Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A edição de dezembro de Época NEGÓCIOS traz um especial sobre o futuro da indústria têxtil. Dê uma espiada no que você encontrará por lá.

Expediente / Editorial (Foto: )

Entra ano, sai ano; não importa o gadget do momento, tampouco a viagem dos sonhos: roupa está sempre entre os presentes favoritos nas festas. Preparemo-nos, portanto, para o primeiro Natal do resto de nossas vidas. Está em curso uma revolução na indústria da moda. As tecnologias digitais e sociais fizeram surgir um novo consumidor. Hiperconectado, mais consciente, ele quer saber de onde sua roupa veio; como foi feita. E quer para já —informação e indumentária. Um ato político; uma causa. Luxo, sim; a ostentação vazia da marca pela marca, não. As empresas demoraram a perceber as mudanças, mas tão logo o fizeram, começaram a se movimentar. E o que se vê a partir daí é a transformação fascinante (e ainda em andamento) de um setor secular — e gigantesco. Entre as mais poluentes, perdulárias e desumanas, a indústria da moda caminha agora em direção à sustentabilidade, à ética e à democracia. As transformações envolvem players da velha e da nova economia. Promovem parcerias até pouco tempo inimagináveis, como as da grife americana Tommy Hilfiger com a gigante IBM ou a da estilista inglesa Stella McCartney com uma startup de biotecnologia. As inovações estão em cada uma das etapas da cadeia produtiva —do fornecedor ou fabricante de matéria-prima ao varejista.

Depois de ler esta reportagem de capa, que me sinto à vontade até para chamar de um dossiê sobre a nova indústria têxtil, você vai descobrir que comprar ou vender moda é hoje muito mais que um ato rotineiro, bem longe do trivial. São 41 páginas que esmiúçam essa revolução sem data para acabar. O que está em jogo são alguns dos valores mais essenciais aos seres humanos. A saber, respeito, justiça e transparência. Um dado alarmante: quase 20% da poluição das águas do mundo vem da indústria da moda. Muitos anos atrás, me assustei com o trecho de um rio banhado de azul, em um polo têxtil de Pernambuco. Estava visitando a terra dos Smurfs? Não imaginava, até então, que o cobiçado jeans das boas vitrines, vendidos por algumas centenas de reais nas lojas do Recife, tivesse origem tão escandalosamente desconectada da responsabilidade socioambiental. Do século 20 para o 21, a moda virou pelo avesso. O comportamento da indústria está mudando, e agora é pautado pelos valores dos consumidores e o uso intensivo da tecnologia. Não vou me espantar se daqui a pouco as roupas começarem a ser deliberadamente penduradas com as etiquetas à mostra, e não escondidas, nas araras das lojas.

A moda sempre foi militante, só mudou a causa. E esta é impulsionada por dados sobre os danos causados pela composição do tecido e as condições de fabricação. Tudo disponível nos primeiros resultados das buscas do Google.  Sobre a nossa pele, não queremos fazer apologia ambulante a referências como trabalho escravo ou maus-tratos aos animais. Abrir o guarda-roupa e apenas escolher um look blogueirinha é muito 2016. O espírito da moda, como Alexander Wang declarou no palco de um dos mais importantes eventos de tecnologia do mundo, o Web Summit de Lisboa, no mês passado, não pode ter máculas. Repensar processos é urgente, inclusive sobre questões antes tidas como ritos sagrados do setor, como as saisons. A filha mais famosa de Paul McCartney é ativista veterana pela moda sustentável, cujo boicote a fornecedores remonta a 2014.

Na nossa reportagem, trazemos casos como o da ex-diretora da Adidas Katrin Ley, que dirige um canal específico para focar nessas mudanças. Fashion For Good é o nome da plataforma para financiar e investir em tecnologias e modelos que acelerem a sustentabilidade da indústria. O velho conceito de economia circular ganha novos contornos e tem como objetivo escalar a moda do bem. Entre os recursos disponíveis, está até a aceleração de startups na Plug and Play do Vale do Silício.

Sandra Boccia (Foto: Editora Globo)

No Brasil, a brasileira Osklen veste esta tendência com o manifesto “as sustainable as possible” (ASAP), linha de moda consciente dos valores e da escolha dos recursos renováveis. Enquanto assistimos à construção do amanhã, a Farfetch representa a outra ponta da inovação. O unicórnio português, fundado por José Neves, conseguiu reduzir dramaticamente o estoque das marcas de luxo e garantir ao consumidor final duas preciosidades: descontos e entrega rápida. Farfetch é fruto do casal 20: luxo e tecnologia. E que, por meio de poderosas integrações com sistemas dos varejistas, entrega ganhos no fluxo de caixa. E isso é mais romântico em tempos de crise do que uma declaração de amor.

Se o português é aliado das marcas, o norte-americano Jeremy Cai, de apenas 21 anos, veio para desafiar a indústria. Lembram-se do polêmico empreendedor Peter Thiel? Em 2011, ele decidiu encher os bolsos de jovens universitários que optassem por abandonar a universidade para criar seus próprios negócios. Esse programa vingou e, há dois anos, Cai entrou para o time. Como um Indiana Jones, ele usou esses recursos para mapear os fornecedores, os verdadeiros artesãos do luxo. Em sua Italic, Jeremy oferece produtos cuidadosamente confeccionados pelos mesmos fabricantes de uma Burberry ou uma Givenchy — e com matéria-prima de igual qualidade. Por enquanto, são apenas acessórios e cremes. Já sonhou em espalhar um La Prairie no rosto como quem espalha manteiga sem pena na torrada? É o que o marketplace do garoto promete — luxo sem logotipos. A plataforma está no ar para “members only” — e peguemos a pipoca para assistir ao desenrolar jurídico desse modelo de negócios.

Ainda é clima de primavera em Época NEGÓCIOS e nosso presente de Natal para vocês é a leitura do bem. Depois de um ano conturbado, repleto de extremos, trazemos ainda duas histórias que você pode usar na ceia de Natal como truque para desanuviar temas políticos ao lado da família. A primeira é a experiência positiva de empresas que investem em organizações não governamentais, comprometendo recursos financeiros e horas de seus colaboradores para transformar a vida das pessoas. Todos ganham, com profissionalização e transparência. E antes que você pergunte, SIM!, sua empresa pode fazer parte dessa rede positiva.

E para me despedir de vocês em 2018, escolho a formidável história do empreendedor Luiz Chacon Filho, retratado nesta edição. Quando me tornei diretora da Pequenas Empresas & Grandes Negócios, ele estava batalhando para atravessar o vale da morte, temido cemitério de tantas boas ideias. Muito antes das cleantechs existirem, Chacon já queria transformar microorganismos em um grande negócio. A caminho de se tornar mais um unicórnio, a saga da SuperBac inclui internacionalização, três fábricas, muito P&D e, principalmente, resiliência. É clichê, eu sei, mas no Natal pode. Com unidades e centros de pesquisa em Israel, Cingapura, Colômbia e Estados Unidos, a empresa mostra um Brasil possível para além das commodities. Feliz 2019.

Expediente / Editorial (Foto: )
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  No Brasil, a brasileira Osklen veste esta tendência com o manifesto “as sustainable as possible” (ASAP), linha de moda consciente dos valores e da escolha dos recursos renováveis.

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