Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Empresários falam o que esperam da próxima Presidência do país para reerguer o setor de confecção

Foto: Fernando Ducatti

 

 

Empresários falam o que esperam da próxima Presidência do país para reerguer o setor de confecção

 

O ano de 2014 tem carregado consigo um grande peso em relação ao anseio por mudanças urgentes e, ao mesmo tempo, incógnitas de “o que vai acontecer?” eclodindo agora em outubro, nas urnas, com as eleições presidenciais. Na verdade, esse será o verdadeiro turning point para o futuro do Brasil.

As notícias que viemos recebendo – e sentindo na prática – nos últimos anos têm sido como uma agulha estourando cada mínima bolha de ânimo ou esperança do empresariado brasileiro, em todos os estratos, desde os micros até os grandes, como a indústria automobilística, por exemplo, que até pouco tempo viveu uma explosão de crescimento com os subsídios governamentais, mas agorajuntou-se à banda em recessão (que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita piamente não estar acontecendo), uma palavra que havíamos parado de escutar com tanta frequência, mas que voltou à moda junto com a inflação. Uma rima de muito mau gosto.

Em julho, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou seu relatório Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), um indicador que identifica, por meio de estatísticas da Sondagem Industrial Setorial, as mudanças na tendência de produtividade da indústria e a confiança dos empresários de investir ou aumentar a produção. O indicador desse índice varia de 0 a 100, sendo que, acima de 50 pontos, significa empresários confiantes. Mas resultado do último relatório não foi dos melhores. Com 46,4 pontos, o que ele mostra é a queda na confiança empresarial, o menor valor da série histórica desde o lançamento do índice, em janeiro de 1999, segundo a CNI. Entre os 28 setores analisados, apenas o farmacêutico, o de bebidas e o de manutenção e reparação tiveram índices superiores a 50 pontos. No setor têxtil e confeccionista, a pontuação foi de 43,4 e 44,5, respectivamente; no de couro e artefatos, 42,8; no de calçados e suas partes, 42,9; e no de máquinas e equipamentos, 43,6.

“O desempenho da economia brasileira, obviamente, é produto de opções domésticas e da crise internacional, que teve efeitos importantes sobre o país. Mas o que nós acreditamos é que todo início de governo gera um ‘capital político’, e esse capital precisa ser utilizado para o avanço das reformas institucionais. Todos os países precisam fazer mudanças incrementais que melhorem seu ambiente institucional, e no Brasil nós temos muita coisa a ser feita”, disse em recente declaração o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.

O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano retraiu 0,6% em relação ao do primeiro trimestre, que inclusive já havia caído 0,2%, segundo dados do IBGE, e não deve chegar a 1% até o final deste ano. Que estatística vergonhosa é essa para um país com tantas riquezas e empresários tão capacitados e cheios de vontade de crescer, empreender, mas são obrigados a estagnar por causa de políticas interesseiras, partidárias, que colocam à frente de qualquer coisa benefícios particulares em vezdos interesses de uma nação inteira?

Mas, como já disse certa vez o economista norte-americano Thomas Sowell, “a primeira lição da economia é a escassez: nunca há algo em quantidade suficiente para satisfazer os que o querem. A primeira lição da política é desconsiderar a primeira lição da economia”. Aqui no Brasil, essa citação tem sido seguida na prática, ao menos para grande parte da indústria.

O recém-lançado “Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira – Brasil Têxtil 2014”, feito pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), com o apoio institucional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) por meio do Texbrasil (Programa de Internacionalização da Indústria da Moda Brasileira) e daAgência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que fornece informações mercadológicas e estruturais ao setor têxtil e confeccionista, atualizadas anualmente, mostra que o segmento está vivendo um momento crucial e de profundas transformações, “que exigem de seus mentores todo o empenho e sagacidade, para que usem os obstáculos conjunturais, como já o fizeram antes, como alavanca para o desenvolvimento estrutural e consolidação de toda a cadeia produtiva”, nas palavras de Marcelo Villin Prado, diretor-superintendente do Iemie colaborador da Costura Perfeita.

Ainda segundo ele, “o setor tem enorme relevância no desenvolvimento econômico e social brasileiro, respondendo por 5,7% da receita de toda a indústria de transformação local. Também dá emprego a mais de 16,4% de todos os trabalhadores (cerca de 1,6 milhão), que nele encontram seu principal meio de sustento. É por isso que o acompanhamento regular de sua evolução, de seus triunfos e dificuldades é mais do que um simples exercício setorial, é uma necessidade que se insere no núcleo do desenvolvimento nacional”.

Rafael Cervone, presidente da Abit, ressalta o grande potencial dessa cadeia produtiva, apesar dos dados desanimadores. “Estamos entre os cinco maiores do mundo, com um parque de máquinas e equipamentos com custo de reposição equivalente a mais de R$ 150 bilhões e mais de 33 mil empresas em todo o território, provando que o setor é, mais que tudo, uma forte vocação nacional.”

Entre os principais números do relatório, que reúne o balanço de todo o ano de 2013, o setor têxtil e de confecção produziu US$ 58,2 bilhões, que correspondem a 5,7% do valor total da produção industrial brasileira de transformação. Somando a quantidade de postos de trabalho gerados, 1,6 milhão – mais de 1,3 milhão só na confecção –, percebe-se toda a sua importância econômica e impacto social.

Os investimentos em ampliação da capacidade produtiva, como máquinas, instalações e treinamento, cresceram pífios 0,5% no setor confeccionista em 2013. No entanto, na parte de maquinário, especificamente, houve uma queda nos investimentos em torno de 2,1%, passando de US$ 246 milhões em 2012 para US$ 240,7 milhões em 2103.

E a balança comercial do segmento, ano a ano, vem pendendo para o lado mais fraco, deixando a cova do déficit cada vez mais funda. Enquanto esse índice era de US$ 1,6 milhão em 2009, um ano após a grande crise norte-americana que assolou o mundo, em 2013 fechou em US$ 4,5 bilhões, um assombroso crescimento de 181% em apenas quatro anos. As importações de itens confeccionados tiveram alta de 9,4% em volumes e de 8,6% em valores no ano passado. Se analisado o quadriênio 2009-2013, os volumes chegam a 121,7% e os valores a 202,9%. Ao mesmo tempo, as exportações aumentaram só 0,5% em volumes e 24,9% em valores.

Os fatores que contribuem para esse quadro são diversos, como a valorização cambial, que favorece as importações e desestimula as exportações, afetando diretamente a produção nacional para baixo e, como numa cadeia, a queda de empregos e renda. O famoso “custo Brasil”–energético, de mão de obra, e toda a parte trabalhista burocrática –, a própria burocracia, a estrutura logística sucateada, mais as portas abertas aos importados com custo infinitamente inferior ao dos itens de vestuário brasileiros e nenhuma ação governamental para mudar esse quadro, entre outras questões, somam-se, como que preparados para a fabricação de uma bomba-relógio, e esse fio precisa ser cortado urgentemente.

 

LEGENDA: Indústria sucateada e deixada de lado: quem poderá resolver o problema das confecções?

Ilustração: Lulu Silva

 

 

PRESIDENCIÁVEIS

 

Com as eleições presidenciais batendo à porta, Costura Perfeitaentrou em contato com os departamentos de imprensa dos partidos dos principais candidatos – Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) –, para saber o que poderiam fazer em seus planos de governo que ajudasse o setor têxtil e confeccionista a se reerguer. Até o fechamento desta edição, apenas as propostas do PT foram apresentadas durante reunião mensal do conselho da Abit. Assessores do PSDB e do PSB não sinalizaram nada específico para essa indústria.

Entre os avanços do governo atual para o setor, o porta-voz do programa de governo da presidenta Dilma Rousseff destacou as compras governamentais (preferência à compra de produtos têxteis feitos no país, exceto quando não houver similar nacional), a desoneração da folha de pagamento, a regulamentação do Supersimples Nacional, a implantação do Microempreendedor Individual (MEI) e o Reintegra (Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras). Entre as principais propostas, estão: desoneração produtiva e de investimentos; desburocratização econômica; ampliação dos programas Pronatec e Inova Empresa; ampliação do financiamento à inovação; continuação e ampliação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI); criação do Programa de Modernização do Parque Industrial; e reforço na governança de política industrial.

A Abit, inclusive, como entidade oficial do setor, preparou um documento com as principais demandas, de forma objetiva, chamado “Agenda de Prioridades – Têxtil e Confecção 2015 a 2018”, que foi distribuído aos principais candidatos de diversos cargos públicos, com o intuito de pautar debates sobre esses pontos.

As propostas estão divididas por áreas, tais como relações de trabalho (aperfeiçoar e simplificar a legislação trabalhista, fazer com que a redução da jornada de trabalho seja uma opção negociada entre as partes interessadas); segurança jurídica (o atual cenário de insegurança jurídica reduz investimentos pela falta de confiança no ambiente de negócios); macroeconomia (todo o ambiente de negócios das empresas, como juros, câmbio, inflação, carga tributária); tributação e gasto público (aprovação do Regime Tributário Competitivo para a Confecção – RTCC, acabar com impostos cumulativos, avançar com a Reforma Tributária no Congresso Nacional); financiamento (crédito caro e escasso, facilitação de acesso a linhas de crédito para investimentos); infraestrutura logística cara e ineficiente, energia elétrica); educação (ampliação da parceria entre os setores público e privado para melhorar a oferta de cursos profissionais); inovação (fortalecer e aprimorar programas de incentivo e fomento à inovação, como forma de apoio à competitividade); comércio exterior (acelerar negociações de acordos internacionais, abrindo novos mercados e fortalecendo o interno); meio ambiente (simplificar e esclarecer a legislação atual, exigir que os produtos importados cumpram as mesmas exigências ambientais, trabalhistas e de saúde); gestão burocrática (construção de um gabinete ligado à Presidência da República com o único objetivo de desburocratizar processos, redução do número de ministérios ao nível do de países desenvolvidos); e micro e pequena empresa (políticas públicas que deem tratamento diferenciado e favorável a esse tipo de empresa, a grande maioria que compõe o setor). A agenda completa pode ser conferida e baixada no site da Abit (/www.abit.org.br/conteudo/links/publicacoes/agenda_site.pdf).

 

O QUE ELES ESPERAM DO PRÓXIMO GOVERNO?

 

Para saber o que esperam da próxima Presidência do Brasil, colhemos os depoimentos de empresários e entidades do setor têxtil e de confecção. A intenção não é levantar bandeiras partidárias, mas, sim, mostrar os anseios da indústria, para que sejam ouvidos e considerados. Afinal, o próximo governo será decisivo para o setor, e esperamos que de forma positiva. Confira a seguir as opiniões e aproveite para refletir sobre os prós e contras de seu candidato, fazendo uma escolha consciente nas urnas nas próximas eleições.

 

 

“Esperamos um próximo governo que trabalhe de maneira muito forte e rápida na retomada da competitividade do país e, consequentemente, na retomada de nossa produtividade. Além de tudo isso, e não menos importante, um governo que trabalhe pela simplificação de nossos procedimentos e operações, pela flexibilização das leis trabalhistas, por um processo de melhor acesso ao mercado internacional, falando especificamente de acordos preferenciais com maiores compradores, e um país que desonere a produção. Tudo isso envolve o primeiro item que é a competitividade. Esse é o ponto que, mais do que nunca, é importante.”

Rafael Cervone, presidente da Abit

 

“O que sempre esperamos é que o governo proporcione mais competitividade às empresas, crie um ambiente favorável a ela. Hoje nós temos um ambiente favorável à competição externa. É muito maisfácil, barato e menos burocrático produzir fora do Brasil. Os números estão aí. A indústria vem perdendo espaço ano após ano devido a esse motivo. Eu vejo que são poucas coisas que precisam ser resolvidas, mas são coisas importantes. Com um pouco de boa vontade do governo, dá para fazer. Uma delas é a burocracia. Hoje, no Brasil, temos uma complexidade de impostos absurda. Enquanto uma empresa aqui tem 20 pessoas na área contábil e fiscal, por exemplo, lá fora haveria apenas uma pessoa. Só aí carrega-se um custo invisível, que é um custo indireto de produção, que não medimos, mas existe. Outra são as relações trabalhistas: as empresas querem crescer, as pessoas querem crescer, o Brasil é um país de oportunidades, as pessoas e empresas poderiam crescer muito mais. Mas nossa legislação é muito antiga, não dá agilidade às relações de trabalho. Muitas vezes, o funcionário quer certas flexibilidades e a empresa não pode dar porque a lei não permite. Infraestrutura: nosso custo interno hoje é gigantesco, e competimos com países como China, Índia, Rússia – os Brics. Quando olho para uma empresa, penso: quem são meus concorrentes, o que eles estão fazendo que eu precise fazer tão bem quanto ou melhor? Nós temos que fazer tão bem ou melhor que eles, pois temos um povo criativo, trabalhador, tem muita gente competente no país. Acho que evoluímos muito nos últimos anos, mas precisamos avançar mais.”

Claudio Grando, presidente da Audaces

 

“O setor de moda, em geral, não sabe o que quer, não se une, não conversa, não se mobiliza. Evidentemente, para o governo não é interessante mexer num setor que, comparado a outros, arrecada pouco, mas emprega muito. Precisamos dessa integração, uma unidade que represente o setor de fato.”

Alberto Hiar, CEO da Cavalera

 

“Não defendemos o protecionismo, mas acreditamos que o governo tem por obrigaçãoestimular a competitividade da indústria têxtil brasileira em relação aos produtos importados. Dessa forma, nossa expectativa é que o governo exerça seu papel de agente de promoção da isonomia concorrencial.Dentre as medidas mais aguardadas, está a que trata do Regime Tributário Competitivo para Confecção (RTCC),que pode representar uma verdadeira revolução de competitividade, alavancando a geração de empregos e o aumento da arrecadação.”

Marco Antonio Branquinho Junior, presidente da CedroTêxtil

 

“A minha expectativa é que o próximo governo adote, desde o primeiro dia, uma agenda nacional para a construção das bases necessárias para a recuperação da competitividade da indústria brasileira, com o objetivo de termos no país uma política industrial de verdade. Essa política não poderá se limitar a medidas pontuais, que atendam às reinvindicações de um ou de outro setor. Para ser efetiva e começar a reconduzir a indústria ao mesmo nível de participação no PIB brasileiro de 20 anos atrás, é preciso, antes de tudo, reconhecer que não haverá crescimento econômico sustentável baseado na produção de bens de baixo valor agregado em serviços. Também é urgente a simplificação da estrutura e das alíquotas dos impostos e taxas que oneram a produção. Essa reforma está atrelada à adequação do tamanho da máquina do Estado, para permitir que o governo utilize os instrumentos da política econômica (juros, câmbio etc.) de forma equilibrada. O BNDES deve continuar a fortalecer e a fomentar a indústria como parte de sua política industrial. A modernização da legislação trabalhista também é uma prioridade. Precisamos de contratos mais flexíveis e que contemplem as inovações tecnológicas e as características de cada setor da economia. Mas temos que fazer isso propiciando segurança jurídica aos investimentos, que é algo que o Brasil vem perdendo muito nos últimos anos. Não é possível resolver todos esses pontos de uma só vez, mas nenhum deles pode ser deixado de lado. Só assim será possível enfrentar a concorrência externa e voltar a atrair investimentos para o setor produtivo do Brasil; de outra forma não há como o país ter condições e velocidade para crescer. Significa crescer mais do que nossos vizinhos e muito mais do que os países desenvolvidos.”

Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee

 

“Esperamos que o novo governo federal promova reformas, principalmente política e fiscal, permitindo que o país volte a crescer e que todos os empresários e investidores saibam em que terreno estão pisando e plantando.”

Eng. Edson José de Souza, diretor comercial da SilmaqS/A

 

“O combate ao trabalho escravo entrou na agenda do governo federal no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com a criação de grupos de auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que conferiam denúncias de trabalho escravo, sobretudo em fazendas do interior do Brasil. No governo Lula, o aparato institucional de combate a esse crime teve um incremento considerável, com destaque para a criação da chamada Lista Suja – cadastro oficial mantido pelo MTE com os dados dos empregadores flagrados pela exploração do trabalho escravo. Além de se firmar no nível das políticas públicas do Estado brasileiro, o combate ao trabalho escravo foi abraçado pela sociedade civil, com a atuação de ONGs e movimentos sociais. Então, o cerco aos maus empregadores saiu do campo e chegou à cidade. Hoje, os casos de trabalho escravo no meio urbano já são mais numerosos do que no rural, com destaque para a construção civil e a atividade de costura. Esperamos que, independentemente de quem vença as eleições, sejam preservadas as atuais políticas públicas de combate ao trabalho escravo – consideradas referência mundial pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para tanto, é preciso que o próximo governo atue de maneira firme com sua base aliada no Congresso Nacional para que seja mantida a atual redação do artigo 149 do Código Penal, que define o crime de ‘redução a condições análogas à de escravo’, sempre criticada pela bancada ruralista e pelos inimigos do trabalho decente no Brasil. E que também não se dobre às pressões para esvaziar ou desconfigurar a Lista Suja, o principal instrumento de combate ao trabalho escravo no Brasil, por propor sanções econômicas – como o corte de financiamento púbico – a quem explora o ser humano como mercadoria descartável.”

Carlos Juliano Barros, jornalista e pesquisador da ONG Repórter Brasil, um dos idealizadores do APP Moda Livre

 

“Em nosso Brasil, nos últimos 11 anos, o volume de vendas no comércio cresceu cerca de 188%, enquanto a produção física da indústria foi de 27% no mesmo período. A importação de produtos industriais passou de 10% para quase 24%, ou seja, ¼ do que hoje consumimos desses produtos é importado. Para o Brasil voltar a ser competitivo em sua produção industrial, o desafio é gigantesco para o próximo governo e a indústria nacional. Precisamos, principalmente, que o ‘custo Brasil’ seja atacado pelos novos governantes. Isto é, a carga tributária e o câmbio, só para citar os dois mais pesados, tiram a capacidade brasileira de competir com nossos concorrentes internacionais. Precisamos reduzir o ‘custo Brasil’ aos níveis médios de custo desses países. Quando falamos em média, não é termos os custos mínimos que a China e outros países da Ásia possuem, nem os custos máximos que o Brasil pratica; média é estar no meio.”

João Paulo Reginatto, diretor-superintendente da Sultextil e conselheiro da Abit

 

“O setor têxtil foi duramente atingido pela política econômica. Hoje, a produção da Poko Pano foi direcionada a Portugal devido aos altos custos de produção e impostos no Brasil. Atualmente, o avião é o maior concorrente do produto brasileiro, porque, enquanto uma bermuda jeans custa R$ 200 no Brasil, nos EUA o mesmo produto pode ser comprado pelo equivalente a R$ 60. Portanto, a expectativa é que possamos ter um Brasil mais justo, onde o incentivo à produção e a diminuição dos impostos sejamalgumas das metas. Tornar nosso produto competitivo é mais que uma tarefa, é uma obrigação do próximo governo.”

Paola Robba, estilista e proprietária das grifes Poko Pano e Paola Robba

 

“Em nome da Welttec, acreditamos que o novo governo deva fazer alguma ação para o bloqueio do comércio que vem acontecendo via postal. Já são milhares de roupas que, mensalmente, são compradas por pessoas físicas em e-commerce no exterior para revenda sem nota fiscal no mercado local, bem como para uso próprio. Isso significa que não há nenhum tipo de geração de emprego nessa cadeia, o que, ao menos por meio de importadores oficiais, acontece, pois exige uma demanda, uma estrutura administrativa e comercial, além de haver maior arrecadação no estado e na federação. Logicamente que o governo precisa ainda fazer muitas melhorias em nossa infraestrutura e uma reforma tributária para aumentar a competitividade da indústria nacional, o que, consequentemente, estimula as empresas a investir em novas tecnologias.”

José Martins Neto, diretor de marketing da Welttec

 

“Nosso país está definhando sob o ponto de vista da competitividade internacional. Nossa estrutura de impostos e encargos sociais não ajuda o exportador de produtos manufaturados. Enquanto tivermos divisas para importar, estaremos garantidos, mas essa política já está dando sinais de cansaço devido, principalmente, ao declínio do crescimento da economia chinesa. Se o próximo presidente não se atentar a isso, em breve não teremos volumes que justifiquem uma indústria verdadeiramente nacional. O novo presidente deveria colocar em discussão um pacto com a sociedade para que se elabore uma política de longo prazo paraos setores industriais para que se vislumbre a taxação sobre a renda, e não sobre o consumo, e melhore as condições quanto à CLT. No Brasil, você sabe o quanto um funcionário custa quando entra na empresa, mas dificilmente saberá quanto vai custar ao sair dela. Infelizmente, nossos governantes têm a péssima mania de querer distribuir os ganhos entre a população desprotegida, mas esquecem de dar condições à iniciativa privada de contribuir para o enriquecimento do país.”

Mauro Andrada, diretor da Andrade Máquinas e presidente da Abramaco

 

“Mais uma vez as esperanças se renovam com a oportunidade de escolhermos o chefe da nação que conduzirá este imenso e tão amado país. Nesses últimos 12 anos de governo do PT, tivemos um significativo avanço na distribuição de renda. A tão propalada ‘classe C’ ganhou um grande poder de consumo, dando a impressão, especialmente no último mandado do ex-presidente Lula, que havíamos encontrado o caminho certo, que o crescimento do país era quase uma consequência lógica. Infelizmente, pensou-se que, distribuindo renda e aumentando o consumo, o problema econômico do Brasil estaria resolvido. Esqueceu-se, talvez por conveniência eleitoreira, de que não basta dividir a riqueza sem pensar em aumentá-la. Incentivando desbragadamente o consumo irresponsável, criamos uma classe de devedores. Soma-se a toda essa situação a inércia governamental no que diz respeito às reformas que a classe empresaria já há muito reclama e que dariam à nossa economia uma competitividade à altura das grandes nações, como uma reforma trabalhista que reconheça que a relação patrão-empregado não pode ser pautada por paternalismo e antagonismo, em que a produtividade é a maior vítima; uma reforma fiscal e tributária que simplifique e clareie a relação entre o Estado e o contribuinte, sem penalizar o capital e os investimentos produtivos; uma reforma na educação, em que a meritocracia seja o foco principal; uma reforma na saúde, na segurança pública e no Judiciário; investimento maciço em obras de infraestrutura que possibilitem ao país um crescimento contínuo e sustentável; e, por fim, que consiga devolver aos cidadãos o orgulho de ser brasileiros.”

Maria Abigail Beira Fortuna, diretora da Morgan Tecnica no Brasil, conselheira fiscal da Fiep e membro da diretoria do Sivale

 

“País rico é sinônimo de país industrializado e, para o país ser bem-sucedido na produção industrial, não é preciso apenas dispor de custos baixos de produção. O que realmente precisamos para reativar nossa indústria é um ambiente favorável ao investimento industrial, como crédito barato (assim como é feito com a agricultura), simplificação dos tributos e encargos, eliminação de obrigações fiscais e trabalhistas descabidas e revisão da NR12; infraestrutura básica que garanta acesso aos meios de produção (água, energia, tratamento de efluentes, logística de escoamento, qualificação de mão de obra); estímulos e acesso à inovação e qualificação das empresas; acordos de comércio que criem acessos privilegiados a mercados consumidores relevantes, como Europa e América do Norte. Não é possível continuar dando estímulos apenas ao agronegócio para exportar bens primários, como minério, petróleo, algodão em pluma, couro, celulose, grãos etc., para depois sermos obrigados a importar bens industrializados, como automóveis, gasolina, roupas, calçados, alimentos. Esses incentivos devem ser estendidos também à indústria de transformação que, literalmente, como seu próprio nome diz, transforma ‘terra em ouro’, ou melhor, minério em automóvel, fibra em roupas, entre outros, gerando muito mais empregos e renda. Para ter uma ideia do tamanho da oportunidade desperdiçada pela falta de política industrial no Brasil, basta comparar o valor gerado por nossas exportações de fibras, algo em torno de US$ 2 o quilo, com o valor gerado pela exportação de roupas pela nossa indústria, perto de US$ 48 o quilo. Ao exportar apenas matérias-primas, abrimos mão de gerar 24 vezes mais receitas, sem falar no emprego. Por isso mesmo, em minha opinião, abrir mão da indústria de transformação no Brasil é um crime que nenhum governo tem o direito de cometer.”

Marcelo Villin Prado, sócio-diretor do Iemi e membro do Comitê Têxtil da Fiesp.

 

“O Brasil poderia ser um exportador de moda, tem tudo para isso, ótimas empresas, ótimas matérias-primas, mão de obra em abundância espalhados por todo o país, ótimo design e marcas fortes. No entanto, inexiste qualquer política nesse sentido, já que nosso setor não foi visto como estratégico, do ponto de vista econômico, pelos governos até agora.Portanto, seria uma ótima oportunidade que os postulantes ao cargo máximo pudessem se assessorar melhor de informações sobre a indústria da moda brasileira e comprovar que temos um potencial enorme de crescimento, geração de empregos, geração de impostos. Quem sabe assim conseguiremos exportar nossa moda, com nosso design, para outros países consumidores.O grande desafio, portanto, está em despertar o interesse dos governantes pela enorme indústria da moda brasileira.”

Sergio Pires, presidente da Câmara da Indústria da Moda da Fiesc e diretor da Tecnoblu

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/28/materia/especial.html

Exibições: 985

Responder esta

Respostas a este tópico

Todas opiniões são convergentes: Estancar a desindutrialização. Que se unam na cobrança. E tudo é urgente!

   O Brasil poderia ser um exportador de moda, tem tudo para isso, ótimas empresas, ótimas matérias-primas, mão de obra em abundância espalhados por todo o país, ótimo design e marcas fortes.

Concordo com Alberto Hiar, CEO da Cavalera.

Em síntese resume como penso: Somos desorganizados, arrecadamos pouco.

Como você trataria um cliente que está nas últimas colocações da classe C de uma curva ABC de faturamento? Quanto de atenção e cuidados você alocaria de sua equipe para cuidar desse Cliente? Essa é nossa colocação na arrecação interna estatal- federal. Veja informes da Secretaria da Fazenda. Veja também a listagem das empresas importadoras, do MDIC, que são obrigadas a recolher impostos para liberação nos portos - que mediante qualquer manobra, já é maior que o que recolhemos em equivalentes na produção interna; compare os últimos 4 anos e você verá quantas empresas têxteis, do vestuário e de varejo de roupas aparecem importando e sua evolução.

Durante anos, esnobamos nossa habilidade de driblar os encargos fiscais e como narcisistas nos achávamos o máximo surfando nas barreiras fiscais e fechadas, batíamos no peito de ser tão ruim quanto nosso concorrente, afinal porque melhorar? Olhávamos para o outro lado, quando na década de 90, aproveitávamos o deslocamento da produção para regiões de mão-de-obra barata e condições "suportáveis" de trabalho e fazíamos leilões de mão-de-obra, existente ainda hoje. Durante anos, olhamos nossos umbigos e nos achávamos criativos e protegidos pelo Estado; agíamos como filho mimado.

Não acreditamos quando nos falaram do fim do acordo multifibras, da abertura fiscal do país, da necessidade de produtividade , achamos que o PNQ, a gestão profissional era coisa de quem não era do ramo; afinal nunca nada disso aconteceria; e no "mundo têxtil não era assim". Acreditamos que teríamos a mesma chance que tivemos após a abertura do Collor, caso acontecesse outra vez...

Fizemos a parte fácil. Tomamos empréstimos, compramos máquinas , mas continuamos achando, de cima de nosso narcisismo e criatividade brasileira, que o talento e conhecimento já tínhamos o bastante. Afinal o jeitinho brasileiro "quebrava" o quadril duro dos países desenvolvidos; " gente tinha que levar vantagem em tudo, certo?" (culminamos naquele 7 x 1 , real no futebol e simbólico para o narcisismo nacional).

Confiamos que nada iria mudar.

O que estamos passando é reflexo das ações que tomamos no passado. Apostamos no continuísmo e perdemos. Achamos que éramos dono do quinto maior mercado mundial, das 9 bilhões de unidades/ano de produtos têxteis no Brasil.

Não precisámos exportar...afinal pra quê? Porque crescer mais que o consumo vegetativo do mercado nacional? Porque ter que competir no mercado externo? Ter que aprender como exportar e se submeter às exigências dos "gringos esnobes" que querem qualidade e prazo de entrega? Prá que? O mercado interno era grande e lucrativo. Durante anos, fomos reféns de fornecedores: tivemos que ser amigos de representantes sob pena de não ter fornecimento; aliciar estruturas de empresas monopolistas. Exportar? Só quando havia excedente ... "os gringos que se ferrem"...vendo quando quero....não precisávamos do mercado externo.

Nadamos de braçada no mercado interno, e esquecemos os óculos para miopia.

E deu no que deu...

Não adianta esperar nada dos governos...somos péssimos clientes...temos que ser clientes mais atrativos para sermos melhor tratados. Não usemos os nossos 1,6 milhões de empregos...já fomos no ano passado 1,7 milhões e 3 milhões em 1995....e o país nem tomou conta disso...o desemprego caiu...e hoje não encontramos mão-de-obra...e porque se estimular mais empregos num setor que arrecada pouco?...outros setores o rentabilidade dos empregos é maior... Você realmente acha que algum governo irá tirar o seguro-desemprego e o bolsa família e tantos outros benefícios que estimulam o não-trabalho? Afinal hoje se ganha mais ficando em casa ou na cadeia do que trabalhando. A diferença está no que o trabalhador julga como correto para sua vida, que diga-se de passagem, cada vez mais está se achando que trabalhar não vale a pena.

Temos que escolher: se quisermos continuar chorando daqui a 5 anos...vamos continuar achando que o governo vai resolver nosso problema...se quisermos ter esperança daqui 5 anos, vamos tentar unir o setor em torno de uma pauta, que as instituições representativas se unam primeiramente e deixem de fazer campanhas políticas ,parem de depender e "usufruir" das verbas estatais, não precisam...tem sua própria fonte de arrecadação paraestatal e de classe. Defendam interesses do setor e não pessoais, empresas, ou de suas instituições.

Não adianta cada um de nós pedir o que for melhor para nossos negócios em particular, sem pensar especificamente na nossa cadeia produtiva, e nem tão não genericamente. Defendamos nossos interesses e quando conveniente nos unamos a outros setores.

COMO SEMPRE A CULPA E DO GOVERNO, ACORDEM ACOMODADOS, O TEMPO DE COMPRAR POLIESTER DA CHINA POR CENTAVS E VENDER A PREÇO DE OURO, JA FOI, A SAIDA ESTA NA CABEÇA DE VOCES QUE TEM QUE SAIR DA ZONA DE CONFORTO E IR A LUTA, JA TEM EMPRESARIO PROCURANDO INOVAÇOES E ESTES E QUE VAO SOBREVIVER, O RESTO VAI MORRER TUDO, NAO FICA PEDRA SOBRE PEDRA, PODE SER O GOVERNO QUE FOR, NEM O DA DILMA QUE E ODIADO POR 90% DO SETOR APESAR DE SER O UNICO QE APRESENTA PROPOSTA, MAS NEM A PROPOSTA DELA RESOLVE, PORQUE O PRBLEMA NAO E O GOVERNO E O EMPRESARIADO, ACOMODADO, ACOSTUMADO A FAVORES PESSOAIS E NUNCA FORAM BUSCAR BENEFICIO PARA O SETOR E SIM ATRAVES DE AMIGOS NO PODER CONSEGUIAM FAVORES ISOLADOS, PERDERAM ESTES AMIGOS, PORQUE O PODER MUDOU DE MAO E AI ESTA O RESULTADO, MAS COMO EU DISSE ANTERIORMENTE QUEM ESTA QUERENDO INOVAR OU JA ESTA INOVANDO, ESTES VAO SOBREVIVER, AQUI NA PARAIBA TEMOS FABRICAS DE MEIA MALHA FIO 30 PENTEADO, COM LOJISTICA RUIM, O PROCESSO DE VENDA ARCAICO E MESMO ASSIM VOCE TEM QUE FICAR NA ESPERA POR 45 DIAS PARA TER O PRODUTO E AI SE ESTA ESTA ASSIM COM FILA DE ESPERA, PORQUE O SETOR ESTA QUEBRADO? AGORA SE QUEREM SABER É PROVAVEL QUE ESTA TAMBEM VA ENTRAR EM CRISE, TEM PRODUTO BOM, AS O RESTANTE E PESSIMO, NO DIA QUE CHGAR UM CONCORRENTE A ALTURA, COM LOJISTICA E ATENDIMENTO BOM, ESTA VAI QUEBRAR TAMBEM, O MESMO E EM RELAÇAO A FIAÇAO, NAO ACORDARAM PARA AS MUDANÇAS, COMO DIZ NOSSO HINO NACIONAL, CONTINUAM DEITADOS ETERNAMENTE EM BERÇO ESPLENDIO 

Qdo os empresários da cadeia produtiva textil vão se tocar que nenhum governo, qualquer que for,não vai fazer nada pelo setor, enqto não houver uma união verdadeira de todos. Vcs acham que eles(governantes) vão se preocupar com um setor que emprega muito,mas arrecada pouco, e alem do mais paga bem mal seus empregados, bem abaixo da média de salários dos demais segmentos produtivos. Hoje o segmento textil está com dificuldades se precisar contratar mão de obra. Vejam o deficit no Brasil de costureiras, operadores em geral de maquinas texteis em todos os segmentos da cadeia produtiva, inclusive de se contratar representantes/vendedores para a venda de seus produtos. Foi-se o tempo em que se vendia a produção toda para meia duzia de grandes atacadistas. Cadê esses atacadistas? Ou mudamos a nossa mentalidade empresarial ou pelos vamos colocar um óculos para podermos ver  melhor qual é a realidade do mercado textil em geral e sairmos da miopia que nos afeta e sairmos tb da zona de conforto que estávamos acostumados como foi dito nas respostas que já tivemos.

   Quem sabe assim conseguiremos exportar nossa moda, com nosso design, para outros países consumidores.

prezado romildo, que moda? que design? quem tem capacidade quase nao chega la, porque o investimento e grande demais e um retorno muito demorado, quem esta indo la pra fora sao os que tem dinheiro, porque a empresa ja vem de familia rica, porem vivem de copiar, o que eles chamam de homenagem ou qualquer outro nome que dao para plagio, este seu portal ja publicou alguns, estes alem de nao terem talento nenhum chegam la atraves de incentivos do governo que eles metem o pau e ainda queima o mercado dos que poderiam chegar la fora pelo seu talento, lembra do caso do bon marché? realmente o brasil tem talentos mas estes nao tem como aparecerem nas semanas de moda, que hoje nao investe na busca de novos talentos, virou uma prostituta viciada que quem pagar leva, esta e a situaçao da moda brasileira, portanto nem espere que exportaçao nao vai ser a saida, a saida esta aqui, cade o linho? cade a seda? cade as misturas de fibras naturais? nos temos tudo isto, mas voce conhece algum empresario do setor que esta investindo em pesquisa textil? tentei muito desenvolver um fio de algodao colorido com seda natural, pois se um fio ou um tecido com esta composiçao em uma feira de moda certamente teria fila pra comprar, procura uma empresa que queira fazer um investimento de 200 mil reais pra ver se voce encontra, depois vao chorar  na porta da presidencia pedindo favores, voce daria credito pra eles? voce os ajudaria? 

  Indústria sucateada e deixada de lado: quem poderá resolver o problema das confecções?

Dª Francisca, a sra. ficou de enviar-me maiores informações sobre a Cotton, que mostrei interesse em ser franqueado. Aguardo.

bom dia antonio, estou fora do brasil, chego pra semana elhe retorno

Responder à discussão

RSS

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço