2 bilhões no auge da euforia dos mercados, é avaliada hoje em R$ 270 milhões. A Springs, que estreou em 2007, a R$ 2,5 bilhões, tem agora R$ 360 milhões de valor de mercado.

Para Gomes da Silva, o marco e o surgimento da companhia em sua nova configuração é o ano de 2011, quando a receita líquida ficou em R$ 1,4 bilhão e o prejuízo alcançou R$ 407 milhões. É de lá para cá que se deve observar e analisar o grupo Coteminas, na visão do empresário. "O mundo mudou completamente. Até a contabilidade mudou", lembrou ele, sobre a adoção do IFRS em 2010.

Também é a partir de 2011 que ganhou força o projeto de varejo da companhia, com as primeiras lojas Artex e a expansão da franquia M.Martan. Hoje, são 233 pontos de venda, no total. O plano do grupo é que sejam 551 lojas em 2018. Dentro de quatro anos, as vendas no varejo dos produtos da Coteminas devem alcançar R$ 5 bilhões, o que significará receita de R$ 3,8 bilhões para a empresa.

No mercado, as avaliações da atuação de Gomes da Silva à frente dessa crise costumam repetir um elogio e uma crítica. De um lado, atribuem ao seu "braço forte" a sobrevivência num setor em que grandes nomes quebraram. Mas, de outro, ponderam que se a gestão não fosse tão centralizada, talvez a Coteminas pudesse ter sido mais ágil nas mudanças.

Ele conta que houve um atraso "consciente" no fechamento de fábricas. "Aquilo foi um misto de resistência de quem sempre abriu fábrica, de fechar, de quem sempre aumentou produção, de diminuir. Uma torcida pelo câmbio e uma preocupação com as comunidades. Mas as decisões vieram."

Parte do enxugamento do grupo nestes anos foi programada, outra parte é fruto dos desafios macroeconômicos. Quando a Springs abriu capital na BM&FBovespa, o plano era reduzir o número de fábricas de 31 para 22 - sete a mais do que o número atual.

A animação, Gomes da Silva reserva para os números do mercado brasileiro. A Coteminas operacional, subsidiária da Springs Global, teve receita líquida total de R$ 1,14 bilhão em todo ano de 2013 - em valores não auditados. Uma expansão de 20% em comparação a 2012. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) mais do que dobrou, saindo de R$ 75 milhões para R$ 162 milhões, com margem de 14,2%. "Neste ano de 2014, faremos mais 20% com certeza", diz.

O ânimo com o Brasil tem explicações além da política. É disparada a maior margem do grupo. Nos Estados Unidos, a margem não passa de 5%, explica. Enquanto as exportações diminuíam, a Coteminas ganhava participação de mercado em território nacional - a empresa estima que sua fatia subiu de 25% para 46%, de 2007 a 2013.

Se Gomes da Silva se arrepende de ter comprado a Springs? Ele prefere não responder nestes termos. Explica que quando ocorreu a transação - chamada de fusão, mas que na realidade foi uma compra - provavelmente já não tinha alternativa. E explica que ficou a lição de evitar a concentração de 60% das vendas externas num único mercado e num único distribuidor. Essa é a pergunta de negócios que, na visão do empresário, deveria ser feita. "A resposta", diz, "provavelmente seria não".


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Por Graziella Valenti | De São Paulo

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Com o preço da energia nos USA e bom reabrir .Agora o preço cobrado aqui no Brasil .....

Vimos aqui muitas matérias onde empresas da China já estão migrando para os USA

É disparada a maior margem do grupo. Nos Estados Unidos, a margem não passa de 5%, explica. Enquanto as exportações diminuíam, a Coteminas ganhava participação de mercado em território nacional

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