POR LARISSA ROVIEZZO

REPRODUÇÃO

Cinco anos após o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, no dia 24 de março de 2013, o movimento internacional do Fashion Revolution nos convida a discutir e questionar o verdadeiro custo e impacto da indústria da moda.

Após o evento, que deixou 1.133 mortos, a principal questão a analisar é a condição de trabalho que os trabalhadores da indústria do vestuário enfrentam. Longas horas de jornada, baixos salários, falta de segurança e direitos trabalhistas. Porém, este é só um lado dos problemas da complexa cadeia têxtil. Como garantia do consumo acessível nos grandes centros (fast-fashion), a desigualdade e exploração dos trabalhadores, principalmente em países como Índia, Paquistão e Bangladesh, pareciam até então justificáveis. Um ciclo alimentado pelo consumidor que tem fome de consumo, empresas com fome de lucro e que, por sua vez, pressionam produtores a baixar o custo, o que incentiva essa economia mundial que insiste em medir progresso no contínuo crescimento de números.

Talvez a maior contribuição do Fashion Revolution seja o entendimento de que comprar uma roupa significa comprar uma cadeia de valores e relacionamentos. Uma cadeia que até então não era questionada e não precisava ser transparente. Mas porque essa transparência é tão fundamental? Transparência é sinônimo de cooperação. Co-trabalhar pensando não só no meu, mas também no ganho do outro, é fundamental para um crescimento sustentável. E considerando a idealização de um dos maiores objetivos como a economia circular, a transparência é o fio condutor que levará a moda até lá. Sem transparência sobre os processos químicos, processos na cadeia de produção e investimentos tecnológicos para a reciclagem têxtil, essa realidade se torna cada vez mais distante. E assim sendo, com transparência, o consumidor passa a ser responsável por sua escolha. Uma responsabilidade que para muitos não é levada em consideração, afinal já temos problemas demais para nos preocupar com as condições nas quais nossas roupas foram produzidas. Mas, no final, esse é de fato o grande triunfo da força do consumo, a escolha. A consciência de quem eu apoio e como diretamente colaboro para o crescimento do mesmo. Para alguns, essa consciência foi gerada a partir da mudança de hábitos alimentares e bem estar: vegetarianismo, slow food, senso de comunidade, conexão com a natureza,…. Para outros, ela veio na mudança de valores, no despertar de novos padrões, respeito ao próximo e ao meio.

Na verdade, essa transformação de consciência é atribuída também à atual geração, chamada de Millennials, que dá maior importância ao propósito e ao impacto positivo do produto. Os Millennials não só valorizam a “causa” em vez do “lucro”, mas também esperam que as empresas criem um impacto positivo no meio em que atuam. Ou seja, um público que cresceu com o privilégio da acessibilidade, mas não está preocupado apenas com mais “um produto”, e sim com a experiência e o significado em torno dele.

Um artigo publicado no site do Grupo Credit Suisse traz informações sobre um estudo da consultoria Nielsen and Deloitte que mostra que os millennials são a geração mais consciente em relação a sustentabilidade e estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços alinhados a essa ideia ou direto de empresas com projetos ambientais e sociais. Basta saber se a indústria está disposta a tais mudanças ou o quão rápido ela vai responder a esse estímulo.

TABELA MOSTRA QUE A SUSTENTABILIDADE ESTÁ NO TOPO DAS CONSIDERAÇÕES / REPRODUÇÃO

Confiança, responsabilidade social e compromisso emocional fazem parte da cultura dos princípios e das expectativas desse público. Sendo assim, comunicar-se e alinhar-se com a mudança de valores desse novo consumidor é e será o diferencial competitivo no campo dos negócios.

O ainda não explorado campo prático do termo “sustentabilidade” pode parecer um conceito “raso” se olharmos com a mentalidade e padrões de como os negócios são feitos até hoje. Mas na verdade, esse campo prático nada mais é do que um conjunto de valores e ações que, quando verdadeiramente aplicado olhando para nossas futuras atividades profissionais, nos apresenta um extenso leque de novos frutos e oportunidades que talvez seja difícil de visualizar no ponto que estamos hoje em dia.

Em um futuro muito próximo, a ideia de fazer negócio com propósito e impacto positivo não será um detalhe nas entrelinhas, mas sim, o centro expansivo e a porta da inovação na industria têxtil. É a moda novamente refletindo uma transformação de comportamento na sociedade. #fashionrevolution

Larissa Roviezzo é mestre em sustentabilidade na moda pela ESMOD e mora em Berlin. Com experiência em marketing e desenvolvimento de produto, é especialista em estratégia de moda sustentável.

http://observamoda.org/tendencias/a-revolucao-da-transparencia-e-os...

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