A notícia caiu como uma bomba no mundo da moda: após 38 anos de criações, o célebre costureiro francês Jean-Paul Gaultier vai encerrar suas atividades de prêt-à-porter e de acessórios em razão de dificuldades financeiras.
Seu último desfile, inspirado em um de seus modelos emblemáticos, a blusa de marinheiro, será apresentado no dia 27 em Paris, data que para muitos na França vai marcar o "fim de uma época" da indústria da moda.
O estilista de 62 anos, que se tornou famoso com suas saias (estilo kilt escocês) para homens e o bustiê com seios em forma de cone usado pela cantora Madonna, continuará, no entanto, realizando coleções de alta-costura, importantes para manter o dinamismo das vendas dos perfumes da marca. Eles representam, com fragrâncias como Le Mâle, um negócio bem rentável e com receita estimada em € 250 milhões.
Já o prêt-à-porter da grife tem números bem diferentes. A receita caiu fortemente nos últimos anos: o faturamento dessa linha, totaliza hoje cerca de € 15 milhões, segundo fontes do setor.
O encerramento das atividades do prêt-à-porter ocorre apenas três anos após a grife de Gaultier ter sido comprada pelo grupo espanhol Puig - especializado em perfumes e dono de marcas como Paco Rabanne, Nina Ricci e Carolina Herrera - com faturamento de € 1,5 bilhão.
Gaultier já havia enfrentado problemas financeiros anteriormente e havia cedido 45% do capital ao grupo de luxo Hermès em meados dos anos 2000. O estilista também foi, durante seis anos, o diretor artístico do prêt-à-porter da Hermès. Em 2011, a Puig desembolsou cerca de € 100 milhões para adquirir a grife de Gaultier.
Mas o grupo espanhol ainda vai esperar dois anos para obter o negócio mais lucrativo da marca. O grupo japonês de cosméticos Shiseido detém a licença dos perfumes do estilista até 2016.
O costureiro evocou, para explicar o fim de seu prêt-à-porter, "restrições comerciais e um ritmo frenético de coleções, que não permitem ter liberdade nem tempo para ideias e inovações", disse Gaultier ao jornal "Le Figaro". De fato, não é nada fácil competir com o ritmo de varejistas "fast fashion" como Zara, H&M e Gap, que mudam suas vitrines várias vezes por mês.
Mas para muitos, o costureiro, apaixonado por moda, jamais teria tomado essa decisão e, na prática, o grupo Puig não queria simplesmente continuar perdendo dinheiro. Especialistas ressaltam que o costureiro, apesar de sua notoriedade internacional e grande criatividade, não conseguiu traduzir isso em lucros para a sua empresa.
"Gaultier não desenvolveu suficientemente as linhas de acessórios e perdeu esse espaço", diz Marie Noëlle Demay, editora-chefe da revista francesa "Marie Claire". "As grandes grifes de moda compensam suas atividades com esses artigos, como bolsas, que são o grande filão rentável. Hoje é muito difícil para uma grife sobreviver apenas com o vestuário", diz ela.
E mesmo na área de acessórios a concorrência é enorme. Que o diga a grife francesa Louis Vuitton, que adotou a estratégia de privilegiar modelos mais exclusivos e com materiais mais nobres (em vez da tela emborrachada com o famoso monograma) para driblar a forte desaceleração nas vendas, devida principalmente à clientela chinesa, que passou a querer produtos menos vistos por todos os lados. A medida, pelo visto, vem dando certo: as vendas da divisão de acessórios de couro do grupo LVMH cresceram 7% neste semestre.
Por enquanto, Gaultier ainda continuará surpreendendo em seus desfiles de alta-costura, com manequins exóticos e temas insólitos, como Drácula.
Não foi o que aconteceu com outro grande nome da moda francesa, Christian Lacroix, que deixou as passarelas em 2009 após sua marca, pertencente a um grupo americano de "duty free", ter entrado em liquidação judicial e encerrado a alta-costura e o prêt-à-porter. A grife Lacroix ainda existe, mas sem participação do estilista.
Estima-se que o grupo Puig aplicará nos próximos anos à grife de Gaultier a mesma estratégia adotada com a marca Paco Rabanne, cujas coleções de moda representam apenas cerca de 10% das vendas. O restante são perfumes e cosméticos.
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Por Daniela Fernandes | De São Paulo
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"Gaultier não desenvolveu suficientemente as linhas de acessórios e perdeu esse espaço", diz Marie Noëlle Demay, editora-chefe da revista francesa "Marie Claire". "As grandes grifes de moda compensam suas atividades com esses artigos, como bolsas, que são o grande filão rentável.
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