Enquanto Xi Jinping concordou na compra de produtos agrícolas aos EUA e no regresso à mesa de conversações, Donald Trump recuou no boicote às empresas norte-americanas que fornecem a gigante tecnológica chinesa Huawei e na imposição de novas tarifas às exportações chinesas. No entanto, não foi definida nenhuma data limite para o avançar de um acordo e as duas potencias mundiais continuam a não concordar em relação a partes significativas do acordo.
No final do encontro, o presidente dos EUA afirmou que a reunião entre os dois correu «muito bem» e que as negociações «estão de volta ao caminho certo. Vamos suspender, por tempo indeterminado, o reforço das tarifas sobre as importações chinesas e eles vão comprar produtos agrícolas dos EUA», revelou, sem adiantar pormenores. Horas mais tarde, o presidente norte-americano escreveu na rede social Twitter que o encontro com Xi Jinping correu «muito melhor do que o esperado. Não estou com pressa, mas o cenário é animador». Do lado da China, em comunicado, o ministro dos negócios estrangeiros, Wang Yi, declarou que esperava que os EUA tratassem as empresas chinesas de forma justa. «A China é sincera nas contínuas negociações com os EUA…, mas as negociações devem justas e ambos devem mostrar respeito», defendeu Yi.
Recorde-se que o presidente dos EUA ameaçou implementar taxas sobre produtos chineses na ordem dos 300 mil milhões de dólares (aproximadamente 265 mil milhões de euros), incluindo em bens de consumo, se o encontro no Japão não fosse bem-sucedido. Tal decisão poderia ter estendido as atuais taxas a quase todas as importações de produtos chineses que rumam aos EUA.
Donald Trump, XiJ Jinping , Angela Merkel, Mauricio Macri e Malcolm Turnbull
Em relação à Huawei Technologies Co, gigante chinesa das telecomunicações, também houve uma oferta de paz. O Departamento do Comércio dos EUA tinha proibido a tecnológica de comprar componentes a empresas dos EUA sem a aprovação do governo. Depois do encontro, Donald Trump admitiu que a medida não era justa para os fornecedores dos EUA. «Nós concordamos que as empresas norte-americanas podem vender produtos à Huawei, porque não era uma questão de segurança nacional», explicou.
O olhar da ITV norte-americana
A decisão surge depois de, ao longo de cerca de duas semanas, o Departamento do Comércio do governo norte-americano ter realizado uma audição acerca da subida das taxas, que iriam afetar a indústria têxtil, de vestuário e de calçado. Centenas de empresas e representantes da indústria testemunharam, incluindo a National Retail Federation (NRF), a American Apparel and Footwear Association, a National Council of Textile Organisations e a United States Fashion Industry Association.
Na audição, a NRF apelou ao governo que reavaliasse a estratégia, apresentando mesmo um relatório que provava que, caso fossem impostas as taxas sobre o equivalente a 300 mil milhões de dólares de bens chineses importados, os consumidores norte-americanos pagariam, por ano, mais 4,4 mil milhões de dólares (3,8 mil milhões de euros) por artigos de vestuário e mais 2,5 mil milhões de dólares por calçado. «Ficamos felizes pelo progresso deste encontro e esperamos que resulte numa abordagem construtiva em relação à China, para que sejam levadas a cabo reformas importantes, em vez de medidas que prejudiquem os consumidores norte-americanos e ameacem postos de trabalho», regozijou-se David French, vice-presidente sénior da NRF, citado pelo just-style.com. «Recuar em relação à imposição de mais tarifas é uma boa notícia para os retalhistas e para os seus clientes. Estamos entusiasmados em relação à evolução das conversações com a China para que se possa evitar mais taxas e se levantem as que já foram impostas», confessou.
Alívio e ceticismo
Especialistas, incluindo antigos diplomatas norte-americanos, apelaram a Donald Trump que repensasse as medidas e que tratasse a China «como um inimigo», alertando que a nova abordagem poderá prejudicar os interesses dos EUA e da economia global, segundo uma carta aberta a que a Reuters teve acesso.
Christin Lagarde e Shinzo Abe
Contudo, investidores, empresários e líderes financeiros têm, há vários meses, alertado que a guerra comercial e a imposição de tarifas entre os dois países podem afetar a cadeia de aprovisionamento mundial e prejudicar a economia global. Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, apelou aos decisores políticos do G20 que reduzissem as taxas e outros obstáculos à comercialização, alertando que a economia mundial estava a passar por um período difícil devido ao conflito.
Embora alguns analistas tenham elogiado as tréguas entre Washington e Pequim, alguns questionam se os dois lados conseguiriam dar seguimento às negociações, para pôr fim à divisão e consolidar um acordo duradouro. «Achar que estas tréguas significam num abrandamento da guerra comercial está longe de ser verdade… especialmente numa altura em que o que está em jogo vai além da economia, pois inclui questões de segurança nacional», considera Mohamed El-Erian, consultor de economia da Allianz.
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