Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Quem um dia foi rei nunca perde a majestade, já dizia o ditado. Eis aí novamente Dona Zara desavergonhada e se sentindo ecológica, usando algodão orgânico na coleção que está nas araras do Shopping Iguatemi de Fortaleza – CE (e se espalhando igual praga egípcia pelo resto do Brasil). A audácia é tão magnânima, a arrogância é tão majestosa, que a fast-fashion usa algodão orgânico sim, mas produz em Bangladesh, com a famosa mão-de-obra escrava da moda – da qual sabemos absolutamente, mas fechamos as pálpebras cerradamente.

Essa postura da empresa não é nenhuma resposta para o movimento Fashion Revolution (que surgiu em 2014) nem para organizações sociais do gênero (que vieram no vácuo), as quais buscam esclarecer a sociedade sobre o impacto negativo da cadeia de valor dos produtos de moda. Há pelo menos quatro anos, a Zara vem fazendo exatamente isso que ela continua fazendo: colocando algodão orgânico, pra se dizer ecológica, e produzindo com mão-de-obra em condições análogas às de escravidão.

Confira a coleção verão 2016 Zara:

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Zara: organic cotton made in Bangladesh

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Tag hipócrita: “Esse algodão foi cultivado unicamente com produtos naturais que respeitam você e o meio ambiente”. Aham, até parece!

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79 reais… Sem comentários!

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Estilo marinheiro (ou “navy”, que segundo a colunista eco-lelé da Vogue é um estilo “ecofriendly”). Taí a clássica blusa de estilo francês, ou navy, ou eco-french ou eco-navy, o rótulo que preferirem, que transita na “moda atemporal”, feito de algodão orgânico por uma meia dúzia de faccionistas em Bangladesh que literalmente leva chibatadas para produzir a preço de banana.

Sinceramente, já cansou esse assunto. É falta de vergonha da empresa… É muito frissonzinho de consumo vulgar por parte do consumidor de moda, que quer vestir a última modinha barata. Até quando?

Bem, até quando eu não sei.

Mas sei a partir de quando.

O próprio Ethical Fashion Show, quando se estruturou com sua carta-manifesto em meados dos anos 2000 (e eu me lembro de ter escrito sobre isso precisamente em 2010) dividiu a feira em categorias éticas interdependentes. Inclusive alguns sites duvidosos de moda sustentável no Brasil seguem essa forma de categorizar assuntos e marcas, com tags e selos tais os da famosa feira de moda ética. Exemplos: “materiais orgânicos”, “moda que promove know-how”, “moda que investe em projetos sociais”, “materiais naturais”, “moda justa”, etc.

O lance é este: é o pensamento de tornar interdependente o atributo de “ético” dos produtos. Da mesma forma que uma mulher não pode estar “meio” grávida ou “em parte” grávida, um produto não pode ser “meio” ético” ou “em parte” ético. Então se a Zara, o site XY de moda sustentável brazuca ou a marca marqueteira de moda ecológica, ou a própria feira Ethical Fashion Show categoriza seus produtos como “ah esse aqui tem selo de materiais orgânicos, mas não necessariamente é feito de forma justa”, eu diria com toda a franqueza e pertinência – e dando a cara à tapa – que rigorosamente não são éticos. Estão todos meio grávidos, meio éticos.

A ética é por inteiro; “holística” os mais esotéricos argumentariam. Em uma frase: o produto deve ser inteiramente ético.

Então qual a vantagem ou relevância dessas categorias éticas anunciadas em selos, tags e #hashtags?

Bem, antes elas serviam para informar o consumidor sobre um valor do produto, serviam para setorizar a feira de moda, serviam em um mundo de poucos produtos de moda ética e de pouco esclarecimento. Hoje não, pois o mercado se tornou mais competitivo, assim como também amadureceu o esclarecimento do nicho de consumidores interessados nesse tipo de moda. Ou seja, hoje essas categorias éticas servem para explicitar a falta de coerência do produto autodenominado (e parcialmente denominado!) de ético, de sustentável. Servem para confundir o consumidor. Servem para o greenwashing, como a Zara faz tão bem. A crítica é para todos nós: temos que repensar como posicionar e informar os produtos de moda ética. Deve haver mais transparência.

http://modaetica.com.br/zara-contra-ataca-no-verao-2016-meio-etica-...

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A audácia é tão magnânima, a arrogância é tão majestosa, que a fast-fashion usa algodão orgânico sim, mas produz em Bangladesh....
A crítica é para todos nós: temos que repensar como posicionar e informar os produtos de moda ética. Deve haver mais transparência.

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