Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Nos mercados emergentes que dependem do petróleo para manter as suas economias, a queda drástica nos preços começa a causar nervosismo aos líderes da indústria.

O portal The Business of Fashion recolheu os testemunhos de alguns insiders da indústria da moda, como a designer Aika Jaxybai, sobre o preço do petróleo – algo que poderia soar estranho em qualquer outra localização geográfica, mas ali, o mercado de petróleo move tudo e todos, até porque nenhum negócio está imune às oscilações dos seus preços.

«É óbvio que as pessoas não estão com pressa de gastar o dinheiro em moda», disse Jaxybai, designer e consultora de retalhistas de importações de luxo. «A maioria das grandes marcas, lojas multimarca e retalhistas aqui têm menos pessoas a comprar, mesmo durante a temporada de saldos, e tudo pode ser rasteado até à queda no petróleo», explicou.

O preço global do petróleo caiu 75% em menos de dois anos, um declínio vertiginoso que está a começar a afetar alguns dos mercados emergentes nos quais as marcas de moda se foram expandindo nos últimos anos.

O sector dos hidrocarbonetos alimenta as economias da Rússia, do Cazaquistão e do Azerbaijão, bem como outros países dependentes do petróleo e do gás, como a Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos e países africanos como a Nigéria e Angola.

Ao longo da última década, os grandes armazéns de luxo ocidentais, como a Harvey Nichols e a Saks Fifth Avenue abriram franchises nalguns destes países. Enquanto isso, uma constelação de marcas de luxo – da Hermès até à Zegna – passou a confiar nestas localizações para cumprir as suas metas de crescimento, pesando nos lucros ou compensando na receita perdida em alguns dos seus mercados estabelecidos.

Quando há um declínio dramático e sustentado nos preços do petróleo, quer a confiança dos consumidores, quer a dos investidores nos países onde o petróleo é vital para a economia tendem a cair.

No Cazaquistão, o petróleo representa 1/4 do PIB e mais de metade das exportações do país, por isso, não foi nenhuma surpresa quando o petróleo desencadeou a estagnação do país no outono passado.

«A moda e o luxo estão a assistir a tempos difíceis aqui onde cerca de 95% da moda é importada», explicou Jaxybai. «As empresas tiveram de ajustar os seus preços, recalculando-os numa nova taxa desvalorizada em relação ao euro e ao dólar, o que tornou todas as mercadorias importadas duas vezes mais caras em tenge, a moeda local. Isto afetou a confiança dos consumidores e as vendas», acrescentou.

Ainda que tenha subido para os 30 dólares (aproximadamente 27,5 euros) na semana passada, o preço do Brent havia caído para o valor mais baixo em 13 anos para 28 dólares por barril na semana anterior.

À data, os bancos de investimento como o Morgan Stanley deixaram a indústria do petróleo num estado de pânico quando emitiram uma previsão de que o preço do barril poderia deslizar para os 10 a 20 dólares ainda este ano.

As maiores preocupações são a rápida valorização do dólar norte-americano e quanto o Irão acrescentará à oferta quando começar a exportar, depois das sanções serem levantadas.

Se as previsões mais pessimistas se tornarem realidade, os mercados como a Nigéria, um país onde o sector de petróleo e gás corresponde a cerca de 35% do PIB e mais de 90% das receitas de exportação, poderão assistir a um sério embate. De acordo com Omoyemi Akerele, fundador da Lagos Fashion & Design Week, a queda atual no preço do petróleo está a comandar um crescente sentimento de incerteza no país.

No entanto, alguns analistas não se revelam muito preocupados com as repercussões a longo prazo, porque consideram os preços correntes «irracionalmente baixos» e, portanto, insustentáveis. Nesta altura há também rumores de um possível acordo para a redução da produção de petróleo quer pelos membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) quer pelos países não-OPEP, pelo que alguns especialistas estão a pintar um quadro mais otimista.

«Acreditamos que a atual fraqueza dos preços é bastante exagerada, e está a ser impulsionada por fatores fora do mercado do petróleo, como por exemplo as preocupações com a saúde da economia chinesa e global e a subida do dólar», referiu Peter Lee, analista da BMI Research Research, em Singapura, que prevê que os preços do petróleo subam para uma média de 47,5 dólares por barril no segundo semestre de 2016.

«Esperamos que uma resposta mais forte do lado da oferta leve a uma ligeira recuperação nos preços [mas], ainda que estes recuperem gradualmente a curto e médio prazo, prevemos que a procura permaneça fraca [garantindo] que o excesso de oferta atual no mercado global permaneça intacto até 2018-2019».

Para o mercado russo, até uma retoma modesta dos preços pode tardar. As previsões variam em torno do quão dependente a Rússia estará do petróleo e do gás, mas a maioria dos analistas concorda que o governo russo não ouviu os apelos que incitavam à diversificação.

A atual rota do petróleo faz parte de um cenário de instabilidade económica muito mais amplo na Rússia, relacionado com a uma redução no investimento estrangeiro, com a desvalorização da moeda nacional e com as sanções económicas causadas por tensões geopolíticas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou recentemente na sua previsão de crescimento para a Rússia, estimando que a economia deverá encolher até 1% em 2016.

«O estado de espírito de alguns líderes é bastante negativo [mas há] oportunidades. Um aspeto positivo é que os centros comerciais estão a tornar-se mais flexíveis», admitiu Alexander Shumsky, presidente da Mercedes-Benz Fashion Week Rússia.

Em vez de cobrarem renda fixa, alguns espaços oferecem agora uma percentagem do volume de negócios, informou Shumsky. «Assim, abriram muitas lojas multimarca russas nos últimos seis meses em Moscovo, São Petersburgo e noutros shoppings da cidade».

A queda dos preços do petróleo também tem efeito nos investidores. Muitos mercados emergentes têm em mãos grandes desenvolvimentos de infraestruturas de moda relevantes, sejam eles projetos ou estando já em fase de construção, tais como centros comerciais, unidades industriais e centros de produção. Se os preços do petróleo continuarem a cair, alguns desses projetos podem ser adiados ou mesmo cancelados.

No entanto, as maiores atualizações do retalho de moda do Cazaquistão não estão atualmente em risco, sublinhou Agnieszka Nowak, diretora do Esentai Mall, em Almaty. Ainda que reconheça o ambiente desafiante provocado pelo petróleo barato, Nowak ajustou ligeiramente o seu planeamento e um investimento de 30 milhões de dólares para reestruturar o shopping de luxo arrancou em setembro.

Alguns dos países mais dependentes do sector do petróleo e gás podem ser encontrados no Médio Oriente, mas, até agora, a maioria dos grandes espaços comerciais da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Egito aparentam estar seguros. A consultora imobiliária JLL publicou um relatório em dezembro que informava que os fluxos de capital na região ainda não tinham diminuído.

Mesmo com o volume de compradores russos em queda no Dubai e Abu Dhabi, a consultora Bain & Company apresentou crescimento marginal no mercado de luxo do Médio Oriente no ano passado. As autoridades do turismo informaram ainda que a queda nos gastos russos foi compensada pelo aumento das visitas chinesa, saudita e indiana.

E, embora o FMI tenha cortado as suas previsões de crescimento dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita para 2016, estas economias deverão ainda crescer 2,6% e 1,2% respetivamente.

De acordo com Patrick Chalhoub, CEO do Chalhoub Group, os preços do petróleo estão a afetar o comércio de luxo do Golfo através das flutuações cambiais. «Os turistas e consumidores locais consideram que os preços estão mais caros no Médio Oriente, o que nos obrigou a reagir e a fazer todos os ajustes necessários, ainda que isso esteja a afetar as nossas margens», referiu Chalhoub, parceiro de retalho para a Louis Vuitton, Christian Dior e Marc Jacobs na região.

Ayman Fakoussa, sócio da The Qode, uma empresa de relações públicas do Dubai que atende clientes de luxo como a Hermès e a Berluti, caracteriza o clima entre os jogadores de moda no Golfo Pérsico como apreensivo. «Definitivamente, temos visto alguns dos grandes jogadores a tomarem medidas mais drásticas para cortar custos e reduzir gastos. No entanto, não acho que um pequeno solavanco na estrada vá afetar a dinâmica global, que se tem vindo a construir ao longo dos últimos anos», destacou.

Além disso, nem todos os mercados emergentes estão no lado perdedor de um preço de petróleo em queda. «Isto vai ajudar as principais economias emergentes, como a Índia, Paquistão e Filipinas, uma vez que os preços dos combustíveis mais baratos ajudam a impulsionar os gastos do consumidor e a acelerar a industrialização. A China também sairá beneficiada», anteviu Peter Lee.

FONTETHE BUSINESS OF FASHION

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dentro de 10 anos..25% de carros elétricos devem fazer parte da frota automotiva mundial ...os custos ainda serão menores que os praticados hoje em carros abastecidos a gasolina/etanol...mas por problema de política e dependência econômica este prazo deve se estender por até 20 a 30 anos, o que é uma pena, pela poluição sobretudo.
adalberto

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