Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Por Fernando Valente Pimentel*

Ao lado dos motores a vapor, do uso do carvão na produção do ferro forjado e do advento das máquinas-ferramentas, o setor têxtil e de confecção foi um dos pilares da primeira Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, em 1760. A fiação mecanizada movida a água ou vapor aumentou exponencialmente a produtividade, conferindo uma nova dimensão à produção e ao consumo. A partir de então, a atividade foi incorporando todos os avanços tecnológicos ao longo de mais de dois séculos.

Apesar de seu pioneirismo na transformação industrial, os têxteis e confeccionados, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), classificam-se como de baixa intensidade tecnológica. Tal conceituação, contudo, está mudando rapidamente, num acentuado processo disruptivo. Estudos realizados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) revelam numerosas iniciativas do setor que evidenciam seu ingresso na Indústria 4.0, com a aplicação de inovações e P&D em sua cadeia de valores.

Cresce o emprego de novos materiais, processos, canais comerciais, técnicas de gestão e a hibridização de produtos e serviços, transformando toda a estrutura fabril. Inéditas tecnologias de produção e interfaces entre consumidores e fabricantes estimularão novos modelos de negócio. Pequenas indústrias, independentemente de sua relação com o varejo, poderão explorar meios próprios de venda.

Minifábricas automatizadas, modulares, móveis e sustentáveis, com forte presença local e regional, funcionarão acopladas a sistemas de virtualização da criação e da produção. A multiplicidade de produtos com tecnologias vestíveis e o emprego de biotecnologia e de modernos materiais poderão ampliar a demanda por têxteis inteligentes e funcionais, como já está ocorrendo, por exemplo, nas Forças Armadas do Brasil, numa iniciativa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), com participação da Abit. Os efeitos a montante da disseminação de fábricas com princípios da Indústria 4.0 poderão impulsionar a demanda qualitativa pelo desenvolvimento científico e tecnológico do setor. Uma nova estrutura industrial deverá surgir.

Exemplos concretos dessa transformação já se observam, como o lançamento recente de serviços de assinatura de aluguel de roupas, nos Estados Unidos, no Brasil e em vários mercados, tendência consistente no varejo de moda, com a utilização da tecnologia pelas marcas para se adequarem aos novos hábitos e necessidades dos consumidores. Conforme análise da GlobalData, esse novo mercado era avaliado em um bilhão de dólares em 2018 e deve crescer mais de 20% ao ano, alcançando 2,5 bilhões em 2023. Por um valor mensal, em torno de 150 dólares, uma pessoa pode vestir peças de designers famosos.

Uma boa notícia é que todas essas mudanças ocorrem de modo simultâneo à preocupação com a sustentabilidade econômica, social e ambiental. O setor busca processos produtivos com menor consumo de água, energia, produtos químicos e demais insumos, reutilização e reciclagem de subprodutos oriundos da produção e defesa do emprego digno em âmbito nacional e internacional. Realiza, ainda, ações de promoção da economia formal e combate à informal. Numa visão de prazo médio em relação a outros movimentos, já se trabalha na participação de nossa indústria no desenvolvimento da economia circular, definida por um processo no qual todos os recursos passam a ser integralmente reaproveitados em ciclos contínuos de produção.

Também é importante a capacitação dos recursos humanos para essa quebra do paradigma tecnológico e a nova realidade cibernética, dos robôs, da impressão 3 D, da internet das coisas e de todos os avanços aos quais estamos assistindo. Pesquisa da IBM mostra que 120 milhões de trabalhadores de todo o mundo terão de participar de programas de reciclagem nos próximos três anos, devido ao impacto da inteligência artificial no trabalho.

Como ocorreu no Século 18, quando foi um dos pioneiros da primeira Revolução Industrial, o setor têxtil também busca posicionar-se como protagonista no advento da Manufatura Avançada. Sua transformação é sinérgica com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, a exemplo destas metas das Nações Unidas, insere-se na agenda 2030 da civilização global!

Obviamente, todos esses avanços, que exigem investimentos, enfrentam os obstáculos da conjuntura recessiva do Brasil nos últimos anos, a qual sacrificou muito a liquidez das empresas. Trabalhamos, porém, para que as reformas em curso e a retomada do crescimento do PIB tenham êxito, viabilizando nosso ingresso de maneira incisiva na economia digital. O mundo avança e não podemos perder mais tempo nessa corrida pelo desenvolvimento, que proporcionará melhores condições de vida para nossa sociedade.

viveiros_strip_518332_0_web*Fernando Valente Pimentel é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

 

Foto: Divulgação

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Importantes definições. Parabéns presidente!

  Obviamente, todos esses avanços, que exigem investimentos, enfrentam os obstáculos da conjuntura recessiva do Brasil nos últimos anos, a qual sacrificou muito a liquidez das empresas.

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