Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Sob medida: Daniel Alfaiate e suas quatro décadas costurando roupas e histórias

Prestes a fazer 40 anos na profissão, Daniel mantém tradicional alfaiataria no centro de Adamantina.

Daniel Alfaiate: 40 anos costurando roupas e histórias (Foto: Acácio Rocha).Daniel Alfaiate: 40 anos costurando roupas e histórias (Foto: Acácio Rocha).

Muitas profissões não estimulam as novas gerações a segui-las. Seja por questões culturais, pelas mudanças comportamentais ou pela lógica do consumo, a profissão de alfaiate é uma delas, porém, em Adamantina, ainda sobrevive diante das facilidades do mundo contemporâneo.
Hoje, o vestir-se é pautado, sobretudo, pela ampla oferta de moda masculina e feminina em qualquer vitrine de loja ou pelas lojas virtuais, que vão dos preços populares aos mais custosos, o que depende da capacidade da carteira de cada um.
Há roupas baratas e caras, bem elaboradas, simples, sofisticadas, e até descartáveis. Estas, pela origem, preço e materiais, têm uso limitado.  Esse é um dos fatores da nova lógica que ganhou força nas últimas décadas.
Por um lado, essa dinâmica fez reduzir a procura por costura sob medida. Por outro lado, fez aumentar a procura por serviços como ajustes, reparos, barras e manutenções diversas, em peças do vestuário.
Hoje, no balcão de atendimento de Daniel Alfaiate, em Adamantina, a busca é por confecções sob medida, sobretudo masculinas, e serviços diversos em peças do vestuário levadas por clientes, como barras, troca de zíperes e ajustes, entre outros, e por lojistas, para ajustes de barras, visando usar os serviços da alfaiataria para entregar um produto final dentro da necessidade de seus clientes.

Trio de alfaiates

Palmeirense, casado e pai de três filhos, Daniel Alfaiate (Daniel Perez Guerrero) é sucessor de Salomão Alfaiate (Salomão Perez Guerrero) na profissão, e mantém em funcionamento sua alfaiataria, na Rua Deputado Salles Filho, centro de Adamantina.  Daniel é alfaiate desde 1976, o que fará completar em 2016 quatro décadas entre linhas, agulhas e tesouras.
São três irmãos na família que se dedicaram ao ofício. Hoje, somente Daniel está na ativa, sendo que Salomão desenvolve outras atividades profissionais, em Ribeirão Preto, e Elias Alfaiate (Elias Perez Guerrero), que fazia dupla com Daniel, já é falecido.
Daniel lembra que Salomão exercia a profissão desde 1967, quando passou a ensiná-lo, bem como o irmão Elias. “Ele dizia para que pegássemos firme na profissão, porque um dia ele iria parar e nós daríamos prosseguimento, como assim aconteceu”, disse. Hoje, sua mulher, Regina Roncolato Perez Guerrero, é seu braço direito e apoio na alfaiataria.

Cliente valoriza

Daniel Alfaiate tem uma ampla carteira de clientes, muitos dos quais fieis, que confiam a ele, há décadas, a tarefa de produzir roupa sob medida. “Nossa mão-de-obra tem mais qualidade, além de conseguirmos produzir sob medida, no modelo e no tecido escolhido pelo cliente”, diz. Entre os diferenciais em uma calça sob medida, por exemplo, Daniel destaca a possibilidade de barras italianas e pregas, que dão personalidade à peça.
Além da confecção personalizada, Daniel destaca o volume de outros serviços. “Antigamente as pessoas compravam os tecidos e mandavam fazer a calça, e hoje as pessoas compra um jeans e mandam fazer a barra. A confecção pronta é a que domina”, relata.
Um dos destaques desse trabalho é a barra em calças jeans, onde Daniel aplica uma técnica quase imperceptível, que garante as características originais da peça. “Aperfeiçoamos bastante a nossa técnica ao longo dos anos, e hoje conseguimos fazer uma nova barra em calças jeans sem tirar a originalidade delas”, diz orgulhoso.
No desafio de atender bem, Daniel é enfático e preza por isso. “O que é mais gratificante é poder atender bem, no sentido de acertar plenamente as medidas”, revela. Esse é um dos segredos de tanta fidelidade, em uma relação de confiança construída ao longo dos últimos 40 anos.
Sobre o futuro da profissão, ele tem uma visão equilibrada. “Sempre vão existir os clientes mais tradicionais, que procuram por um serviço mais artístico, bem elaborado e com qualidade diferenciada”.
Enquanto tiver mãos hábeis e saúde plena, Daniel pretende manter-se na profissão, oferecendo atendimento com sorriso no rosto e brilho nos olhos, contribuindo assim para que muitas pessoas tenham prazer e sintam-se bem vestindo as roupas produzidas ou alteradas por ele.

O lugar

A alfaiataria de Daniel tem características únicas. Um dos destaques do lugar é um armário em madeira maciça, que está ali desde os primórdios. Na base do móvel, prateleiras abertas recepcionam as peças que dão entrada. Ao meio, gavetas com puxadores metálicos acomodam acessórios e urdimentos diversos, aplicados na costura. E logo acima, prateleiras fechadas com portas de vidro, de correr, são a vitrine do trabalho finalizado.
Na recepção um balcão com uma bancada de atendimento faz a conexão entre o profissional e seus clientes. Esses, com suas necessidades e expectativas, têm um único objetivo: vestir-se bem.
Ao fundo do salão uma segunda bancada, onde Daniel produz suas peças, risca tecidos, corta e finaliza. Empunha tesouras, que diferem em tamanhos, mas são precisas nos cortes, bem como os pesados e tradicionais ferros de passar – sem a modernidade dos equipamentos com vapor – que dão personalidade ao lugar.
Sem falar nas máquinas de costura, elétricas, por onde os tecidos são costurados, permitindo-se criar e alterar peças. É nessas máquinas que o projeto ganha formas, para depois vestir o corpo sob a qual a calça ou a camisa foram desenhadas, num ponto-a-ponto, fio-a-fio, que faz história há 40 anos. 
O lugar também é um ponto de encontro para costurar histórias e amizades, cortar o mau humor e fazer amigos. A pauta que predomina é o futebol. Os temas, os amigos, os clientes e os encontros se encaixam, como a “casinha” e o botão.

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Nos anos 40, meu pai montou em S.Caetano do Sul, sua Organização Cardoso, misto de alfaiataria e magazine.lembro que a loja sempre ganhava os premios da cidade, sobre suas vitrines elegantes e sua qualidade no vestir da sociedade sulsãocaetanense. Um dia nos anos 50, meu pai colocou um manequim, com um terno esquisito para a epoca, não tinha bolsos e havia uma pasta elegante, onde tudo era ali colocado. Nome- PERLATO, seguia uma explicação em cartolina- homens, não mais irão deformar os bolsos de sua vestimenta, enfiando suas mãos nas calças ou nos paletos. Ganhou uma entrevista na VOLGUE alemã fato inuzitado e comentado por muitos anos. Meu trazia pais,irmãos,primos,amigos, todos do norte e nordeste do Brasil, para trabalhar na alfaiataria, que me lembro bem, eram em 10 artistas da moda mascolina.

Romildo, voce de vez em quando me faz matar algumas saudades, não é a primeira.

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