Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Conheça a história da cantora e o motivo dela ser extremamente relevante no cenário atual.

“Desde criança gosto de moda. Eu não tinha internet, não tinha televisão, só tinha acesso às revistas e a comerciais na cidade… Mas sempre dava um jeito de ficar ligada em tudo“, conta Pabllo Vittar durante o lançamento da nova coleção da marca My Favorite Things. “Quando Lady Gaga surgiu, aí o lado high fashion aflorou! Como esquecer ela?”, pergunta a cantora enquanto se prepara para o pocket show da noite, atende fãs com carinho, tira fotos e brinca com todos ao redor.

Pabllo Vittar nasceu em São Luís no Maranhão em 1994, mas ao longo da vida viajou de cidade em cidade em busca de empregos e sonhos. Junto com sua mãe, técnica de enfermagem, e longe do pai, que nunca conheceu porque abandonou sua companheira logo nos primeiros meses de gravidez, passou por Santa Inês, Caxias, Uberlândia e São Paulo. Apaixonado por música logo cedo, cantou em corais de igreja. Sabendo que era gay e querendo vivenciar ao máximo todas as suas vontades, começou a performar como Drag Queen antes mesmo de completar os 18 anos. Trabalhou em lanchonetes, entregou panfletos, trabalhou em porta de boate, foi assistente em salão de beleza. Não teve ajuda. Hoje ela tem um contrato musical com a Sony e acabou de se apresentar no Rock in Rio com a Fergie.

No Instagram, onde tem mais de 4 milhões de seguidores, Pabllo é a rainha do street style. “Eu sou do time do que é confortável. A gente tem que poder trabalhar, se sentir verdadeira. Acho que esse estilo street nos permite viver o que a gente é”, declara. No clipe de K.O., ao usar as peças da marca Cacete Company, e no Rock in Rio, com a marca Another Place, Pabllo projetou novos nomes nacionais. “Trabalho com um novo stylist há seis meses. É um olhar novo. Eu tenho minhas referências como pessoa que ama moda. Mas ter alguém que sabe de tudo e tem um olhar mais técnico é muito importante”, define ela. Conheça: Street style, o estilo das famosas nas ruas 

Quem está sempre ao lado vestindo a cantora é João França Ribeiro, carioca que já morou em diversas partes do Brasil e começou seu trabalho de estilo com Drag Queens brasileiras, como Penelopy Jean e Divina Raio-Laser. Ao receber o convite para vestir Pabllo, ele refletiu: “Pensei: caramba! Vou vestir uma drag que tem que dançar, cantar, performar. Para mim a maior dificuldade [ao fazer o clipe de K.O.] foi achar as roupas pelo perfil que o brasileiro tem, que é mais conservador.” A Cacete e a Adidas toparam na hora. Desse clipe para o mais atual, Corpo Sensual, João afirma: “as marcas estão mais interessadas em vesti-la. Mas ainda assim é muito difícil.”

Não é só o olhar de insider que faz a imagem de Pabllo tão interessante. É a visão de ambos sobre a importância da representatividade que ela tem para o Brasil. “Pela primeira vez eu me vi dentro daquilo que eu estava fazendo. Além de fazer uma imagem, eu estava defendendo uma causa que também era minha”, conta João, que é gay e defensor dos direitos LGBTQ.

Pergunto para Pabllo o que podemos fazer em relação à recente permissão de um liminar no Distrito Federal de utilizar as terapias de “reversão sexual”, também chamada de “cura gay”. “Eu vi isso. Não acreditei. Quando eu li, pensei que era uma dessas coisas sensacionalistas. Amore, quantos meses para 2018??”, começou Pabllo. “Eu acho que isso é uma resposta a tudo o que vem acontecendo. A classe LGBT está com uma voz muito forte, muito presente, muito potente e muito intensa. Eles querem mesmo tentar diminuir nossa voz e mascarar tudo o que a gente está fazendo. Como se nossa luta não fosse válida. Só que queremos direitos iguais, queremos respeito. A gente não quer que as pessoas nos aceitem goela abaixo, porque somos pessoas comuns. Não estamos sozinhos.”, completou.

Pabllo, João e os fãs têm ajudado a transformar o medo do outro através do encantamento. E a internet foi essencial para tudo isso — ela é a Drag Queen mais tocada nas plataformas digitais. “Pra mim é um orgulho muito grande ver onde Pabllo está. Ela atinge todos os públicos e todas as idades. Pabllo é supertalentosa, ela não é só uma imagem”, define João.

A história de superação poderia ser só mais uma se a gente não reconhecesse os fatos, que precisam ser delineados por um acerto de contas histórico: Pabllo é gay. É negro. E era pobre. E veio de uma localização geográfica fora do eixo Rio-São Paulo que é muito desfavorável para quem quer trilhar um caminho artístico. Seu gênero musical, com influência do arrocha e do funk, nunca foi visto com bons olhos. Cereja do bolo: Pabllo faz seus shows montado, performando uma subcultura que por muito tempo era vista de forma tenebrosa.

Pabllo faz drag, não é trans, mas podemos resgatar algumas estatísticas para entender o contexto: de acordo com a organização não-governamental Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. De 2008 a 2015 foram 689 mortes no país, 12% dessas mortes acontecem durante a idade jovem, quando a pessoa tem entre 8 e 20 anos — e 65% dessas pessoas eram profissionais do sexo, um destino muito recorrente para as pessoas trans. Ter a imagem de uma drag queen em rede nacional pode começar a ajudar a transformar essas estatísticas. Mesmo que os problemas sejam muitos — como os direitos básicos de mulheres, estereótipos de gênero e homofobia — a presença e a voz de Pabllo podem representar o começo do fim de um desses percalços.

“Isso tudo me deixa triste, porque não é todo mundo que é respeitado. Eu sou Pabllo Vittar artista, recebo preconceito e hate, mas sou blindada porque vem pela internet, é uma frase ou texto de ódio. Mas fico pensando em meus fãs, que vão para a escola todos os dias, que estão vulneráveis a esse tipo de violência”, reflete a cantora.

As músicas, as letras, o estilo, a imagem e a postura de Pabllo conversam diretamente com um público que antes confiava nos ícones internacionais e em suas vindas escassas e com ingressos caros. É uma das primeiras vezes que nos deparamos com alguém de tanto alcance que canta em português e que fala abertamente sobre temas delicados como a homofobia. “Falo para os meus fãs: tomem cuidado, e vamos tomar conta uns dos outros. E principalmente nunca se esqueçam de quem vocês são”, finaliza a cantora. Ela nunca esqueceu.


Por Julia Mello

https://elle.abril.com.br/moda/pabllo-vittar-e-essencial-para-os-di...

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A Cacete e a Adidas toparam na hora. Desse clipe para o mais atual, Corpo Sensual, João afirma: “as marcas estão mais interessadas em vesti-la. Mas ainda assim é muito difícil.”

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