Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A escravidão promete retornar à África. Essa é a tendência. Se antes na História, tiramos negros da África para serem engrenagens em engenhos de açúcar e minas de ouro em diversos locais do mundo (o Brasil foi o destino infernal de milhares deles), a tendência dos próximos anos é alocarmos a a produção de moda no continente africano.

Com o mundo olhando para as questões éticas de produção no Sul e Sudeste Asiático, a ideia genial dos capitalistas é ir, aos poucos, alocando seus processos de manufatura de roupas em regiões paupérrimas da África. Ou seja, além dos navios-fantasmas que produzem em alto-mar (semelhante aos piratas da época do mercantilismo), sonegando imposto, omitindo condições trabalhistas, vamos voltar ao continente africano, mas para dessa vez fincar raízes sórdidas e extrair ainda mais o suor de miseráveis em condições análogas às de escravidão.

Embora façamos vistas grossas (e a mídia seja bastante omissa em informar, denunciar e tornar o assunto público), o tema da escravidão é recorrente. O tema é tratado de forma lúdica e instrutiva no site Slavery Footprint, em que se pode calcular quantos escravos trabalham para você com base no seu padrão de vida. Focando na moda, o App Moda Livre se propõe a informar em tempo real quais marcas, vendidas no Brasil, estão usando mão de obra em condições de escravidão. E em nível global, temos a campanha de conscientização do Fashion Revolution, bem como o recém-lançado filme True Cost, que se propõe a desnudar a cadeia de suprimentos miserável da moda.

Trazendo para o escopo acadêmico, no livro “A compra profissional de moda” (Shaw & Koumbis, 84-85 p.), o tema é tratado com a maior naturalidade, indicando mercados de produção de roupas baratas. Transcrevemos a seguir:

 

Problemas em compras

Um comprador de moda precisa estar sempre a par das mudanças que ocorrem em termos fabris pelo mundo. O crescimento de departamentos de compras especializados e de especialistas trabalhando em conjunto com os compradores de moda se deu devido às mudanças sísmicas que tiveram lugar nos processos de fabricação de roupas e tecidos com o advento da Segunda Guerra Mundial.

Em grande parte do mundo desenvolvido, os preços das roupas de moda caíram em termos reais ao longo das duas últimas décadas pelo fato de os consumidores terem se acostumado a comprar moda por preços muito baixos. Um comprador de moda tem margens de lucro previstas e está sempre tentando negociar o melhor valor para sua empresa. Entretanto, a busca por preços baixos por si só pode ser perigosa e talvez levar ao desenvolvimento de uma linha de moda medíocre.

 

A confecção das roupas baratas

Até hoje, a tecnologia não tem sido capaz de substituir as habilidades de costura à mão do ser humano. Devido ao grande número de técnicas usadas na confecção, que são insubstituíveis pela máquina, essa atividade acabou por ser, inevitavelmente, transferida para as nações com custos de produção mais baratos. Mesmo assim, há também desvantagens na produção de um vestuário barato e consequências ambientais potencialmente graves, tanto para as pessoas como para os países que confeccionam um produto de moda rápida.

A história da economia nos mostra que a mão de obra barata nos países ao longo do tempo se torna mais cara conforme o padrão de vida do trabalhador sobe. Em mercados relativamente baratos, como a Índia, há até mesmo indícios do que é chamado de “a corrida para o fundo”, pelos quais se sabe que os fabricantes se mudam para países ainda mais baratos como forma de reduzir seus custos.

 

Moda de preço baixo = POSITIVO

  • transporte e logística melhores e mais eficientes
  • desenvolvimento de operadores de varejo com valores baixos de despesas, por exemplo, lojas de descontos
  • maior ênfase na relação direta entre fabricantes e varejistas, resultando em menos agentes ou intermediários
  • um aumento geral na demanda por moda conforme consumidores do oeste se tornam mais ricos
  • Moda de preço baixo = NEGATIVO

    • clientes que vestem roupas baratas poucas vezes e depois se desfazem delas, levando à poluição e ao desperdício
    • cadeias de varejo do mercado intermediário encontram dificuldades em competir em termos de preços, resultando no fechamento de empresas, no aumento no desemprego e na redução de lucratividade
    • clientes que abandonam roupas de qualidade e que duram, de forma que qualidade e estilo caem por terra, para o nível básico

     

    Compras globais

    Cada região do globo oferece oportunidades em potencial para se produzir bens de qualidade a um baixo custo. As áreas que apresentam preocupações crescentes aos varejistas são as leis trabalhistas internacionais e os salários de trabalhadores mais competitivos, que devem ser investigados antes de se concretizar acordos com fornecedores de outros países.

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    Mapa mundi

    Ásia e Índia

    As áreas de produção de vestuário mais importantes que hoje crescem rapidamente são China, Índia, Sri Lanka e Bangladesh. Outras áreas interessantes, que gozam de crescimento, são Camboja, Tailândia, Vietnã e Tibet.

    A produção de vestuário nesses países sempre tende a migrar a países vizinhos que possuam uma oferta de mão de obra abundante, mais barata e imediatamente disponível.

     

    Europa Ocidental

    A produção de vestuário e tecidos na Europa Ocidental está sob forte pressão devido aos altos custos de mão de obra, especialmente no Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica, Países Baixos, Portugal e Itália. Nos locais desses países onde a indústria da moda ainda permanece, ela, geralmente, apresenta um caráter de alta qualidade, de alta-costura, com alto valor e/ou alta tecnologia. Ou, é usada só para produtos de resposta rápida. O uso de mão de obra imigrante ilegal é muito comum na Europa para produção de produtos baratos.

     

    Europa Oriental

    A Turquia é uma região importante na produção de vestuário, assim como outros países da Europa Oriental como Chipre, Hungria e Romênia. Esses países também sofrem com a concorrência de preço, característica da produção asiática e indiana barata.

     

    África e Oriente Médio

    A África é o continente que apresenta o melhor futuro provável. A África do Sul é a maior nação produtiva do continente, mas a produção também tem se desenvolvido em vários países da África do Norte (e antigas colônias militares), notadamente Argélia, Marrocos e Tunísia.No futuro, espera-se que a África se torne a área de maior produção de vestuário e tecidos, pois apresenta um alto índice de desemprego que, por sua vez, apresenta um grande potencial de mão de obra de baixo custo. Algumas unidades produtivas especializadas em vestuário operam em países do Oriente Médio como Síria, Egito e israel, mas todos enfrentam a concorrência de preços da China.

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    Continente africano e Oriente Médio: destino para alocar produção de moda em condições análogas às de escravidão

    As Américas

    A indústria do vestuário e do tecido norte-americana (que já foi muito grande), originalmente se baseava na produção do algodão pelos estados sulistas, que decaiu como as da Europa. Uma grande e próspera indústria de fabricação de vestuário se desenvolveu, então, por toda a fronteira com o México, que continua ainda importante e próspera.

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    Mapa mundi do Mário Bros: é como se o mundo fosse uma grande brincadeira dos capitalistas da Moda.

    Referência

    SHAW, D.; KOUMBIS, D. A compra profissional de moda: da previsão das tendências a venda na loja. São Paulo, Gustavo Gili, 2014, 176 p.

  • http://modaetica.com.br/mapa-da-neo-escravidao-fashion-rumo-a-africa/

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Caro Romildo,

Se vê muita especulação, mas não é bem assim... Trabalho na África e posso falar com propriedade... Vejo que o continente está em pleno desenvolvimento e humanizando as relações capital x trabalho. A questão é, o capital sempre busca investir onde o retorno é maior, e a África é a bola da vez, como foi o Brasil, Leste Europeu, Ásia, etc em seus momentos para a Indústria Têxtil. Vejo que é um processo de desenvolvimento local e com a tendência á  uniformização dos padrões de riqueza internacional. Não vejo escravidão, vejo pleno emprego e uma tendência à distribuição de renda, tão importante para os pobres países africanos.

O que ocorrerá e está ocorrendo é que os países mais desenvolvidos estão migrando suas empresas têxteis para ramos diferenciados e de alta tecnologia, logicamente não cobrirá o nível de emprego dos tempos áureos, mas sobreviverão aqueles que tiverem garra, know how, inovação e maior capacidade de adaptação.

É assim que o mundo sempre funcionou e funciona até hoje!

Abraços!

Gilson

  

Moda de preço baixo = POSITIVO

  • transporte e logística melhores e mais eficientes
  • desenvolvimento de operadores de varejo com valores baixos de despesas, por exemplo, lojas de descontos
  • maior ênfase na relação direta entre fabricantes e varejistas, resultando em menos agentes ou intermediários
  • um aumento geral na demanda por moda conforme consumidores do oeste se tornam mais ricos
  • Moda de preço baixo = NEGATIVO

    • clientes que vestem roupas baratas poucas vezes e depois se desfazem delas, levando à poluição e ao desperdício
    • cadeias de varejo do mercado intermediário encontram dificuldades em competir em termos de preços, resultando no fechamento de empresas, no aumento no desemprego e na redução de lucratividade
    • clientes que abandonam roupas de qualidade e que duram, de forma que qualidade e estilo caem por terra, para o nível básico

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