Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Com novo status, produto do país não terá sobretaxa se vendido abaixo do valor praticado.

Contêineres em porto de Guangzhou, na China - Qilai Shen / Bloomberg

PEQUIM - A movimentação nas trincheiras comerciais do planeta é intensa, porém ainda silenciosa. O primeiro passo em falso pode desencadear uma das maiores guerras do comércio exterior do século. A partir deste domingo (11), quando a China terá oficialmente o tão desejado status de economia de mercado. Desta data em diante, os chineses terão o mesmo tratamento que é concedido a outros países da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Em tese, seus produtos deixarão de ser sobretaxados se ficar caracterizado que estão sendo vendidos abaixo do valor de mercado. Enquanto países como Estados Unidos, Japão ou integrantes da União Europeia (UE) estão reticentes, em busca de novas formas de interpretar e, quem sabe, estender o prazo, a China quer o reconhecimento imediato, dizendo-se mais preparada do que nunca para brigar.

— É nosso direito. Para os outros, uma obrigação que tem de ser honrada. Os países concordaram, e o acordo, agora, tem de ser respeitado por todos. Não há dúvida. É cristalino. Não é negociável — afirma, taxativo, um dos maiores especialistas em negociações comerciais da China, o vice-presidente do Instituto para OMC do Ministério do Comércio, Xue Rongjiu, que vai além: — A China hoje está muito mais preparada para adotar medidas de retaliação.

Para os chineses, estão em jogo seu reconhecimento no cenário internacional e bilhões de dólares em novos negócios, uma questão de honra. Amedrontados com o potencial das exportações chinesas, os outros parceiros comerciais, 15 anos depois de aceitarem a China no seleto clube de exportadores, temem perder espaço no comércio e empregos nos seus respectivos mercados domésticos.

Assim que o novo status passar a valer, disputas sobre dumping (quando os preços de uma mercadoria exportada são inferiores àqueles cobrados no mercado doméstico do país para inibir a concorrência externa) na OMC terão de usar como referência os valores cobrados pela China pelos mesmos produtos no seu mercado interno. Hoje, como o país ainda não é uma economia de mercado, entende-se que não há como medir de maneira realista os preços praticados no país.

FAVORECIMENTO EM DISPUTAS COMERCIAIS

Assim, tomam-se como referência valores em terceiros mercados. A mudança favorece os chineses nas disputas comerciais, pois seus produtos seriam necessariamente considerados mais competitivos por terem valores mais baixos no mercado interno.

Nos múltiplos corredores do mercado de Muxiyuan, a uma hora do centro de Pequim, pilhas e mais pilhas de tecidos se acumulam nas vitrines e no interior das centenas de pequenas lojas. Os vendedores não parecem se esforçar muito para se desfazer das mercadorias que mal cabem nos espaços exíguos que mantêm na feira, alguns debaixo de goteira. Os preços já são tão baixos que não acreditam que haja outro endereço mais competitivo.

E ainda há os descontos para quem comprar em quantidades um pouco maiores. Mais de 10 metros de tecido de algodão egípcio para fabricar lençois saem a 20 yuan (cerca de R$ 10) o metro, e não os 35 yuans (pouco mas de R$ 17), originais. As duas fronhas grandes prontas para combinar com o tecido custam menos de R$ 10.

— Não adianta ir a outro lugar. Nem mesmo aqui dentro. Não há preço mais baixo do que este. Você vai voltar — disse Li Fang, vendedora em Muxiyuan há mais de uma década.

Mas, para muitos países, as barganhas feitas na China com tecidos e outros produtos, se devem a distorções no mercado chinês. Os segmentos de tecidos e sapatos estão na lista dos mais sensíveis montada pelo Brasil, Argentina e Estados Unidos. Hoje, 80% das medidas antidumping brasileiras na OMC são direcionadas contra a China.

Maiores exportadores de tecidos do mundo, os chineses venderam US$ 175 bilhões em 2015, cerca de 39% das vendas realizadas no Planeta. Trata-se de quase tudo o que Brasil vendeu ao exterior durante o mesmo ano, quando as exportações totais do país, e não apenas de tecidos, ficaram em US$ 191 bilhões.

Secretamente, os países estão se fazendo de desentendidos. Ninguém se manifesta até segunda ordem. A verdade é que ninguém quer ser o primeiro a anunciar que não pretende reconhecer o novo status e enfrentar a China, que está disposta vir com tudo.

Negociadores apostam que, se não houver maneira de driblar a interpretação do acordo assinado em 2001, ainda há chances de ganharem tempo, se a disputa se restringir aos tribunais da OMC. Entre a abertura de um painel (uma espécie de ação contra outro país) no organismo e a sua análise e conclusão pode-se imaginar o prazo de pelo menos um ano. Ou seja, ainda que a OMC dê ganho de causa aos chineses, que é o que esperam, e o que negociadores internacionais de alto escalão consideram mais provável, ainda há tempo.

Xue argumenta que seu país aceitou todas as condições do acordo, inclusive aquelas criadas especialmente para a China, e cumpriu seus compromissos, revisando mais de duas mil leis e regulamentos nacionais que não eram compatíveis com a OMC, e outros mais de 90 mil, em âmbito regional. Ele afirmou que o país tem aberto a sua economia, acima do esperado, embora admita que não seja perfeito.

— No passado, não tínhamos bons advogados, agora temos, assim como grandes especialistas no mundo jurídico e em outros idiomas — disse ao explicar que a China está preparada para enfrentar os outros países na OMC.

O temor no Ocidente é que a China saia do escopo da OMC para retaliar com mais agilidade. Dentro das regras do organismo, em teoria, seria necessário abrir inúmeros casos sobre diferentes produtos contra países distintos. Os chineses são o principal parceiro de dezenas de países, inclusive do Brasil.

EUA: US$ 20 BI A MAIS EM IMPOSTOS

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem a China tem o maior déficit comercial do mundo, avisou durante a campanha que poderia impor tarifas de importação de até 45% sobre os produtos chineses. Mas a China sabe que seria um tiro no pé.

— Se isso acontecer, serão pelo menos US$ 20 bilhões a mais para ser pagos pelos consumidores americanos. O que dizer para eles? Para a China pode não ser tão grave. Temos outros parceiros no mundo — afirmou Xue.

Perguntado se a China agiria dentro dos limites da OMC, caso precise retaliar, Xue não hesitou:

— Claro que a China vai considerar as regras da OMC. Não vamos nunca contra as regras da OMC. Tudo estaria previsto dentro das regras e do quadro da OMC, mas a China não quer ver isso acontecer.

O que se espera agora é que os países tentem costurar alternativas às perdas que poderão ter com os próprios chineses, a partir de acordos bilaterais e entendimentos vários. A posição do Brasil não está clara ainda. Em 2004, o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pôs no papel que reconheceria os chineses como economia de mercado, o que à época foi visto com mil ressalvas, a partir de 2016. Mas nunca submeteu o papel à uma chancela final, o que poderia ser usado agora, caso o país resolva mudar de ideia.

Os chineses querem o apoio irrestrito do Brasil. A iniciativa brasileira ocorreu como forma conseguir da China apoio para vaga no Conselho de Segurança da ONU, apoio este que até hoje nunca aconteceu.


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Q péssima notícia, conheci em meu poucos mais de 20anos na área textil um excelente profissional da área de fiação, hoje já aposentado, corretíssimo, de índole, porém eu o achava pessimista e hoje vejo que era mesmo realista, por tudo q vemos e vivemos neste esplendor de lugar, lugar não quer dizer País; este companheiro

sempre dizia que quando as coisas estão ou são erradas nada é tão ruim q não pode ser piorado...

Teria ele razão, seria pessimista ou realista....

Se os países de primeiro mundo temem este reconhecimento da OMC em relação à China, imaginem o que representará para o nosso tão combalido país (para nós) este reconhecimento da China como economia de mercado?

Edson Machado

Não diria sobretaxar mas sim ter o produto importado o valor minimo da média do equivalente nacional.

  Os chineses querem o apoio irrestrito do Brasil. A iniciativa brasileira ocorreu como forma conseguir da China apoio para vaga no Conselho de Segurança da ONU, apoio este que até hoje nunca aconteceu.

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