O presidente da Marisol e membro do conselho do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), Giuliano Donini, afirma que o setor têxtil não faz parte das prioridades macroeconômicas do governo.
Ele também critica o excesso de informalidade e enxerga o protecionismo como algo negativo. Propõe a necessidade de a indústria nacional melhorar sua produtividade para ser competitiva.
— Somos reféns das commoditties. A China não é protecionista. É estratégica.
O executivo ressalta o SCMC, criado em 2005, como uma forma de fazer com que o Estado deixasse de ser apenas uma potência industrial no setor para ser destaque também em criação e comportamento.
Para isso, a instituição criou programas como o Inteligência Compartilhada, no qual universitários e equipes multidisciplinares das empresas parceiras trabalham juntas.
— Os alunos recebem um pouco mais de vivência e saem dos cursos mais preparados para o mercado, e os profissionais têm uma oxigenação com este olhar inovador. Neste ano, o resultado do programa será apresentado no dia 30 de novembro, no Stage Music Park, em Florianópolis.
— O projeto trouxe evolução. Não só para as indústrias, que abriram suas portas para estudantes, mas também na maneira de ver do empresariado catarinense.
INSTABILIDADE JURÍDICA
– Em todos os ambientes (países, poderes e segmentos econômicos) temos todos os
perfis de comportamentos, dos mais atrasados aos mais inovadores. Mas devemos, sempre, considerar que empreender no Brasil é um desafio.
— A instabilidade jurídica, a falta de um planejamento de país, de investimentos efetivos e com serviços públicos de baixíssimo nível não são incentivadores de empreendedorismo. Empreender significa correr riscos, mas quando o ambiente não ajuda, inibe muitas iniciativas.
GESTÃO FAMILIAR
– Não dá para generalizar o comportamento das empresas familiares. Temos exemplos belíssimos em vários segmentos econômicos de empresas muito bem geridas, diversas inclusive como líderes de setor, que têm sua gestão ainda hoje familiar. É relevante considerar que a maioria dos empreendimentos que hoje conhecemos ou dos produtos que consumimos no nosso dia a dia tem origem em empresas familiares, mesmo que seus controles e comandos possam ter sido migrados para outros modelos ao longo dos anos.
BARREIRAS PARA O SETOR
– O setor do vestuário, assim como toda a cadeia têxtil, não faz parte da pauta preferencial das políticas macroeconômicas, mesmo sendo um dos principais setores em termos de geração de empregos. A estrutura tributária em cascata penaliza fortemente este setor. O custo para a geração de empregos é outro entrave. A guerra fiscal contribui negativamente. O setor vive, sim, momentos de dificuldade.
INFORMALIDADE
– Um ponto que também afeta é o excesso de informalidade, gerando uma concorrência desleal. Os controles são pouco eficazes e a falta de seriedade de alguns compromete ainda mais um segmento que já enfrenta uma lista não pequena de variáveis a gerir.
CHINA
– Não vejo a China como protecionista. Vejo como estrategista, que estabelece ciclos planejados de desenvolvimento, focados nos seus interesses e nos interesses de sua população. Em vez de lamentarmos e tentarmos criar barreiras protecionistas, precisamos ser mais competitivos, tanto para o foco no mercado interno, quanto em exportações. Vejo o protecionismo como algo que engessa a competitividade e a criatividade.
PRIORIDADES
– As políticas públicas deveriam induzir à produtividade. A falta de mão de obra minimamente qualificada, a soma de encargos elevadíssimos, o custo de vida crescente e uma cadeia de valor muito taxada inibem muito o desenvolvimento. A desoneração parcial da folha de pagamento, que parecia ser um facilitador, foi seguida de uma sobretaxação na receita. Obviamente, não adianta este tipo de movimento. No ambiente regional, precisamos continuar investindo em qualificação e desenvolvimento das empresas.
TAMANHO DO SCMC
– Da criação em 2005 para cá, foram 39 participantes no projeto. Hoje, temos 21 com atuação ativa. É o maior número desde o início do projeto. Somados os recursos investidos pelas companhias parceiras, e mais alguns aportes de entidades como Fiesc e Abit, são mais de R$ 5 milhões aplicados no projeto em oito anos. As empresas participantes, neste ano, empregam mais de 25 mil pessoas e faturam R$ 4,2 bilhões.
PRÓXIMAS METAS
– O grande desafio que enfrentamos neste momento é, ao mesmo tempo, nos fortalecermos como um projeto muito ligado à moda e também atingirmos outros segmentos. Acredito que já demos passos importantes: temos neste ano uma agência de publicidade e, desde o ano passado, uma empresa de software. Todos ligados ao universo da moda. Nossa busca, daqui por diante, é fazer com que Santa Catarina se reconheça como resort.
INSTITUIÇÕES DE ENSINO
– Nos oito anos, 18 entidades de ensino participaram. Atualmente, são nove. Neste ano, aumentou o número dos alunos de design de moda, design de produto e design gráfico no processo seletivo para o projeto. Trezentos alunos já desenvolveram as coleções.
INVESTIMENTOS x IMPORTÂNCIA
– Para a realização do Rio à Porter, por exemplo, o governo carioca e a Firjan investem R$ 18 milhões (sendo que o PIB têxtil no Rio é de R$ 6,5 bilhões). Para o Minas Trend Preview, o governo mineiro e a Fiemg investem R$ 8 milhões (sendo que o PIB têxtil em Minas é de R$ 11,9 bilhões).
— Juntas, as empresas ligadas ao SCMC e a Fiesc investem R$ 800 mil para o projeto e o nosso PIB têxtil é de R$ 17,9 bilhões. É pouco considerando que temos 3 mil têxteis (17% do montante nacional). Juntas, elas faturam 16,6% do montante nacional e empregam 170 mil pessoas.
APOIADORES DO PROJETO
– Alguns dos nossos grandes incentivadores são a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Programa de Exportação da Indústria da Moda Brasileira (Texbrasil). Elas ajudam na disseminação de informações de mercado e do SCMC, além da promoção de eventos (palestras e workshops), missões internacionais e com aporte financeiro.
UNIÃO
– Somos aliados na construção de uma identidade.
LIÇÕES DA CRISE
– Criatividade, inovação e coragem. Invariavelmente, temos uma cultura empresarial que tem grande capacidade de adaptação, é empreendedora e enfrenta as nossas “crises”. Mas se conseguíssemos concentrar todo esse potencial em um ambiente mais indutor ao investimento, ao crescimento e à competitividade, poderíamos almejar uma economia forte, com maior estabilidade.
REFÉM
– Somos reféns de commodities. Precisamos agregar valor aos nossos produtos, que passariam a ser menos substituíveis e mais rentáveis. Como reflexo, além do econômico, seguramente teríamos uma sociedade mais igualitária e desenvolvida, sem a necessidade de excessos de assistencialismos.
PLANO DE PAÍS
— O mundo é globalizado, as economias são interdependentes e as pessoas buscam estas vivências internacionais. Não podemos nos entender como uma ilha. E neste sentido, a abertura é importante, mas temos de ter um plano efetivo de país e não de poderes, para que no médio e longo prazo tenhamos um ambiente interno equilibrado e desenvolvido econômica, social e intelectualmente.
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/noticia/2013/10/presiden...