Empresas brasileiras do setor não conseguem fazer frente à concorrência dos produtos asiáticos
Dilézio Ciamarro em sua fábrica:
O governo estima que a Copa do Mundo irá injetar no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro R$ 183 bilhões entre 2010 e 2019. E o setor têxtil sonhava em abocanhar parte desse bolo.
Mas o pedaço foi bem menor do que os empresários desejavam. No Polo Têxtil da Região de Americana, as empresas investiram em maquinários nos últimos anos para atender a demanda que seria gerada pelo Mundial - e hoje amargam números bem abaixo do projetado.
O grande problema é a invasão de produtos chineses, que vão desde insumos até produtos prontos, como as bandeiras. Fabricantes que já estavam acostumados a aumentar a produção de peças verde e amarelas durante outros mundiais registraram apenas 20% do volume com os quais trabalharam no passado.
A situação não é a mesma para todos os elos da cadeia. As empresas mais atingidas são as que sofrem a concorrência direta dos chineses, mas outros segmentos que se beneficiam da facilidade de comprar produtos importados mais baratos e vendê-los no Brasil não têm do que reclamar.
Os industriais têxteis lembram que o varejo adquire peças acabadas da China, Bangladesh e Vietnã. As entidades representantes do setor têxtil pressionam os governos estadual e federal para que adotem políticas públicas que elevem a competitividade das empresas, especialmente dos elos mais frágeis da cadeia produtiva.
A pauta inclui pedidos como um regime diferenciado de tributação. Em Americana, pelo menos 50 empresas do ramo têxtil foram fechadas no últimos cinco anos, segundo informações do Sindicato das Indústrias de Tecelagens de Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré (Sinditec).
O presidente da entidade, Dilézio Ciamarro, afirma que a Copa do Mundo era uma ótima oportunidade para alavancar o setor têxtil brasileiro. “Mas poucas empresas do setor estão se beneficiando com o Mundial. Boa parte dos insumos e produtos acabados que serão comercializados no mercado virá da Ásia, principalmente da China. Os chineses estão produzindo a nossa Copa. Vamos comemorar as vitórias do Brasil com bandeiras made in China”, lamenta.
Ciamarro critica a postura dos governantes brasileiros, que não instituem políticas para elevar a competitividade do setor. “Os governos de alguns países da Ásia, especialmente a China, dão fortes subsídios e incentivos fiscais ao setor têxtil. No Brasil, 59% dos custos da indústria são de tributos, enquanto o imposto de importação é de 30%. Para muitos empresários, é mais interessante trazer o produto de fora”, diz.
Ele frisa que, mesmo com a alta do dólar, o produto chinês ainda é mais barato do que o nacional. Ciamarro diz que o setor não quer protecionismo, e sim isonomia em relação ao produto importado.
“A indústria têxtil é um patrimônio de mais de 100 anos no Brasil. Os governos deviam ter mais atenção com o setor, que gera milhares de empregos no País”, diz. Ciamarro comenta que nos últimos cinco anos pelo menos 50 empresas fecharam as portas no polo têxtil. “A média é de dez por ano. Há elos da cadeia, como acabamento, que são mais vulneráveis'”, afirma.