Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Dólar: na Venezuela, “céu é o limite”, no Brasil deve ir para uns R$ 3,00 mesmo…

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A Venezuela vive mesmo seu “inferno astral”, mas não é culpa de astro algum além do falecido Hugo Chávez e seu socialismo do século XXI. O país, “sentado” em um imenso barril de petróleo, viu sua economia minguando até o ponto de ser quase completamente destruída, apesar dos petrodólares jorrando nos cofres públicos. É o custo da demagogia e do populismo.

Agora que o petróleo resolveu cair feito gente grande, impulsionado mais ainda hoje, após a Opep decidir não reduzir a produção, o cenário venezuelano é o pior possível, catastrófico mesmo. O petróleo tipo Brent caiu mais de 5% só hoje, e está perto dos US$ 70 por barril. Isso significa menos recursos para os venezuelanos, e mais fuga de capital do país.

Uma reportagem do Valor hoje mostra como “o céu é o limite” para o preço do dólar em bolívares, pois somente este ano ele já dobrou de valor e é negociado a uma cotação mais de 20 vezes maior do que a oficial. Ou seja, a cada dia que passa os venezuelanos ficam mais pobres em relação ao resto do mundo:

O dólar paralelo, que abriu o ano a 64,13 bolívares, era negociado ontem a 132,30 bolívares, enquanto a cotação utilizada pelo governo para fazer importações de bens essenciais manteve-se estável no período, a 6,30 bolívares.

A baixíssima cotação oficial, forçada pelo governo para manter baixos os preços sobretudo dos alimentos, e a alta demanda por divisas em um país que importa 70% do que consome, além de uma grande incerteza sobre o futuro da economia, têm gerado essa distorção inédita no mercado de câmbio

Desde que assumiu o posto, em março de 2013, o presidente Nicolas Maduro já anunciou a criação de duas bandas alternativas – Sicad 1 e Sicad 2 – para atender à demanda de empresas e pessoas físicas. Nessas duas faixas, a moeda americana é vendida a cerca de 11,30 bolívares e 49,90 bolívares, respectivamente. As cotações, também controladas pelo governo, que “leiloa” os dólares, têm se mantido estáveis. Mas claramente o volume ofertado é pequeno demais para as necessidades do país.

Claro que quem consegue acesso ao câmbio mais perto do real se beneficia, enquanto os demais são duramente punidos. Cuba, inspiração do modelo venezuelano, também conta com dois câmbios, tratando o povo como súdito de segunda classe. Mas se Cuba tem o embargo para usar como bode expiatório, a Venezuela não tem desculpa: conseguiu produzir escassez de divisas mesmo com gigantesca reserva petrolífera para exportar.

A receita do “sucesso” foi a de sempre: gastos públicos crescentes, inflação fora de controle, intervencionismo arbitrário na economia, controle de preços, limite de lucros, etc. O manual do perfeito idiota latino-americano, enfim, que delega ao governo um poder absoluto e trata os empresários como exploradores que merecem punição.

Se a Venezuela vive esse caos produzido pelo populismo de esquerda, o Brasil ainda não chegou perto disso. Uma ala do PT bem que tentou, inclusive contando com o apoio da presidente Dilma. Mas não chegaram a tanto, ou porque nossas instituições barraram, ou porque tiveram um pouco mais de juízo. Mas se não enfrentamos a mesma magnitude de problemas, temos os nossos com origem semelhante.

Em coluna no mesmo jornal, o economista Mário Mesquita estima que o dólar caminha rumo aos R$ 3,00 no Brasil. Usando dois conceitos diferentes, tanto os termos de troca como a Paridade do Poder de Compra (PPC), sua expectativa é de que o câmbio deveria estar mais perto desse patamar para chegar ao seu valor “justo”, ou de equilíbrio.

Se essa trajetória se confirmar, isso terá efeito na taxa de inflação, naturalmente. Ciente isso, Mesquita conclui:

O impacto, em termos de inflação, do ajuste cambial vai depender essencialmente da postura da política monetária, dadas certas condições de contorno. Cabe notar que, como a inflação já está no limite do amplo intervalo de tolerância em torno da meta, a capacidade de acomodação de choques adicionais é limitada, se é que existe. Nesse contexto, um ajuste cambial irá requerer a adoção de uma política monetária mais restritiva, a menos que o governo, contrariando sinais iniciais, resolva fazer um ajuste fiscal extremo.

A alternativa seria um ciclo relativamente rápido de depreciação nominal seguida de aceleração inflacionária, deixando, ao final do mesmo, a taxa de câmbio real inalterada. Nesse contexto, graças à piora das expectativas e ao recrudescimento da indexação, ficaríamos com uma inflação persistentemente mais elevada – estamos assistindo tal ciclo na Argentina atualmente, e assistimos várias vezes no Brasil do período pré-real. Resumindo: ajuste sem custo é um não-ajuste.

De fato, quem espera que a fase de ajuste seja indolor vai dar com os burros n’água. É preciso compreender, de uma vez por todas, que não existe almoço grátis. O governo Dilma brincou de ser heterodoxo, ou irresponsável em linguajar sem eufemismo, por tempo demais. Os nossos termos de troca mudaram a direção, ou seja, o preço do que exportamos, basicamente commodities, caiu vertiginosamente devido ao menor crescimento chinês. É hora de encarar a pedreira.

Joaquim Levy, novo ministro da Fazenda confirmado, e Nelson Barbosa, novo ministro do Planejamento, falaram hoje pela primeira vez sobre as novas políticas fiscais. Prometeram o resgate da credibilidade, mas descartaram pacotes. Teremos medidas graduais de ajuste, sem surpresas. Surpreso ficará quem espera melhorias sem razoável dor.

Para Gilberto Carvalho, Levy aceitou o convite de Dilma porque está aderindo à filosofia de seu governo: “O Joaquim Levy foi um excelente secretário do Tesouro do presidente Lula, perfilou-se perfeitamente dentro daquilo que era a orientação do governo. Fez parte de um processo vitorioso da economia. É evidente que, ao aceitar ser ministro deste projeto, ele está aderindo a este projeto e à filosofia econômica deste projeto. O nome dele é importante porque pela trajetória dele, ele traz uma credibilidade”.

A velocidade e a firmeza das medidas tomadas só serão conhecidas com o tempo, sem falar que a reação da própria presidente Dilma não é previsível quando os custos econômicos e sociais começarem a surgir por conta dos ajustes. O que podemos prever com um pouco mais de confiança é que o dólar parece fora de preço mesmo. Não vai “aos céus”, como na Venezuela; mas deve subir, e subir bem.

Rodrigo Constantino

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