Os empreendedores sociais são indivíduos com soluções inovadoras para os problemas sociais mais urgentes da sociedade. São ambiciosos e persistentes, enfrentando as grandes questões sociais e propondo novas ideias de mudança em larga escala. Cada empreendedor social apresenta ideias simples e éticas para tentar obter apoio generalizado a fim de maximizar o número de pessoas locais que irão apoiá-lo, adotar a sua ideia e implementá-la.
A moda é um vasto campo de ação para os empreendedores sociais que visam ser uma alternativa sustentável ao fast fashion. É muito bom constatar que estão surgindo várias marcas de moda sustentáveis todos os dias. Parece que nos últimos três anos têm havido uma explosão de marcas que seguem a linha slow fashion! A seguir vou apresentar algumas empresas que buscam resgatar o artesanato tradicional para criar produtos contemporâneos de moda ética.
Vestidos artesanais nunca saem de moda pois felizmente existem muitos clientes que apreciam o trabalho feito à mão, e no Brasil, o trabalho artesanal se destaca principalmente na região nordeste. A estilista alagoana Martha Medeirosficou famosa ao empregar rendas das cooperativas da região do rio São Francisco em suas coleções de vestidos de festa e vestidos de noiva. Martha inseriu a renda nacional na alta costura misturada com tecidos de luxo importados e utiliza em suas criações diversas rendas como a Renascença, Filé, Bilro e Boa Noite.
O resgate de riquezas do nosso país foi o caminho encontrado pela estilista que trabalha com cooperativas de rendeiras cuja matéria prima é feita pelas mãos de mais de 200 mulheres, que realizam a confecção de renda de Bilro. Um vestido de renda Renascença pode exigir sete, oito meses de trabalho das mãos de uma única rendeira. Assim Martha Medeiros uniu a riqueza do trabalho feito a mão, à sofisticação da alta costura.
As produções da estilista já apareceram em várias revistas de moda e suas criações são vendidas em lojas no Oriente Médio, EUA, Inglaterra, Portugal e Alemanha. Cada vez mais os estilistas brasileiros estão colocando na passarela o que há de melhor na nossa própria cultura.
A Someone Somewhere é uma marca de estilo de vida que liga artesãos mexicanos pobres com os mochileiros de todo o mundo. O objetivo é fazer com que esses viajantes comprem marcas para o bem social, em vez de status.
A marca nasceu há quatro anos. Seus fundadores perceberam que os artesãos no México tinha uma habilidade comercial, mas faltava os canais de conhecimento e de distribuição para garantir o êxito do seu comércio. Buscando resolver este problema, os fundadores contaram com a ajuda de cinco artesãos de Naupan, no estado de Puebla para fazer bordados tradicionais sobre as camisas da marca, que fizeram sucesso com os clientes. Assim, os fundadores resolveram investir nas comunidades de artesãos de Puebla, Oaxaca e Chiapas, os 3 estados mais pobres do México para criar mochilas, bonés e camisetas.
“Os artesãos que trabalham com a gente aumentaram a sua renda mensal em até 300%, elevando suas famílias acima da linha de pobreza”, diz a empresa.
A estilista Paromita Banerjee cria coleções contemporâneas com tecidos feitos em teares manuais por artesãos indianos, visando assim conscientizar suas clientes de como suas roupas passam por muitas mãos antes de finalmente chegar a elas. Banerjee utiliza tecidos de algodão e seda texturizados produzidos por mulheres tecelãs na cidade de Madhya Pradesh, cujo tingimento é feito totalmente com corantes naturais sem poluir o meio ambiente. Em todas suas coleções, a estilista trabalha apenas com tecidos feitos em teares manuais para manter viva a milenar tradição indiana dos tecidos feitos e tingidos à mão.
Trabalhar com teares manuais é um processo lento e trabalhoso pois sua coleção de tecidos leva de seis até oito meses para ficarem prontos. Banerjee acredita que as marcas de moda que se dizem “sustentáveis” estão em dívida com os artesãos pois muitas delas procuram os artesãos somente quando lhes convém, e não se preocupam em fazer um trabalho contínuo com eles. Para ela o tear manual não é uma “tendência” passageira mas um diferencial que deve fazer parte do DNA da marca, ainda mais para quem trabalhar com moda slow fashion.
Antes da revolução industrial no século XIX que tornou mais rápida e barata a fabricação de tecidos, eles eram produzidos por artesãos em teares manuais de madeira, parecidos com os do vídeo abaixo. As roupas de Paromita Banerjee são feitos dessa forma. Fascinante!
Fundada em 2013 por Anna Robertson, a marca de moda sustentável YEVU procura combater a pobreza urbana em Gana na África. A empresa conecta os comerciantes informais de Gana com mercados mais amplos na Austrália e Londres, onde suas roupas vibrantes e contemporâneas são capazes de florescer. YEVU, que significa “mulher branca” na língua local, é uma linha de roupas socialmente conscientes criada por Anna Robertson que foi muitas vezes chamada de “yevu”, quando ela morou por 12 meses na movimentada cidade de Accra.
Foi então que ela se apaixonou com um tecido tradicional 100% de algodão que via pelas ruas da cidade em uma variedade de estampas vibrantes. Anna fez parceria com várias costureiras e alfaiates locais, que trabalham como micro-empresas no setor informal de Gana. A primeira coleção foi lançada em Sydney na Austrália e esgotou em uma semana. As estampas são super pop e diferente das estampas que vemos no ocidente.
O principal objetivo da YEVU é criar empregos que pagam mais do que salário de Gana. Essas oportunidades econômicas e criativas melhoram a vida dos indivíduos, famílias e comunidades. Além disso, a YEVU conecta micro produtores e fabricantes artesanais com um mercado global, criando a oportunidade para eles operarem como parte de uma cadeia de valor internacional.
A empresa é especialmente dedicado às mulheres de Gana, que têm menos acesso a instituições financeiras, mecanismos de poupança e capital. Trabalhando de forma colaborativa e transparente para capacitar as mulheres através da geração de renda e desenvolvimento profissional, o que aumenta a sua auto-estima e capacidade de participar nas decisões que as afetam.
A missão da Indigo Handloom é criar a “linha de roupas mais sustentável do mundo” preservando as antigas habilidades dos tecelões artesanais na Índia, lar de alguns dos maiores artesãos têxteis do mundo. Depois de conhecer a Índia, a designer têxtil Smita Paul criou a empresa como um sistema de apoio aos artesãos indianos. Toda coleção é desenhada em San Francisco e fabricada na Índia. O trabalho da Indigo Handloom ajuda os tecelões a se sustentarem e a suas famílias em meio a um mercado cada vez mais reduzido por causa da concorrência dos tecidos industrializados “Made in China”.
A fabricação dos tecidos não precisa de qualquer energia de combustível fóssil pois em vez disso, dependem da energia humana dos talentosos tecelões sentados em seus teares manuais. Sem necessidade de carvão, gás, eletricidade, nem mesmo uma lâmpada e nenhum dos produtos químicos perigosos normalmente utilizados para fabricar tecido. Os artesãos tecem 2,54 centímetros de cada vez, dando continuidade a uma herança da tecelagem que existe à milhares de anos.
A Indigo Handloom já existe a 16 anos e tem fornecido tecidos e lenços para algumas das marcas mais conhecidas do mundo, como Eileen Fisher e Anthropologie e agora tem sua própria linha de roupas feitos destes materiais únicos e raros. Quando Smita Paul abriu sua empresa em 2003, havia 12 milhões de tecelões de teares manuais em todo o mundo e hoje existem apenas 3 milhões. É preciso preservar essa antiga forma de arte e toda a sua beleza, e as marcas de slow fashion podem ajudar a revitalizar o trabalho artesanal para tornar a indústria da moda mais inclusiva, ética e sustentável. O trabalho de um artesão é único e espero que nunca acabe.
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Belíssimo esse trabalho com rendeiras.
É a valorização do produto nacional e perspectiva de trabalho e receita para várias comunidades.
Mas o importante é perpetuar a cultura que envolve o trabalho das rendeiras para que ele não morra, pois é uma das identificações do povo brasileiro.
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