Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Alta no preço do algodão afeta indústrias do MS


A alta no preço do algodão por conta da quebra de safra de importantes produtores mundiais, como Paquistão, e a decisão da Índia de suspender as vendas para o mercado externo já está afetando as indústrias têxteis e de fios em Mato Grosso do Sul. Conforme o presidente do Sindivest/MS (Sindicato das Indústrias do Vestuário, Tecelagem e Fiação de Mato Grosso do Sul), José Francisco Veloso Ribeiro, a situação vem desde o quarto trimestre do ano passado.

“O algodão brasileiro acabou tornando-se uma das poucas opções e fez com que os produtores preferissem exportar, principalmente para a China. Isso deixou o mercado interno com falta de produto e as indústrias em situação de instabilidade para produzir”, afirmou Francisco Veloso, acrescentando que em um pequeno período o preço da matéria prima subiu muito e continua oscilando, o que mantém o clima de incertezas para a indústria.

Ele informa que em um período de seis meses a alta do algodão chegou a 150% e o preço da pluma está variando muito. “O momento é de insegurança para a indústria que não tem base para se preparar para o futuro e que tem mantido as máquinas rodando porque se parar pode ficar pior ainda, mas isso é hoje, amanhã pode ser outro momento”, explicou, reforçando que as mudanças nas cotações tem sido repentinas e que a tendência de alta ainda permanece.

Descontrole

Essa rotina de incertezas afeta em jeito a Copasul, localizada em Naviraí, região sul do Estado, onde o gerente comercial Jaime de Oliveira Macedo explica que, a cada compra, a matéria prima tem preço variado. “A matéria prima sobe diariamente, tanto no mercado nacional, quanto no internacional. Essa volatilidade imprime dificuldade para estabelecer preço para o produto. Hoje é inseguro estabelecer um preço”, explicou, acrescentando que a pluma está custando em média R$ 8,25 o quilo.

De acordo com ele, o momento é de instabilidade porque as fiações não conseguem repassar esses custos maiores para as têxteis. “Com o algodão nesse patamar de preço, não é possível repassar o valor para o fio e é uma dificuldade vender o fio no preço adequado. Hoje estamos comercializando em média com 25% de defasagem” contou.

Segundo Jaime Macedo, as empresas devem trabalhar nesse clima instável até o meio deste ano. “As indústrias estão trabalhando no vermelho e devem continuar segurando até julho, quando se inicia o período de colheita do algodão e o mercado deve voltar a ter oferta de produto, pressionando as cotações”, disse, acrescentando que a Copasul produz hoje 650 toneladas de fios por mês.

As empresas estão na expectativa por preços mais competitivos, mas também já esperam valores mais elevados que em 2010. “Com o início da safra os preços devem ser mais baixos que os praticados no primeiro semestre de 2011, mas com certeza serão mais altos em relação ao ano passado”, disse o gerente comercial da Copasul, completando que as expectativas só devem se concretizar se o aumento da safra for confirmado no campo.

A área plantada com algodão no Brasil deve crescer 45% na safra 2010/11 e superar 1,2 milhão de hectares cultivados, com isso, a pluma deve alcançar 1,83 milhão de toneladas. “Se essa safra de 1,8 milhão de toneladas for confirmada, vamos conseguir patamares de preços satisfatórios, sem essas oscilações drásticas que enfrentamos hoje”, afirmou Jaime Macedo.

Efeito cascata

Nas indústrias têxteis o impacto segue o efeito cascata, pois, se o algodão está fazendo variar o preço do fio, este por sua vez reflete diretamente no custo de produção da confecção. O empresário Júlio Fukakusa, da Via Blumenau, indústria de confecções em atividade há cerca de cinco anos em Sidrolândia, explica que o fio a cada dia chega mais caro. “Comprávamos o fio de algodão 30/1 cardado, que é o mais comum usado na malharia, a R$ 6,90 o quilo e hoje está cerca de R$ 15,50. A diferença é muito grande em período tão curto”, explicou.

Ele acrescenta que essa diferença no custo de produção também não pode ser totalmente repassada porque o mercado não absorve o produto. “Não está sendo possível repassar porque os magazines não pagam o preço”, afirmou, reforçando que, para compensar o alto custo do fio, a indústria está importando parte de sua produção para completar o mix dos seus produtos. “Por causa desse alto custo do fio de algodão, os fios sintéticos são mais uma opção e estamos mesclando produtos nacionais com importados como uma alternativa mais viável, mas o produto, que vem na maioria da China, também subiu entre 30% e 40%”, completou.

De acordo com o empresário, se fosse possível repassar para o produto final todos os custos da produção com os aumentos constantes do fio, a mercadoria chegaria ao consumidor com valor bem maior que o atual. “Não poderia ser um reajuste menor que 30%, que seria um índice mínimo”, contabilizou, definindo o momento atual como ‘tumultuado’ para a indústria de confecção. “Ainda assim não é possível frear os investimentos e já planejamos uma ampliação da unidade de Sidrolândia nos próximos meses. “Na tecelagem, a previsão de produção é de 100 toneladas ao ano, mas a meta é fechar 2011 com um milhão de toneladas. Na costura também estamos ampliando, saindo de um quadro de 250 funcionários para 400 profissionais”, adiantou.

Repasse

Para a pequena empresa os impactos foram imediatos e também já chegaram ao consumidor final. Na indústria Maranello Uniformes, de Campo Grande, desde janeiro os uniformes produzidos em brim, que utilizam à pluma como matéria prima, estão custando mais caro. “Em janeiro fomos obrigados a repassar parte do reajuste para o consumidor. Os preços subiram 20%”, explicou a diretora comercial Cibele Bigarella Gomes.

Segundo ela, os preços não eram reajustados desde 2008. “Há três anos que a tabela não mudava, mas agora ficou insustentável e não teve como segurar. Vamos esperar que seja só um período porque se a situação continuar assim outros reajustes virão”, adiantou, completando que a empresa, instalada na Capital há 18 anos, produz cerca de 1,2 mil peças de uniformes por mês.

Apesar das incertezas do momento quanto à matéria prima, a GID Têxtil está otimista com o mercado. Com sede em Santa Catarina e filial em São Paulo, a empresa, que hoje está voltada para o mercado internacional de fios, pretende lançar mais um braço e dessa vez em Campo Grande. Com vivência superior há 20 anos e atuando em diversos setores produtivos e técnicos, principalmente na área têxtil, a GID está em fase de instalação da unidade na Capital. “Estamos trabalhando na infraestrutura e no fim de maio começamos a produzir”, adiantou o diretor comercial Luis Henrique Guedes.

Investimento

Segundo Luis Henrique Guedes, a empresa começará a produzir ainda no primeiro semestre de 2011 cerca de 160 toneladas de fios por mês com a colaboração de 32 profissionais, mas a meta é ainda mais audaciosa. “Pretendemos alcançar 1.420 toneladas de fios por mês até dezembro de 2012. Para isso, vamos compor quadro de 100 funcionários diretos”, afirmou, acrescentando que na decisão de se instalar em Mato Grosso do Sul, somada aos incentivos fiscais, também pesou a proximidade das lavouras de algodão.

Em Mato Grosso do Sul, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra 2010/2011 de algodão deve ser 36% maior chegando a 53 mil hectares contra 38.650 hectares da safra passada. A expectativa de produção no Estado aponta para 72 mil toneladas de pluma, contra 50 mil toneladas da safra anterior. Além disso, área cultivada de algodão em Mato Grosso, o maior produtor do País, na safra 2010/11 deve ser 60% superior à safra anterior, alcançando 671,1 mil hectares de área plantada, enquanto na safra passada foram destinados à cultura 419,2 mil hectares.

Para o diretor comercial da GID Têxtil, a instabilidade do mercado de algodão nesse momento não deve interferir no cronograma de instalação da empresa. “Estamos com o projeto completo totalmente azeitado, com todas as etapas bem programadas e isso nos permitiu efetuar compras futuras de algodão e os custos da matéria prima estão dentro dos custos projetados”, disse, pontuando que a chegada da colheita do algodão deve estabilizar o mercado. “É inevitável, o preço do fio acompanha o preço da pluma”, completou.
 

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