Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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ÉTICA, POR ONDE ANDA VOCÊ?

 

Tomando como exemplo o desastre de Rana Plaza, em Bangladesh, no qual grifes internacionais como Primark, Benetton, Carrefour e Mango produziam, só para citar algumas, mais de 150 marcas europeias e 14 americanas, como H&M e Mango, assinaram o Acordo de Segurança em Construções e Incêndios em Bangladesh (AccordonFireandBuildingSafety in Bangladesh), um contrato que vincula juridicamente as marcas e sindicatos do país, fazendo relatórios públicos e inspeções independentes nas fábricas. A marca americana Gap recusou-se a assiná-lo.

Fernanda Simon diz que AmirulHaque Amin, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores de Bangladesh, afirmou certa vez, numa manifestação em Londres, o seguinte: “Acho que é realmente difícil afirmar que exista uma fábrica ética em Bangladesh. Como sindicato, não podemos dizer isso. Podemos simplesmente dizer que as fábricas estão se movendo em direção a melhores condições”.

Sabemos, infelizmente, que isso está longe de acontecer e que a prática de produção antiética funciona a pleno vapor em diversos países, especialmente nos mais pobres, que se vendem a preços indecentes, trabalhando a qualquer custo, literalmente. No Brasil, os casos estão se tornando recorrentes e notórios nos últimos anos, em particular com imigrantes – bolivianos, peruanos, paraguaios – flagrados pelo Ministério Público do Trabalho trabalhando em condições degradantes e análogas à escravidão, costurando para marcas famosas como M.Officer, Zara, Renner, Pernambucanas, Le Lis Blanc, Luigi Bertoli e Emme (essas duas últimas do Grupo GEP, detentor da Gap no Brasil), entre outras. Apesar de o país não ser dos piores, isso não é pretexto para não corrigir o que há de errado.

De qualquer forma, a questão da ética vai além da trabalhista (salários e cargas horárias justas, condições mínimas de segurança, alimentação etc.), pois essa é só uma das esferas desse universo produtivo na confecção. Como já citado anteriormente, háo consumo excessivo de água e a poluiçãogerada pela indústria, os resíduos e seu descarte e todo o impacto gerado nesse percurso, especialmente o valor humano. O ciclo precisa ser completo.“Com a situação precária e a alta demanda de produção de roupas baratas, o processo de transformação será lento e longo. Contudo, mesmo sem grandes mudanças, a mídia está mais alerta. ONGs trabalhistas ganharam força e, assim, a população vem tendo mais acesso a esse tipo de informação escondida em suas roupas”, acredita Fernanda Simon.

Preços baixos de roupas a um alto custo humano são fatores que não combinam, mas, no calor da hora da compra, o fator “pechincha” fala mais alto para a grande maioria dos consumidores. E aí vem o dilema: as empresas precificam mais barato para vender mais, ou os consumidores compram mais por ser mais barato? “Ambos”, diz Fernanda Simon. “Infelizmente, essa pressão se inicia na sociedade. Costumo dizer que é um fenômeno chamado ‘alienação cultural’. As empresas, em busca de mais lucro, criaram um modo apelativo de ditar padrões. Os consumidores se acostumaram a comprar sem pensar e, geralmente, têm o preço como fator decisivo. Roupas sem qualidade e feitas por trabalhadores em condições desumanas, deixando trágicos rastros ambientais, são vendidas com uma publicidade convincente. No entanto, acredito que o consumidor não deve aceitar tais práticas e exigir transparência”, reflete.

Fernanda lamenta que o lucro ainda fale muito mais alto do que as questões humanitárias e ambientais para as marcas que continuam com essas práticas, mas destaca que as pessoas começaram a perceber que não dá mais para fechar os olhos frente aos absurdos que as empresas cometem em prol de preços baixíssimos, o que só leva ao consumo exagerado e a ganhos gananciosos. “Para ter uma ideia de como já visualizamos as mudanças que estão a caminho, todos os nossos posts do Fashion Revolution Brasil no Facebook que destacam denúncias de marcas que ainda se favorecem com o trabalho escravo são, de longe, os mais visualizados e compartilhados”, revela.

 

CONSCIENTIZAÇÃO: PALAVRA-CHAVE

 

Com toda certeza, a intenção de uma pessoa quando compra alguma roupa, calçado ou acessório é ficar bem consigo mesma, se embelezar, presentear alguém, e não a de prejudicar quem o confeccionou. Pelo contrário: imagina que está ajudando a marca, a loja, dando-lhe lucro, mas raramente passa por sua cabeça que possa estar alimentando um tipo de trabalho degradante, mesmo porque isso não está estampado em nenhum lugar à sua vista.

Mas, para que ela saiba minimamente o que acontece com algumas marcas, é preciso divulgar de forma mais eficiente e cobrar das autoridades atitudes mais firmes e exemplares, mostrando isso ao grande público para abastecê-lo de informações e da opção de levar ou não levar o produto.

Fernanda Simon diz que uma pesquisa recente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) sobre hábitos de compras no país revelou que um entre três brasileiros compra roupas novas todo mês, sendo que a maioria não tem interesse em saber a origem dos produtos.

Além dessa questão da origem, outro problema é o consumo “automatizado”, sem parar para pensar se aquela compra é realmente necessária, mas, novamente, o “porque é lindo, está baratinho, todo mundo está usando e eu tenho que usar também” entra em ação.

“Conscientização é a palavra-chave”, afirma Fernanda. “Vivemos numa sociedade que nos bombardeia com informações que nos induzem ao consumo inconsciente. O modelo social dificulta o entendimento de que a “insustentabilidade” pela qual nosso planeta passa está diretamente relacionada às ações do dia a dia, inclusive fortemente relacionada à maneira como consumimos”, completa.

Ela lembra que, no sistema atual, os produtos são programados para acabar rapidamente, induzindo ao consumo, aumentando a quantidade de lixo e químicos, ao mesmo tempo em que recursos naturais e matérias-prima estão se esgotando. Mas, com as informações certas, cada pessoa pode, de acordo com suas necessidades e possibilidades, consumir de forma mais adequada, optar pela produção local, reusar, reciclar, reformar. “Também é preciso exigir transparência das empresas em seus processos produtivos, para que busquem práticas justas que respeitem os indivíduos e o meio ambiente, sem visar ao lucro a qualquer custo.”

Não é preciso parar de comprar, mesmo porque precisamos repor itens necessários. É só observar de que forma estamos fazendo isso.

 http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/30/materia/especial.html

Por Silvia Boriello

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Respostas a este tópico

No Brasil foi criado uma escravidão legal,onde os direitos trabalhistas virão pó.

Resumo da operação:

Empresa tradicional com alto passivo trabalhista;é desmembrada do grupo,criada uma nova razão social,depois de consolidada o controle acionário e passado para um grupo ou empresa sem patrimônio,depois de uma gestão deficitária esta pede recuperação judicial,resumindo o direito trabalhador virou"PÓ"com amplo apoio das leis.Se você pesquisar a historia recente principalmente em Americana/SP,vai ver muitos casos que comprovam esta afirmação.Tome cuidado ao dirigir em Americana esta todo mundo cego.

É só acabar com o capitalismo.

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