Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Exclusivo: Os detalhes da última coleção Prêt-à-porter de Jean Paul Gaultier.

As famosas camisetas marinheiro de Jean Paul Gaultier @ IGI AYEDUN

Sempre tive muito medo de escrever sobre moda. Não me lembro de já ter confessado antes, porém essa é a verdade. Uma das razões é porque sou muito jovem e jornalismo é uma responsabilidade muito grande. Ainda mais em meio a uma era de informações saturadas e looks do dia! A moda tem repertório demais e sempre me sinto acanhada em falar sobre algo que de fato não vivi. Medo da tal arrogância que muitos arrogantemente afirmam assolar minha geração. Mais medo do que parecer, medo de ser.

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Detalhe de bordado da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Contudo, o mais bacana em ser jovem é o entusiasmo enquanto a chave está em como canalizar esse sentimento. Insônias de pesquisas vasculhando a história, lendo e relendo textos que amo como os de Alcino Leite Neto, Constanza Pascolato, Eric Wilson, Vivi Whiteman, Mário Mendes, Regina Guerreiro, Vanessa Friedman, Renata Piza, Robin Givhan, Maria Prata, Cathy Horn e Gayegos. Não concordo sempre, mas desrespeito jamais! Aproveito para registrar aqui minha insatisfação sobre o fato da maioria desses nomes nacionais produzirem atualmente pouquíssimos textos de moda para internet. Será que eles (ou seus editores) realizam o mal que poderiam combater?

Vestido da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Em cobertura para a revista Elle estive no desfile de despedida do Prêt-à-Porter de Jean Paul Gaultier na última temporada. Para quem não sabe, a partir de agora o designer vai se dedicar inteiramente à sua linha de Alta Costura e ao sob-medida. Espetáculo, badalação e glamour à parte, o melhor de tudo foi estar ali, ainda jovem e presenciar uma transição de eras.

Detalhe de estampa e bordado da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Há um tempinho também fiz uma visita no QG do Jean Paul Gaultier para conferir os detalhes dessa coleção histórica, incluindo desfile, masculino, infantil e resort. Em bate-papo com o Diretor de Relações Públicas da grife, questionei a possibilidade de Gaultier realizar futuras colaborações com outras marcas do setor e ele me confirmou que inúmeros convites chegam todos os dias. Ou seja, vai rolar! Todavia, segundo ele, JPG conheceu o prêt-à-porter de maneira não correspondente ao formato atual e muito menos ao que ele acredita enquanto moda e criação. Formato atual eu entendo por: A quantidade de coleções que um designer deve realizar por ano, as novas dinâmicas de produção x consumo e o tsunami antropofágico da #fastfastfastfashion.

Detalhe de bordado e bermuda da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Quando Jean Paul Gaultier começou a fazer moda nos anos 70 como assistente de Pierre Cardin, as interações sociais giravam em torno de conceitos de liberdade. Entre eles, a liberdade sexual dos hippies e o “Faça você mesmo” dos punks, que em conjunto com outras movimentações políticas e culturais despertaram o direito consciente de ir, vir, ser e não ser. Essa “escola” contestadora de como ver o mundo foi a que educou Gaultier que ainda aos 24 anos fundou sua própria marca. E mesmo que seu primeiro desfile tenha sido um verdadeiro fiasco, a maximização dos ideais de contra-cultura dos anos 80 revelaram o estilista para o mundo.

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Detalhe de bordado da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Versão 2.0 do look icônico de Madonna na coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Ironia, esse é o lema! Jean Paul Gaultier encontrou no humor um jeitinho de destilar toda a sua criatividade, a receita da subversão de valores convencionais e a partir de então passou a atender pelo codinome “L’enfant terrible”. E assim, caíram-se os padrões. Da celebração pela beleza imperfeita da terceira idade até o culto à celebridades not tasteful como Beth Ditto e Conchita Wurst, incluindo a veneração pelo corpo feminino através do soutien imortal de seios pontiagudos de Madonna e outros feitos como o figurino do longa “O quinto elemento” de Luc Besson e suas colaborações com o cineasta Pedro Almodóvar.

Bolsas lata da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Paletós da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

A coleção de verão 2015 foi dividida em blocos. Em geral, uma ‘retrospectiva’ de suas criações mais icônicas. E é claro, que as listras marinheiro apropriadas como clássico JPG desde sua coleção “Toy Boy” em 1983 não poderiam faltar. Entretanto, quase nada me chamou mais a atenção do que o bloco esportivo Ciclismo x Automobilismo, de conjuntos, vestidos e bodies que exibiam a frase “Loco Logo”. A tradução é bem literal – “Logo Louco” – já a intenção de JPG ao dedicar uma parte de sua coleção de despedida ao trocadilho, nem tanto. Seria essa, a sua forma de criticar o que uma label de luxo representa nos dias atuais? Ou em o que se transformou o império do consumo que a cada dia nos revela novos casos estarrecedores de mão-de-obra escrava e/ou infantil? Ou talvez, o indagar sobre o que significa luxo contemporâneo e onde a moda se posiciona? Pois é, a se pensar…

Vestido da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Contudo, essa personalidade subversiva onde nada deve ser banal consagrou JPG como um dos maiores gênios da moda ainda vivos e também influenciou muitas gerações sucessivas, desmitificando a ditadura da moda e abrindo alas para diversidade em todos os gostos e estilos. Hoje, seria saudosismo gratuito da minha parte dizer que o tal fashion perdeu a graça. Sou jovem e prospecto o futuro com a mesma emoção da geração Gaultier do passado. Mas se JPG ao sair do calendário de Prêt-à-porter declarou ‘missão cumprida’ sabendo, claro, que ainda há muito o que fazer, a pergunta que fica é… De onde pegamos o bastão?

Vestido da coleção de verão 2015 @ IGI AYEDUN

Acho que não saberia responder de imediato e pode ser que Jean Paul Gaultier tenha mais a contribuir na busca por essa resposta. De qualquer forma não entre em pânico! A vida continua e parafraseando José Gayegos… “Os gênios apenas fingem que morrem.”