Em Biella, uma pequena cidade no coração da indústria laneira do norte de Itália, os proprietários de fábricas afirmam à Reuters que uma diferença de preço mais pequena em relação à China e a procura de uma produção de proximidade estão a reconquistar os clientes do segmento alto.
No escritório da sua empresa familiar, Alessandro Barberis Canonico relata como um cliente europeu de alto perfil o convocou recentemente para lhe dizer que iria desistir da China devido ao aumento dos custos e da crescente procura por qualidade – e que precisava da ajuda da empresa para uma grande coleção. «Ele tentou a sua sorte no exterior, as coisas não correram bem e está de volta», resume Canonico.
Não obstante, a China continua a ser líder mundial em têxteis: emprega mais de 4,6 milhões de pessoas, contribuindo com um décimo do PIB e com exportações, incluindo vestuário, avaliadas em 284 mil milhões de dólares (aproximadamente 267 mil milhões de euros) em 2015, de acordo com os números oficiais.
Contudo, os salários têm aumentado a uma taxa de crescimento anual de mais de 12%, superando a economia, e já não são o suficiente baixos para o país competir sustentado no preço.
Ao mesmo tempo, a têxtil chinesa enfrenta custos crescentes de matérias-primas como algodão e lã, altos impostos de importação para tecnologia de base da produção e regras ambientais mais onerosas.
O plano quinquenal do governo para os têxteis, divulgado em setembro último, reconheceu que os custos mais elevados estão a debilitar a sua vantagem internacional e que o país enfrenta uma “dupla ameaça”: de países desenvolvidos como a Itália, que possuem melhor tecnologia, e de países em desenvolvimento, que têm salários mais baixos.
A diferença do custo de mão de obra entre o fio italiano e o fio chinês diminuiu em cerca de 30% entre 2008 e 2016, para 0,57 dólares/kg (de 0,82 dólares/kg), segundo dados da Federação Internacional de Fabricantes de Têxteis (ITMF).
No ano passado, o salário hora para um tecelão chinês ficou nos 3,52 dólares, de acordo com o ITMF, uma subida de 25% desde 2014, embora seja muito mais baixo do que os 27,25 dólares pagos em Itália, um aumento de 9% em igual período.
A proximidade é também uma importante vantagem, numa altura em que as marcas de vestuário ocidentais estão sob pressão para oferecer vez cada mais coleções e novidades ao longo do ano e os clientes exigem artigos personalizados. Ou seja, os fornecedores precisam de estar mais perto e de serem mais rápidos. «Na China, a cadeia de aprovisionamento não está próxima e está dispersa, dando (a Itália) uma vantagem competitiva», afirma Ercole Botto Paola, CEO da produtora têxtil italiana Reda.
As importações têxteis italianas à China caíram 8,7% nos primeiros 10 meses de 2016, para os 347 milhões de euros, segundo a SMI, a associação têxtil e de moda de Itália. As exportações para a China, por sua vez, subiram 2,8%, para os 165 milhões de euros durante o mesmo período, embora as exportações têxteis totais tenham caído 2% no ano passado, para os 4,3 mil milhões de euros.
Para os clientes, a qualidade e a transparência são, também, fundamentais. «Antes, considerando que as marcas pagavam muito menos, fechava-se os olhos à qualidade», recorda Giovanni Germanetti, diretor-geral da Tollegno 1900. Já Alessandro Brun, professor do MIP Politecnico di Milano, sublinha que as marcas são também motivadas por preocupações de rastreabilidade do produto e querem evitar potenciais riscos para a sua reputação.
Ainda que os fornecedores se mostrem relutantes em apontar marcas, para proteger a confidencialidade dos negócios, várias empresas internacionais de vestuário estão a mudar para lãs italianas a fim de se diferenciarem-se da concorrência nas etiquetas das peças. A marca italiana Benetton, por exemplo, revela que recorreu a fios da Tollegno 1900 numa linha “made in Italy” de edição limitada recentemente lançada.
As exportações têxteis chinesas para a União Europeia cresceram 1,4% nos primeiros 10 meses de 2016, mas caíram 4,1% em outubro, segundo dados da China.
Em Zhuhai, no sul do Império do Meio, os funcionários da Novetex Holdings, fornecedora de fios de lã e caxemira de Hong Kong, trabalham com marcas internacionais como Burberry e Max Mara. Porém, a empresa que emprega cerca de 1.100 trabalhadores na época alta, já ressalvou que o aumento dos salários irá resultar em mais automação, podendo vir a cortar dois terços da força de trabalho nos próximos dois anos. «O bolo é menor, muitos agentes e fábricas mais pequenos já fecharam», admite o diretor e CEO Milton Chan.