Numa altura em que várias marcas procuram eliminar o hiato de tempo entre a apresentação das coleções e a sua oferta em loja, com a justificação de estarem assim a responder às necessidades dos consumidores – que esperam cerca de seis meses até poderem adquirir as peças vistas nas passerelles das semanas internacionais de moda –, o luxo francês mostra-se fiel ao calendário tradicional e nega o imediatismo adotado já por alguns dos grandes nomes da indústria (ver Burberry com nova velocidade e O regresso da Mulberry).
O comité executivo da Fédération Française de la Couture, du Prêt-à-Porter, des Couturiers et Créateurs de Mode reuniu os executivos da Dior, Chanel, Hermès e grupo Kering (proprietário da Gucci, Balenciaga e Saint Laurent) e a opinião foi unânime, deixando claro que o organismo francês da moda pretende preservar o formato atual de apresentação de coleções. «Reverter o ciclo e começar uma apresentação comercial iria matar a criatividade», declarou, ao jornal Le Figaro, o presidente da federação, Ralph Toledano.
A mesma posição é defendida por François-Henri Pinault, CEO do grupo Kering, que declarou recentemente à imprensa que o desfile é uma parte integrante do processo criativo e a espera promove «o desejo pelo mundo do luxo».
A marca britânica Burberry, seguida pela Tom Ford e, depois, pela Mulberry, fez rodar cabeças dentro da indústria da moda quando anunciou, no início de fevereiro, que os seus desfiles seriam feitos de forma a coincidir com os produtos disponíveis nas lojas, de acordo com o princípio de “ver agora/ comprar agora”, estimulado pelo impacto das redes sociais no seio da indústria.
«Deixemos que a Burberry faça o que melhor se adapta à Burberry. Quanto a nós, vamos fazer o que é apropriado para as nossas marcas», acrescentou o CEO do Kering.
Esta decisão surge no momento em que, também nos EUA, o Council of Fashion Designers of America especula se há necessidade de repensar o calendário de apresentação das coleções, agora que os desfiles de moda podem ser vistos e comentados em tempo real nas redes sociais.
Aos olhos das marcas de luxo francesas, esta abordagem, que envolve ouvir muito de perto os consumidores, vai contra a criatividade, sem mencionar os obstáculos que cria em termos de prazos de produção e de cadeia de aprovisionamento. A federação francesa afirmou que realizou uma pesquisa entre os seus membros, revelando que «nenhum cliente jamais se queixou por não ser capaz de comprar na loja um produto visto na web».
Outros pensam que redesenhar o sistema pode evitar a proliferação de imitações dos retalhistas da fast fashion como Zara ou H&M. No entanto, Ralph Toledano garante que a disponibilidade imediata dos produtos não vai mudar nada. «Há apenas um remédio para a falsificação: a elaboração de produtos que são mais difíceis de imitar, a criação de design de valor acrescentado», advogou.