Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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AS BARATAS E UMA FABRICA MORTA

Ontem fui visitar outra fiação, seminova e defunta nas montanhas da Carolina do Norte. O local, salvo a vegetação lembrando-me  muito das Montanhas das Minas Gerais - e por algum motivo fiquei meio jururu... Uma mistura de destruição industrial, saudades de Diamantina, Ouro Preto, Tiradentes, e deu naquela de ponderar sobre a vida.

Confesso ando cansado da exaustão mental de meu trabalho: Basicamente avaliar massas falidas; ser “broker” de Maquinas, é um Medicina Legal mas técnica, uma autopsia de fabricas, que mais do que massas falidas já foram MEIOS de sobrevivência de famílias.

Uma fabrica nunca para e por lá fica: Ha um imenso sofrimento humano por trás disso, mortes inclusas. Por isso, meus amigos mais próximos o sabem, quando um técnico ou líder da indústria textil perde um emprego, fico desesperado ate "encaixa-lo" num local onde ele possa reflorescer ser útil e gerar prosperidade. Mas essa instancia de “colocação” esta cada vez mais dura de ser levada a cabo. No Brasil também a nossa indústria morre.

Voltemos a fábrica essa das Montanhas Azuis (Blue Mountain) na Carolina do Norte. O Jardim e grama da fabrica esta ainda relativamente em bom estado. Os corretores imobiliários aqui cuidam bem das carcaças das fabricas, sempre espera de transformar seus edifícios em Wall Marts, Sam's, Costco ou depósitos disso ou daquilo. Dai o defunto tem que estar bonito por fora.

Também a molecada daqui tem pouca vocação para jogar pedra em vidros e o americano rouba bem comedidamente, ao ponto de ver fabricas caindo pela ação das intempéries, mas com suas portas de vidro Blindex inteiras e suas vidraças, opacas pela poeira e com sujo acumulado - mais intactas.

Essa Fabrica visitada ontem era defunta nova, de seis meses. Ao abrir a porta fui recebido com o cheiro de morte de fabrica textil: Cheiro dos escritórios abertos, cheiro de manuais decaindo e se tornando obsoletos, cheiro de cheiro de banheiros limpos mais não usados. É um cheiro característico como uma Marca Registrada, uma impressao digital.

Depois invariavelmente ha um lobby e um hall de folhas e plantas mortas, salvo as de plásticos que em seus sarcasmos de imitação, parecem rir das verdadeiras plantas e flores mortas, secas e mumificadas por falta de agua.

No hall ainda ha sempre fotos, umas alegres, outras da fábrica em dias mais alegres, em dias de produção, em dias que era integrada com o humano e com a fábrica social.

Depois desses halls de tristeza, abre-se a porta e outro odor característico de Poeira, Fibra, Óleo, e Maquinas vem aos nossos narizes. Interessante, as fiações mortas têm um cheiro diferente das Tecelagens.

A tecelagem, morta tem mais odor de poeira, tecidos e óleo.

Já as fiações tem o cheiro quase idêntico, mas menos oleoso e com mais pó.

Mas não dissecarei mais a fundo esse tema de morte de fabricas.

Em realidade, quero fazer uma analogia delas com os crápulas, os venais, os malandros que manipulam a indústria e o povo que ela alimenta. Esses que alimentam o Caixa Dois, que usam da Indústria como mera alavancagem de seus projetos e agendas politicas; desses canalhas de empurram uma indústria ao abismo e lucra com seus empréstimos inflados. Esses que fazem da morte de suas indústrias um mero trampolim para jogadas bancarias ou imobiliárias...

Terminarei em breve esse tema, pois ela não me faz bem: Decidi entrar no escritório do Ex-Diretor dessa Fiação recém-morta nas montanhas da Carolina do Norte.

Abri a porta, acedi à luz e entrei: Via tres ou quatro vasos de terra seca e dura e plantas mumificadas. Senti o cheiro dos papeis, manuais e contratos que algum dia foi coisas de importância. Na mesa havia uma xícara de café, tipo aqueles “baldes de CHAFÉ” americano, que não deixa de ser um bom diurético. Dentro só havia o resíduo negro do café evaporado. Atrás da mesa havia uma fotografia enorme da fabrica em sua inauguração, cheia de figurões dos anos sessenta e funcionários sorridentes.

Parei, olhei e olhei, e olhei tanto que decidi tocar a foto que estava meio torta e ajusta-la ao nível do chão.

Pulei para trás assustado. Inúmeras baratas se espalharam parede afora a procura de outros locais de trevas e seguros.

Dei um passo atrás e vi a parede voltando a ser parede, à medida que sumiam os insetos.

Sai da sala amargurado. Fechei a porta cuidadosamente.

Mesmo ao descer a serra para Spartanburg, as imagens das baratas ainda estavam em minha cabeça, Sim estava com nojo. Mas não tanto dos insetos. Não tenho fobia por eles.

O que sentia era uma náusea diferente e matutei sobre ela ate quase chegar ao trabalho.

Era um nojo do predador humano. Daquele que mata, mente, esconde, rouba corrompe para ganhar um dinheiro extra, na base da contravenção, da maracutaias, dos acertos, das "articulações" sem ponderar que por traz de suas ações eles estão matando gente.

São essas baratas que me causaram o nojo, a ânsia de vomito que ainda tenho ao terminar esse texto.

 

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Comentário de julio cesar de souza em 1 junho 2012 às 11:41

 E AQUI NO "BR", VEMOS ESSA CALAMIDADE EM NOSSAS FÁBRICAS, QUE

 SERVIRAM DE CABIDE DE EMPREGOS A APADRINHADOS POLÍTICOS E DE

 RALO DO TESOURO NACIONAL VIA EMPRÉSTIMOS PELAS SUDENE, SUDAM

 BNDES, ETC...QUE PERDERAM VALOR POR ENDIVIDAMENTOS ESPETACULARES.

 MUITO ALÉM, VEMOS ESSA MORIBUNDEZ DE FATO NOS CORREDORES DOS

 HOSPITAIS PELO USO CRIMINOSO DAS ESTRUTURAS DA SAÚDE PÚBLICA C/

 DESVIOS DE VERBAS PARA CONSTRUÇÕES, REFORMAS E AMPLIAÇÕES DAS

 EDIFICAÇÕES E COM A CORRUPÇÃO SOLTA NAS MÁQUINAS DE SUCÇÃO

 NOS DEPARTAMENTOS DE COMPRAS E ABASTECIMENTO DA CITADA ESTRU-

 TURA.

 TUDO ISSO DEVIDO AO MAU USO DOS MANDATOS ADQUIRIDOS EM PLEITOS

 FRAUDULENTOS, CURRAIS ELEITORAIS QUE SÃO EXPLORADOS POR SUAS MAZE-

 LAS(CARROS-PIPA NA SECA, CESTA-BÁSICA NAS ENCHENTES),  COEFICIENTES

 ELEITORAIS QUE JOGAM DE PARA-QUEDAS NO CONGRESSO QUEM O POVO NÃO

 QUER VER LÁ.

 É, CARO SAM, NOSSOS VELÓRIOS AINDA SÃO MAIS EM BAIXO. LEVAM NOSSAS

 MÃES, ESPOSAS, FILHOS(AS), IRMÃOS(ÃS) TODOS QUE FORAM A PROCURA DE

 SOCORRO E SÓ ENCONTRARAM DESESPERO VELADO ENQUANTO TONELADAS

 DE MEDICAMENTOS SÃO JOGADOS FORA C/ PRAZOS DE VALIDADES VENCIDOS 

 DESDE A ENTREGA OU ABANDONADOS NOS PORÕES DOS HOSPITAIS PARA ES-

 CONDEREM A EXORBITÂNCIA DOS PREÇOS PRATICADOS.

 EM NOSSOS VELÓRIOS NÃO HÁ LUZ, POIS, TODAS AS VELAS QUE ACENDEMOS 

 A CADA ELEIÇÃO LOGO APAGAM-SE NO SUFOCAR DA FUMAÇA NEGRA DOS COR-

 REDORES DE UM CONGRESSO QUE NÃO HONRA SUAS CALÇAS. CORRUPTOS,

 BANDIDOS TRAVESTIDOS DE UMA IMORTALIDADE ADQUIRIDA COM MAIS DES-

 VIOS DE VERBAS E CONDUTAS. 

Comentário de STYLE LINE PRIVATE LABEL em 1 junho 2012 às 8:16

Meu patrão está importando.

Começou pra ver como funciona,e parece que gostou.

Pela segunda vez,alguém conhece uma confecção pra eu me encaixar???

Já to de antena ligada.

Comentário de Marcio Bicalho dos Santos em 1 junho 2012 às 7:19

Baratas como estas... As temos demais. Detem voz,votos e vetos. Baratas cascudas que tem sido imunes aos repeletes de sobriedade e justiça. Chinelas nelas...

Comentário de Z em 31 maio 2012 às 22:56

"Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucos"  1942
"Nunca Tantos Foram Roubados por Tão Poucos" 2012

Há alguma conexão entre o texto do SDM e o pensamento acima?

Comentário de Romildo de Paula Leite em 31 maio 2012 às 21:49

   Sam, é muito triste quando sabemos que várias fábricas  que trabalhamos fecharam, no meu  caso foram: Othon B. de Melo (Recife  e Maceió  ) Cia de Tecidos Paulista, Cia de Tecidos Rio Tinto, Cia de tecidos Ernesto Deocelciano.

    Abraços Romildo.

Comentário de Sam de Mattos em 31 maio 2012 às 16:39

Pedro: Esse jugo ja esta pesado demais. Contribuir com o CRESCIMENTO da nossa industria foi bom... Exercer Medina Legal, dando as fabricas Causas Mortis e removendo carcacas, esta sendo um pouco demais. Parabens pelo seu belo trabalho e pelo do Wellington. O acompanho quieto e de longe! SdM

Comentário de Pedro Fabiano em 31 maio 2012 às 16:34

Olá Sam, sou Amigo do Wellington Paiva, trabalho junto com ele na Santana textiles, sempre o ouví falar muito bem de você, realmente você está de parabens pelo texto, nós que fazemos parte da Industria Textil não temos como evitar o nó na garganta ao ler um relato como este que você está descrevendo.

Abç

Comentário de Sam de Mattos em 31 maio 2012 às 16:02

Eh isso mesmo WOLMER. Isso mesmo. Sem cometarios. SdM

Comentário de wolmer andrei lemoes arocha em 31 maio 2012 às 15:52

Sam, sei perfeitamente do que esta falando. Compartilho de seu sentimento e assino em baixo. Para nós, que vivemos e convivemos da industria têxtil, seja no Brasil ou no exterior, é frustante entrar em uma fábrica assim. Não há como não sair dela com um profundo nó na garganta.

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