Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Aos 75 anos, Gisella Amaral estrela sua primeira campanha para uma grife

Confira os cliques da mulher elegante que vai muito além do seu closet

Em sua cobertura no Rio, tendo ao fundo obra de Claudio Tozzi, Gisella Amaral posa com look de seu acervo pessoal, da extinta grife carioca Santa Ephigênia (Foto: Daniel Mattar)

Qualquer evento que se preze no Rio não pode prescindir da presença mais elegante da cidade: quase sempre a bordo de looks monocromáticos, com maxibijuterias e uma vasta e lindíssima cabeleira grisalha, Gisella Amaral adentra os salões com o sorriso mais sereno e irresistível do pedaço.

Cumprimenta todo mundo acarinhando o rosto do interlocutor - seja ele o garçom ou a senhora mais high da festa -, seguido de uma palavra afetuosa. O jeito simples e aberto não dá pistas aos incautos de que, durante décadas, ela foi a primeira-dama da noite brasileira: seu marido, o empresário Ricardo Amaral, comandou lendárias boates como Hippopotamus (que será reinaugurada no Rio no mês que vem), Banana Café, Resumo da Ópera e Papagaio - isso sem  falar em suas investidas internacionais com a Club A, em Nova York, e a Le 78, em Paris.

Gisella veste trench coat (R$ 2.499) do inverno 2016 da Eva, camisa Saint Laurent vintage, calça Casa Alberto e mocassim vintage Gucci (Foto: Daniel Mattar)

Aos 75 anos, Gisella conta que se surpreendeu ao receber o convite dePriscila Barcelos, diretora criativa da Eva, a grife feminina do grupo carioca Reserva, para ser a musa da campanha deste inverno da marca. “Top model,eu? Não sou modelo de nada, muito menos top. Eu sou base. Top model é meu marido”, diverte-se. “Ele é a grande estrela, e eu sou o palco para ele brilhar. Mas se o palco se zanga, sai de baixo”, completa. Ela posou duas vezes para a marca: num estúdio na região portuária do Rio e em sua cobertura, no Leblon, que também serviu de cenário para as fotos que ilustram estas páginas de Vogue.

Sua vitalidade emocionou Priscila e Dudu Bertholini, que foi o stylist da campanha. “Escolhemos Gisella porque não queríamos apenas uma modelo, mas um modelo. Ela é uma inspiração não só de elegância, mas também de força, de energia e de solidariedade”, justifica a estilista.

O cachê será distribuído entre algumas das 39 entidades filantrópicas que Gisella apoia. “Tem algumas bem pobrezinhas, bem pequenininhas, que estão precisando muito. Neste momento de crise, eu não poderia perder a oportunidade de fazer isso por elas”, diz.

O cantinho onde costuma ler, com retrato pintado pelo amigo Roberto Santos, e, à direita, um dos muitos colares com conchas, sua obsessão fashion (Foto: Daniel Mattar)
O cantinho onde costuma ler, com retrato pintado pelo amigo Roberto Santos, e, à direita, um dos muitos colares com conchas, sua obsessão fashion (Foto: Daniel Mattar)

Na hora das fotos, sua inspiração foi Diana Vreeland, a mítica editora daVogue americana nos anos 60. “Eu a encontrei algumas vezes, era uma mulher fascinante. Fazia gestos, olhares, marcava, se impunha. Era uma feia que ficava bonita ao segundo olhar”, relembra ela, que veste o que quer e gosta, independentemente de moda, tempo e lugar.

No momento, está encantada com um visual “mais oriental”, apostando em lenços amarrados como top. À exceção da aliança de casamento e de um anel de Nossa Senhora das Graças que lhe foi presenteado pela amiga Beth Serpa, não usa joias. “Trabalhando com caridade, não consigo gastar com joias”, explica. “Me acho muito sem graça, alta, marrom e, agora, de cabelo branco, pareço um charuto aceso. Então abuso de bijuterias, que têm o mesmo efeito de me enfeitar.”

Gisella chega a percorrer 14 lugares diferentes num mesmo dia, entre as instituições que visita e os compromissos sociais. “Montei um camarim no carro para ir trocando de roupa. Eu mesma faço minha maquiagem, que é basicamente lápis preto no olho.

 Não pinto unha, cabelo, boca, nada. Só meus olhos, que são pequenininhos”, conta. A silhueta impecável é mantida com ioga, pilates e 2.000 braçadas de natação. “Às vezes vou nadar às 23h no Copacabana Palace, porque nenhuma academia está aberta nesse horário.”

Ao lado da foto do marido, sapato Ferragamo. (Foto: Daniel Mattar)
Ao lado da foto do marido, sapato Ferragamo. (Foto: Daniel Mattar)

Pergunto se alguma coisa mudou às vésperas dos 76 anos, que serão comemorados em junho. “Se mudei alguma coisa, foi aos 41, quando sofri uma queda de cavalo, fiquei em coma e tive de reaprender tudo na vida. Só reconhecia meus filhos, meu marido e meu pai e, ainda assim, trocava os nomes. E só falava francês, um pouquinho de italiano, e com as plantas. Eu chorava dizendo que elas não quer iam ser minhas amigas porque não me respondiam. Quando eu não sabia alguma coisa, dizia tarará. Quero tarará, gosto de tarará. Não foi uma mudança; foi um renascimento.”

Gisella não esmoreceu nem mesmo no tratamento dos quatro cânceres de mama que encarou na década passada. “Fiquei carecona mesmo, assumi, qual o problema? Você tem de enfrentar, porque o câncer tem medo da coragem. Durante oito anos, fiz palestras em todo o Brasil, só ficaram faltando o Piauí e o Ceará.”

Passando seus looks em revista, chegamos a 1978, em Paris, quando Ricardo inaugurou a boate Le 78. Na época, as maisons francesas disputavam a primazia de vestir a mulher do empresário nos muitos eventos para os quais era convidada. “Teve uma festa em Versalhes em que a Dior me emprestou uma roupa que eu achei de princesa, e o Ricardo, de noiva. Pois lá alguém contou para ele que era tanto de princesa quanto de noiva. Seria o vestido do casamento civil da Caroline de Mônaco, que ela acabou não usando”, lembra. Seus estilistas prediletos eram Guy Laroche, Givenchy eGianfranco Ferré. “Mas nunca tive fidelidade por costureiro nenhum; só pelo meu Amaral, com quem casei virgenzinha.”

Gisella em seu quarto com calça (R$ 999) e camisa (R$ 629), ambas Eva; e colar de seu acervo pessoal (Foto: Daniel Mattar)

O celular toca avisando que é hora de ir para a festa dos aniversariantes do mês no asilo São Luiz. “Só uso celular para trocar mensagens, prefiro dedicar meu tempo a coisas úteis. Não tenho Instagram nem Facebook, não gosto de entrar na intimidade dos outros”, sublinha. Mas, talvez pensando nas amigas que aderiram à febre do overposting, ela tenta - como se precisasse - se explicar. “Não critico quem faça. Mas a gente tem que viver o presente, abrindo os dois braços para dar as mãos aos outros. E, se a sua mão estiver ocupada com o celular, é uma a menos para ajudar a quem precisa.”

por BRUNO ASTUTO

http://vogue.globo.com/moda/moda-news/noticia/2016/04/aos-75-anos-g...

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   “Me acho muito sem graça, alta, marrom e, agora, de cabelo branco, pareço um charuto aceso. Então abuso de bijuterias, que têm o mesmo efeito de me enfeitar.”

  “Fiquei carecona mesmo, assumi, qual o problema? Você tem de enfrentar, porque o câncer tem medo da coragem. Durante oito anos, fiz palestras em todo o Brasil, só ficaram faltando o Piauí e o Ceará.”

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