Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A indústria do vestuário procura desvalorizar o potencial impacto da decisão do Banco Central da China de depreciar a moeda do Império do Meio, que atingiu, recentemente, o seu valor mais baixo face ao dólar americano em quase três anos. 

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A queda do império

Temores sobre o estado da economia chinesa sacudiram os mercados financeiros no final do mês de agosto, conduzindo a quedas subsequentes dos preços das ações.

Contribuindo para a crise, que começou no início deste mês com a decisão do Banco Central da China de desvalorizar o yuan à sua menor taxa face ao dólar americano em quase três anos, surge o quarto corte de taxas de juro desde novembro e os resultados frágeis da manufatura chinesa.

Dados divulgados recentemente demonstram que a atividade produtiva chinesa desacelerou, fixando-se no seu valor mais baixo em agosto, num momento em que a produção e novas encomendas são negociadas a taxas de juro elevadas.

O Índice Caixin China de Gestores de Compras (PMI na sigla inglesa) caiu para 47,1 pontos em agosto, em comparação com 47,8 em julho. Um índice acima de 50 significa atividades expandidas, enquanto um valor inferior a 50 indica a existência de uma contração.

Os componentes individuais do índice demonstram que a produção, as novas encomendas e as novas encomendas de exportação diminuíram a uma taxa mais rápida face ao mês anterior. Os preços de entrada e saída também baixaram a um ritmo mais acelerado, mas a queda da procura conduziu a um aumento das existências de produtos acabados.

Comentando os dados, He Fan, economista do Caixin Insight Group disse que o PMI indica «que a economia ainda está em queda. Porém, no cômputo geral, a probabilidade de um risco sistémico permanece sob controlo e a estrutura da economia continua a melhorar».

«Ainda existe pressão na manutenção das taxas de crescimento e, de forma a alcançar a meta estabelecida para este ano, o governo deve redefinir as políticas fiscal e monetária de modo a assegurar a estabilidade macroeconómica e acelerar a reforma estrutural. Isto conduzirá a uma maior confiança do mercado e à renovação do vigor da economia», revela Fan.

Para o sector têxtil e de vestuário, a desvalorização da moeda poderá beneficiar as exportações da China, devido aos preços mais baixos. No entanto, no reverso da moeda, os retalhistas e marcas que expedem mercadorias para a China devem amortecer o embate na margem ou aumentar o preço dos produtos.

Exportadores chineses saem ilesos
O gigante de Hong Kong Li & Fung revelou que a desvalorização do yuan poderá, eventualmente, impulsionar a empresa, uma vez que esta adquire bens de exportação na China, em dólares norte-americanos. No entanto, esse benefício está ainda por se fazer notar, uma vez que o yuan não desvalorizou significativamente. Desde 21 de agosto, a moeda caiu para 6,39 yuans face a um dólar.

«Não vejo [o Banco do Povo da China (PBOC)] a optar por uma grande desvalorização», sustenta William Fung, presidente da Li & Fung. «Teria de ser superior a 10% para afetar as exportações», explica.

Um influente exportador de vestuário chinês admite que o yuan não deverá influenciar os seus preços de exportação no curto-prazo. O representante de vendas da Siris, um fabricante de malhas sediado na província de Zhejiang, que figura entre os 50 maiores na China, assinalou, recentemente, que a empresa tem vindo a indexar a taxa de câmbio do yuan face ao dólar em 6,90 e não planeia fazer qualquer ajustamento. Isso significa que há um amplo espaço para uma desvalorização adicional até que os preços de venda da Siris sejam afetados.

Paralelamente, a Li & Fung apontou as pressões decorrentes do ambiente deflacionário e a depreciação da moeda europeia entre as principais contrariedades enfrentadas pela empresa no primeiro semestre do ano.

EUA em sinal divergente
A desvalorização da moeda chinesa representa uma mescla de riscos e oportunidades para as empresas de vestuário e têxteis americanas.

Por um lado, as exportações de vestuário chinesas deverão embaratecer, enquanto as importações de produtos provenientes dos EUA, como o algodão e o fio, se irão tornar miais dispendiosas, afrouxando o interesse de fabricantes chineses em comprá-los.

Jon Devine, economista-sénior da Cotton Incorporated, afirma que «a transação alterou-se em 3% desde que o governo chinês efetuou as suas mudanças. Nas importações de fibras para a China, que são cotadas em dólares americanos, um yuan mais fraco encarece a fibra, sendo necessária maior quantidade de yuans para igualar o mesmo valor expresso em ólares». Julia Hughes, presidente da Associação da Indústria da Moda dos Estados Unidos (USFIA, na sigla original), revela que, até ao momento, testemunhou uma reação silenciosa à situação cambial por parte dos membros, habitualmente ruidosos, da sua organização. «Talvez seja, efetivamente, muito cedo para dizer como isto se irá desenrolar», acredita Hughes. No entanto, refletindo a instabilidade do mercado de ações de hoje, acrescenta que «talvez o impacto real se reflita sobre o que acontece com os mercados de ações no mundo».

Hughes refere ter participado, recentemente, na convenção Men’s Apparel Guild in California (MAGIC, na sigla original), em Las Vegas, e que «ninguém testemunhou, realmente, o impacto particular da desvalorização. Talvez isso se deva, em parte, ao facto de não saberem o que se segue».

Olhando para o futuro, Hughes acredita que o impacto para a indústria de vestuário americana poderá tornar-se mais pronunciado se outros países seguirem o exemplo da China e optarem pela desvalorização cambial. O Vietname tem, também, efetuado várias desvalorizações recentemente.

União Europeia incerta
As empresas têxteis e de vestuário da União Europeia serão duramente afetadas pela desvalorização, e, consequentemente, o aumento das exportações da UE alimentadas pela desvalorização do euro em 2015 podem amenizar ou até mesmo estabilizar, prevê um especialista da indústria.

Em 2014, a China tornou-se a quarta maior cliente da UE depois da Suíça, Estados Unidos e Rússia, exportando 2,85 mil milhões de euros de vestuário e têxteis, de acordo com Roberta Adinolfi, gestora de economia e de estatística da Euratex. Isto representa um crescimento de 10% das exportações face aos 2,6 mil milhões de euros auferidos em 2013.

Mas atualmente um yuan desvalorizado poderá «afetar significativamente as empresas têxteis e de vestuário da UE, em particular aquelas para as quais a China é um importante mercado de exportação», diz Adinolfi.

Por outro lado, as exportações da China para a UE têm a ganhar graças a preços mais baixos. «A China já é o primeiro fornecedor de produtos têxteis e de vestuário da UE, e é-o, predominante, no segmento de moda feminina com 11 mil milhões de euros auferidos no ano passado. A China foi responsável por quase um-terço dos têxteis de importações da UE e 39% das importações de vestuário em 2014». E, «agora, a China poderá aumentar ainda mais as suas exportações para a UE, conquistando quota de mercado adicional a outros mercados asiáticos, como Índia, Bangladesh e Vietnam», acrescenta. «Isto representaria o aprofundar do défice comercial da UE face à China. Recentemente, o défice atingiu os 27 mil milhões de euros em artigos de vestuário e 7 mil milhões de euros em produtos têxteis», conclui Roberta Adinolfi.

http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/45011/xmview/...

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    Em 2014, a China tornou-se a quarta maior cliente da UE depois da Suíça, Estados Unidos e Rússia, exportando 2,85 mil milhões de euros de vestuário e têxteis.

   A desvalorização da moeda chinesa representa uma mescla de riscos e oportunidades para as empresas de vestuário e têxteis americanas.

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