Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

«O futuro passa por ser cada vez mais comercial e menos industrial»

Em apenas quatro anos, a João & Feliciano conseguiu uma quota de exportação de 60%, com presença sobretudo na Europa e nos EUA. O CEO Feliciano Azevedo assume a ambição de chegar mais longe e continuar a conquistar quota no mercado externo, não só pela vertente industrial mas também pelo lado comercial.

Feliciano Azevedo

A empresa, que tem o seu core business na tecelagem e divide o negócio entre os têxteis-lar e os tecidos para a moda, tem-se multiplicado em presenças internacionais. No ano passado, estreou-se na Heimtextil, na Market Week em Nova Iorque e na Maroc in Mode. Depois de bisar em Frankfurt, prepara-se agora para participar, pela primeira vez, na Première Vision Paris.

Para 2020, o CEO da João & Feliciano, Feliciano Azevedo, que emprega atualmente 80 pessoas, prepara a concretização de um investimento de 3,5 milhões de euros numa nova tecelagem, construída de raiz, que irá aumentar a capacidade produtiva em 20%, e antecipa um crescimento a dois dígitos, que deverá elevar o volume de negócios para 10 milhões de euros.

Que balanço fazem desta segunda presença na Heimtextil?

O nosso balanço é positivo. Este ano, como aumentámos à dimensão do stand, as nossas perspetivas eram boas. A feira correu bem, tivemos alguns contactos novos. Recebemos todos os clientes que tínhamos previsto receber. Mas ao longo do ano é que vamos ver se isso se transforma em faturação ou não.

O que destacaram em matéria de produto nesta feira?

Temos tudo o que é para casa, desde roupa de cama aos felpos, passando por homewear, e apresentamos tudo. Temos a nossa própria coleção e desenvolvemos a coleção para os nossos clientes, em parceria. E tem funcionado. Trazemos o know-how do vestuário para os têxteis-lar e, então, temos fibras como 100% liocel, liocel/linho, liocel/algodão, algodão/liocel/linho, várias misturas que fazemos e apresentamos, mas chega-se ao fim e vamos todos esbarrar no 100% algodão e no linho, que já é muito tradicional na cama. Também temos poliéster reciclado, mas ainda com pouca expressão.

A sustentabilidade ambiental é uma prioridade para a João & Feliciano?

Fomos das primeiras empresas a ser certificadas GOTS – Global Organic Textile Standard, que agora funciona muito bem nos têxteis-lar, mas estivemos quatro ou cinco anos a pagar certificados sem resultados absolutamente nenhuns. Em relação ao reciclado, há muitas perguntas, mas negócio de facto ainda não é nenhum. Os têxteis-lar são muito tradicionais e têm mais dificuldade em mudar. Acredito que comece por uma marca, depois duas e umas vão a reboque das outras, mas ainda vai demorar. Temos a certificação GRS – Global Recycle Standard desde setembro mas ainda temos de descobrir o caminho dos reciclados – temos de ver onde os vamos aplicar, porque podem funcionar muito bem de determinadas formas e de outras não. É um caminho que vamos ter que percorrer. Vamos ter que nos adaptar ao GRS porque não vamos poder pôr esta certificação em todos os produtos, pois a qualidade da matéria-prima não é a mesma.

Quanto representa o negócio dos têxteis-lar?

Os têxteis-lar representam cerca de 50% e o restante são tecidos para a área da moda e workwear.

Qual é a quota de exportação?

A quota de exportação é de 60%. O mercado nacional representa 40%, mas devem ser 40% de exportações indiretas, o mercado nacional puro não sei se chegará a 5%. O nosso caminho é a exportação. Há quatro anos exportávamos zero e passamos de zero para 60% num percurso muito rápido.

Têm alguma meta fixada?

É até ao céu. Em 2012 tínhamos 28 teares, hoje temos 60. Em 2020 deveremos fechar com 70 máquinas. Se me perguntasse em 2012 se pensava ter 70 máquinas em 2020, eu não estava à espera e crescemos. E já naquela altura toda a gente dizia que a indústria têxtil estava morta e enterrada. De 2012 até agora crescemos mais de 300%. Mas vamos continuar a lutar e vamos continuar a adaptar-nos ao mercado. Um dos nossos objetivos é dotar a empresa de capacidade comercial e não industrial. O futuro passa por ser cada vez mais comercial e menos industrial. Esta empresa tem capacidade para faturar 7 milhões, nós queremos faturar 12 milhões de euros.

Quais são os principais mercados internacionais da empresa?

Temos a Espanha, Alemanha, Suécia, França, Suíça e EUA. O mercado americano é muito grande, com muitas potencialidades e queremos ter lá uma presença mais forte. Fizemos as primeiras exportações em 2019 e, este ano, esperamos consolidar a nossa posição.

Que processos produtivos realizam dentro de portas?

Temos apenas tecelagem, os acabamentos subcontratamos e estabelecemos uma parceria com uma tinturaria de fio.

Qual é a capacidade industrial na tecelagem?

A tecelagem tem capacidade para 400 mil metros por mês, embora seja difícil de a preencher.

Há novos investimentos em cima da mesa?

Sim, vamos criar novas instalações para a tecelagem, que vai ocupar uma área de 4 mil metros quadrados. Será um pavilhão construído de raiz, com todas as condições necessárias. Deverá começar em fevereiro e vai permitir aumentar 20% à nossa capacidade.

Qual será a ordem de grandeza desse investimento?

É de cerca de 3,5 milhões de euros, incluindo as instalações e os equipamentos. No parque de máquinas já investimos 1,2 milhões de euros desse valor.

Como correu 2019?

O ano passado começou muito mal, mas depois as coisas foram-se compondo e acabamos dentro dos valores de 2018, nos 7 milhões de euros. Não houve crescimento, houve uma estagnação, o que para nós, devido à conjuntura económica, foi muito positivo. Neste momento, em relação ao período homólogo do ano passado, estamos em crescimento. Esperamos crescer acima dos dois dígitos. O nosso objetivo é chegar aos 10 milhões de euros.

De que forma será possível atingir tal volume de negócios já no corrente ano?

A perspetiva que temos este ano de chegar aos 10 milhões é baseada no trabalho que temos feito ao longo dos últimos dois anos. A consolidação da faturação de 2019 em relação a 2018 foi já resultado de um trabalho feito anteriormente, porque o mercado caiu. Sensivelmente, o mercado têxtil andará com quebras gerais entre 10% e 20%. O facto de termos mantido já se deve ao trabalho que vem detrás. Este ano esperamos, de facto, consolidar o trabalho que fizemos nos últimos dois anos e que ele se venha a refletir agora na faturação de 2020.

Algum mercado em particular poderá alimentar esse crescimento?

O mercado dos EUA e o mercado inglês, onde não estávamos mas vamos a passar a estar porque temos trabalhado nesse sentido. E agora, com a resolução do Brexit, as empresas britânicas já começam outra vez a aparecer. Era um mercado que estava completamente morto. Agora vamos ver como reagirá, mas estamos com muitos clientes, com os quais estamos praticamente a fechar contratos, que se vão refletir na faturação deste ano.

Vão participar em fevereiro, pela primeira vez, na Première Vision. Que razões estão subjacentes a esta aposta?

Já vamos há alguns anos à feira como visitantes. Começamos verdadeiramente a exportar há cerca de meia dúzia de anos. A exportação representa atualmente cerca de 60% da nossa faturação e começa a ser difícil irmos para uma feira e não ter alguma visibilidade, não termos um local onde receber os clientes. Então achamos que seria uma boa ideia fazer a feira este ano, pela primeira vez, até mesmo para reunir os agentes que temos na Europa. Ao fazermos a feira, vamos também estar mais perto do mercado africano. Estão lá muitas confeções marroquinas, algumas até já nossas clientes, que se abastecem na Europa e é uma forma de estarmos próximos. É mais fácil virem-nos visitar ao nosso stand do que irmos visitá-los ao stand deles. Se eles precisarem de alguma coisa, estamos ao pé deles.

O que vão apresentar no salão de tecidos?

Vamos mostrar uma coleção, mas não tenho grandes expectativas para a coleção. A ideia não é vender coleção, a ideia é estar presente. O stand acaba por ser um escritório. A coleção, por si só, não vende. Eu não acredito em coleções. Agora acredito que uma empresa deve ter visibilidade e deve estar presente. Vamos receber os nossos clientes e mostrar o que fazemos. Porque, muitas vezes, os clientes têm uma ideia completamente errada das empresas. Associam uma empresa a um determinado produto e não conhecem exatamente as suas valências. É para receber os nossos clientes, de modo a não acontecer como já aconteceu de um cliente dizer “eu também compro isto, não sabia que vocês faziam”.

Que expectativas têm para esta estreia em Paris?

Há muita gente que gosta de receber muitos clientes, mas depois, em termos de negócio, traduz-se em quase nada. Se recebermos um bom cliente por ano na feira, basta entrar um bom cliente, que já fico muito satisfeito. A nossa expectativa é consolidar os clientes que temos, recebê-los, conversar, ver, mostrar as nossas valências, porque alguns clientes ainda não nos foram visitar a Portugal e é uma forma de podermos mostrar aquilo que somos capazes de fazer. De certa forma, não tenho grandes expectativas, até porque é a primeira vez que vamos lá estar.

Como encara 2020 enquanto empresário têxtil?

Vejo o ano como toda a gente, com uma certa apreensão, mas também vi 2019 com uma certa apreensão e vejo a têxtil com uma certa apreensão há 20 anos. Sou um otimista por natureza. Aliás, somos uns otimistas por natureza. Isto é uma indústria para gente otimista e batalhadora. Acho que não há lugar para gente pessimista na têxtil. Porque a têxtil requer investimento e um pessimista não investe. E há duas formas de morrer na têxtil: a investir ou a não investir. Se não investir, morre de certeza absoluta. Hoje em dia, à velocidade com que as coisas andam, se as pessoas se não se adaptam… Não é estar 10 ou 15 anos sem fazer um investimento e depois, de repente, fazer um grande investimento de uma vez só. Não funciona. Tem de ser progressivo. E é assim que vejo os próximos anos. Muito trabalho e procurar estar na linha da frente. Difícil vai estar sempre – o mercado têxtil a nível mundial, neste momento, está difícil porque a oferta é muito maior que a procura, há desequilíbrio. E como existe esse desequilíbrio, é natural que vá haver dificuldades. E estamos à espera delas para as controlar.

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