Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A arte de improvisar: as lições do Jazz para o mundo corporativo

Fonte:|administradores.com.br|

No mundo organizacional moderno, existe o mito de que trabalhar em grandes grupos é praticamente impossível. Por quê?

Por André Acioli & Luiz Henrique

Você gosta de Jazz? ... Não precisa responder.

Se você não ouviu esta pergunta, provavelmente ainda não ocupa cargo executivo de destaque na empresa em que trabalha. Isso porque nove entre 10 executivos de destaque adoram ouvir Jazz (ou dizem adorar).

Esperamos que não tenha ficado assustado! Esta pesquisa não tem nada de científica. Foi realizada por nós mesmos, em contatos informais com executivos das nossas próprias redes de relacionamentos. Cabe,
portanto, a prova dos nove.

É bem provável que para os músicos de Jazz, pouco importa o quanto este estilo tem a ver com o mundo corporativo, mas para os que apreciam o Jazz, saber as possíveis correlações entre um e outro talvez seja,
no mínimo, motivo para ouvir boas músicas. Pois a partir de agora,
vejamos algumas.

As Big Bands, por exemplo, eram grandes orquestras compostas por músicos em número de doze a vinte e cinco. Marcaram uma época e tiveram grande sucesso até a revolução do Bebop.

No mundo organizacional moderno, existe o mito de que trabalhar em grandes grupos é praticamente impossível. Por quê? Excesso de vaidades, falta de liderança ou inexistência do entendimento de um objetivo
comum? Por que nas Big Bands grandes grupos davam certo e nas
organizações não?

As Jam Sessions, nome que deriva de Jazz After Midnight, por começar após a meia-noite e não ter hora para terminar, são famosas por serem verdadeiros espaços para duelos de improvisação entre músicos,
principalmente sax tenoristas.

Quando falamos em improviso, é possível que o nosso leitor imagine uma sucessão de acordes que, por mais bem que fossem tocados, eram frutos de inspiração, ali, naquele exato momento. Se você acredita
nisso, engana-se. Tamanho era o conhecimento que, apesar de gerados
ali, os acordes ouvidos já haviam sido planejados e avaliados, segundos
antes. No improviso praticado pelos grandes do Jazz, a inspiração
contava muito pouco; valia sim, a velocidade de implementação.

No mundo corporativo não é tão diferente. "Gênios" improvisam, mas ser "gênio" requer esforços incomuns para ter a melhor resposta no menor tempo e, para isso, muito há que se estudar, praticar, tentar.
Talvez seja cômodo não ser "gênio".

Duke Ellington era um desses gênios. Foi arranjador, compositor, pianista e líder de orquestra e, tinha excelência em tudo o que fazia. Um grande exemplo da capacidade humana de se fazer muitas coisas e bem.
Só por curiosidade: como é visto o colaborador que "faz tudo bem
feito" na sua organização? Neste exato momento, você deve estar se
lembrando dele: agitado, mesa cheia de papéis, por vezes, sequer almoça
e, acredite, raramente é promovido! Seria demais inferir que, no mundo
moderno, excesso de competências é castigo?

Jazz e organizações podem identificar, sem esforços, profissionais de grande criatividade. Destes, muitos esbarrarão em questionamentos e dificuldades que os inibirão a continuar a busca pela implementação de
suas criações; outros poucos, não se darão como vencidos até que as
idéias valiosas se transformem em atos e fatos. Da perseverança deste
tipo de músico registram-se avanços em harmonia, melodia, timbre,
ritmo, arranjo, fraseado.

Valorizada por dez entre dez músicos do Jazz, a inovação também o é por nove entre dez empresas. Criatividade é importante, mas nada modifica se não for implementada. A confiança e a ousadia em
implementar estas novas idéias é que transforma uma pessoa criativa em
inovadora.

Coragem para mudar. Mudar pressupõe abrir mão do status atual; envolve perdas reais e ganhos potenciais. Não há que se culpar a natureza das pessoas; há aquelas mais ousadas, dispostas a arriscar
mais e outras, mais conservadoras. Como qualquer investimento, seja no
Jazz, na Bovespa ou nas empresas, os ganhos tendem a ser proporcionais
aos riscos. Assim, acomodar-se é uma forma de se ver condenado a
pequenos ganhos.

Ficar mais velho é sempre uma preocupação dos profissionais do mundo corporativo ocidental. Não sabemos se pela necessidade de viver a vida intensamente ou por entender que a arte não sofre com as fronteiras do
tempo, tal preocupação parece não existir entre os músicos de Jazz.
Grande parte deixa o convívio terreno precocemente (sobre alguns deles,
falaremos mais adiante); outros, como o nonagenário Clark Terry, e o
octogenário Lee Konitz, por exemplo, continuam a tocar, e bem, ainda
hoje. Hank Jones que trabalhou até os 93 anos, faleceu no último mês de
maio, em plena atividade. Que não no Oriente, quantos profissionais,
em plena capacidade produtiva são considerados obsoletos pelo mundo
corporativo e, compulsoriamente, aposentados?

O Jazz, assim como as empresas, registra "colaboradores-problema". Viver muito em pouco tempo. Para alguns, como Billie Holiday, Charlie Parker e John Coltrane, a máxima dos excessos foi levada ao pé da
letra. Billie faleceu aos 44, Parker, antes de completar 35 e Coltrane,
com pouco mais de 40. Talentos apagados em pleno auge das carreiras;
colaboradores perdidos por rotulados "perdidos", em plena capacidade
produtiva.

Por outro lado, o Jazz nos proporciona exemplos de artistas que se destacaram pela solicitude e competência; "talentos do bem" como Ella Fitzgerald, por exemplo. A artista morreu aos 80 anos de idade, em
1996, com esta mesma fama. Johnny Hodges, saxofonista de primeira
linha, tocou na banda de Duke Ellington por mais de 40 anos, sendo um
dos seus destaques até falecer, em 1970. Dois exemplos de talentos
reconhecidos e mantidos. Colaboradores que permaneceram nos quadros das
organizações em reconhecimento às suas capacidades produtivas.

Investir, recuperar ou demitir? Como fazer para reter talentos e aumentar o ativo

intelectual da empresa? Estas são discussões que permeiam mais do que corredores e salas; são decisões que podem estar associadas aos valores da própria empresa, à visão do seu papel na sociedade e à
própria sociedade em que está inserida.

Art Tatum era cego de um olho, Thelonious Monk tinha um jeito insólito de tocar piano com os dedos estendidos e parecia "batucar" nas teclas. O universo jazzístico não permitiu que preconceitos lhes
impedissem de atingir o sucesso. Como são vistos aqueles que, nas
organizações, atuam de maneira diferente da "consagrada"?

Sonny Stit, saxofonista, segundo pares e analistas, poderia ser hoje reconhecido como um "monstro" sagrado do sax alto. Por que não o é? Simples: estava na contramão do sucesso. Primava pela qualidade de vida
e, até morrer, não modificou seus ideais. É curioso como o discurso da
excelência da qualidade de vida está em voga nas empresas há mais de
10 anos e, por incrível que pareça, poucos são os que a ele aderem.
Optar por ele, assim como Stitt o fez, é dizer não ao reconhecimento do
sucesso por outros, de dinheiro, de fama, de poder. Talvez este
discurso ainda tenha outros tantos anos a percorrer até que as pessoas
sejam estimuladas a rever seus próprios valores.

É claro que aqui não falamos de todas as estrelas do Jazz nem dos seus grandes feitos. Por mais que gostemos de falar deste assunto, a proposta do presente artigo é a de apresentar algumas das possíveis
associações entre o Jazz e as empresas e, sem a pretensão de
exauri-las, promover questionamentos que nos levem à reflexão dos
modelos e comportamentos que ora adotamos no mundo corporativo. Não
imaginamos soluções por não haver "verdades". As "verdades" mudam;
assim como muda o mundo.

Existem muitos outros exemplos de possíveis associações. Algumas delas abordamos em nossas palestras e cursos; outras, preferimos que você mesmo as busque. Há muito conhecimento nas entranhas do Jazz. Há,
no entanto, muito mais ainda que, sobre ele, nós, participantes do
universo corporativo, devamos repensar.

*André Acioli é administrador, mestre pelo Coppead-Ufrj, consultor de empresas, professor universitário na Mackenzie Rio e chef fundador do Boteco do Conhecimento.

Luiz Henrique é jornalista, economista, consultor de empresas, produtor, crítico e pesquisador musical de jazz e blues, além de chef do Boteco do Conhecimento.


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Comentário de Fabio Germiniani-TRIUMPH TEXTIL em 28 setembro 2010 às 11:02
excelente!! analogia e simplicidade sao peças fundamentais em processos de analise como este...muito, muito bom tambem pelo lado do Jazz...Parabens!!
Comentário de Cardoso em 28 setembro 2010 às 10:10
Muito bom este artigo, as semelhanças entre um e outro mostra que mais que conhecimento é preciso ousadia.

Alberto Cardoso

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