Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Embora assuma que as mudanças climáticas são um problema que tem de ter uma resposta conjunta da sociedade, o CEO da H&M afirma que a pressão sobre os consumidores para não comprar terá um enorme impacto económico e na luta contra a pobreza. Uma visão que já foi criticada por ONG’s e meios de comunicação social.

Karl-Johan Persson

O CEO da H&M considera que um movimento crescente que pressiona e procura envergonhar os consumidores por irem às compras representa uma ameaça social real. Karl-Johan Persson, o CEO de 44 anos e filho do presidente do conselho de administração da H&M, abordou o tema durante uma entrevista à Bloomberg, referindo que há um movimento de acusação dos consumidores, que começou com aqueles que viajam de avião e está a disseminar-se para outras indústrias, incluindo a da moda. Esta pressão ganhou dimensão com Greta Thunberg, a ativista adolescente sueca, que tem inspirado milhões de pessoas em todo o mundo a irem para a rua e manifestarem o seu descontentamento com o que afirma ser uma crise climática.

Persson, que gere a H&M há uma década, refere que a sua preocupação é que este movimento esteja a, de alguma forma, proibir comportamentos. Muitos dos protestos são «sobre parar de fazer coisas, parar de consumir, parar de voar», explica na entrevista. «Sim, isso pode levar a um pequeno impacto ambiental, mas terá consequências sociais terríveis», aponta.

O CEO da H&M é uma figura central na indústria de moda, avaliada em 2,5 biliões de dólares (2,27 biliões de euros), que está sob um maior escrutínio devido às preocupações com a poluição e com os direitos dos trabalhadores nas economias em desenvolvimento, onde é produzida a maior parte do vestuário.

A Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas indica que parte do problema é que os consumidores têm estado obcecados por uma «era da fast fashion» que levou a uma «emergência ambiental e social». A indústria de vestuário é responsável por cerca de 10% das emissões de gases com efeito de estufa e consome mais energia que a aviação e o transporte marítimo juntos, segundo a ONU.

Persson sublinha que «a questão do clima é extremamente importante. É uma enorme ameaça e temos todos de a levar a sério – políticos, empresas, indivíduos. Ao mesmo tempo, a eliminação da pobreza é um objetivo que é pelo menos igualmente importante».

«Temos de reduzir o impacto ambiental», afirma Persson. «Ao mesmo tempo temos também de continuar a criar emprego, ter melhores cuidados de saúde e tudo o que vem com o crescimento económico», acrescenta.

O combate da H&M

«A moda a preços baixos encoraja, obviamente, os consumidores a comprarem mais frequentemente e a deitarem fora peças de vestuário que ainda podiam ser usadas. Os consumidores podem facilmente escolher tomar essa decisão mas, tal como na maior parte das áreas, querem ver os retalhistas a ajudarem-nos a fazer boas escolhas em termos ambientais», assegura Charles Allen, analista de retalho na Bloomberg.

A H&M estima que cerca de 70% do impacto do vestuário no clima acontece durante o processo de produção. Até 2040, a gigante sueca quer ser positiva em termos de clima, o que significa reduzir mais as emissões de gases com efeito de estufa do que aquelas que a sua cadeia de valor produz.

A retalhista afiança que é uma das maiores utilizadoras de algodão orgânico e reciclado, citando dados da organização sem fins lucrativos Textile Exchange. A H&M começou também a explorar alguns tecidos menos convencionais pensados especificamente para incorporar fibras recicladas, nomeadamente a partir de cascas de citrinos ou de redes de pesca velhas, e está também a trabalhar com os governos para ajudar a instalar painéis solares e outras soluções de energia renovável para tornar as fábricas locais mais sustentáveis.

Segundo Persson, coisas como «inovação ambiental, energia renovável e materiais melhorados» são formas melhores de responder às mudanças climáticas do que uma moratória no consumo. «Continuem a focar-se muito na questão ambiental, mas tenham uma discussão aberta sobre a solução», pede o CEO da H&M.

Alugar em vez de comprar

Além das novas matérias-primas e da utilização de algodão de fontes mais sustentáveis, a H&M está também a promover iniciativas que mostram que está a acompanhar a mudança de mentalidade dos consumidores.


Conscious Exclusive

A retalhista vai lançar, para já apenas na Suécia, a possibilidade dos consumidores alugarem peças selecionadas das suas coleções Conscious Exclusive, que vende desde 2012. Estas peças, com matérias-primas mais sustentáveis, estarão na loja Sergels Torg, em Estocolmo, que reabre no final de novembro. Os clientes que façam parte do programa de fidelização da H&M podem agendar uma reunião onde um stylist irá guiá-los numa experiência personalizada para selecionar opções e, no final, poderão alugar três peças por cerca de 350 coroas suecas (cerca de 33 euros) por artigo.

«Analisamos o aluguer de vestuário há algum tempo e estamos muito contentes por oferecer aos fãs de moda a possibilidade de alugarem algumas peças extraordinárias das nossas coleções Conscious Exclusive. Estamos desejosos de fazer uma avaliação, já que estamos dedicados a mudar a forma como a moda é produzida e consumida hoje», aponta o diretor de sustentabilidade da H&M, Pascal Brun.

Uma visão criticada

Sem a H&M ter feito, até agora, mais comentários, imediatamente após a publicação da entrevista as críticas ao discurso de Karl-Johan Persson não se fizeram esperar. O grupo de defesa dos direitos dos trabalhadores Labour Behind the Label considera, em declarações ao just-style.com, que os comentários de Persson foram, «na melhor das hipóteses mal direcionados e na pior enganadores», destacando que «na sua lógica distorcida, reduzir a fast fashion pode levar a um aumento da pobreza, já que o emprego e o crescimento económico iriam estagnar. Não temos de escolher entre melhorar os direitos humanos na indústria do vestuário ou reduzir o impacto ambiental. Na verdade, não podemos melhorar um sem o outro. Posicionar as preocupações ambientais como uma ameaça aos direitos humanos é divisivo e perigoso. O crescimento do consumidor consciente deve ser bem-vindo e não ser visto com resistência».

Persson ficou também sob fogo cerrado num artigo publicado pela Fast Company e assinado por Elizabeth Segran, que considera que «enquanto CEO de um enorme conglomerado de fast fashion, Persson é talvez o pior mensageiro possível para falar sobre a complexa transformação económica que terá lugar para que possamos sobreviver às mudanças climáticas». A escritora reconhece que as políticas ambientais podem resultar em «perda de empregos a curto prazo», mas destaca que «a fast fashion criou consequências terríveis para o mundo. Marcas como a H&M e a Inditex (que detém a Zara) passaram décadas a desenvolver cadeias de aprovisionamento que produzem vestuário o mais rápido e barato possível, levando outras marcas de moda a baixarem os preços para competirem», o que levou à busca de aprovisionamento em países em desenvolvimento onde «os trabalhadores muitas vezes trabalham sob condições horríveis».

https://www.portugaltextil.com/hm-alerta-para-ameaca-social/

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   Sem a H&M ter feito, até agora, mais comentários, imediatamente após a publicação da entrevista as críticas ao discurso de Karl-Johan Persson não se fizeram esperar.

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