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FT: Perder Copa pode aprofundar temores dos brasileiros

LONDRES  -  Quanta diferença entre o desempenho do Brasil dentro e fora do campo. Seus jogadores são famosos por sua habilidade e pelo jogo bonito. Mas em 2007, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou para o Brasil o direito de sediar a Copa do Mundo deste ano, ele realizou o equivalente político de lançar a bola pelo campo.

Esperar que uma nação conhecida por suas estradas ruins e pela falta de infraestrutura conseguisse operar de forma decidida, após aquela bola lançada com força, pode ter parecido plausível no momento. Naquela época, o clube das potências emergentes Bric estava na última moda e parecia que o Brasil não fazia nada errado. Mas a marca Bric, desde então, esmaeceu, e Joseph Blatter, presidente da Fifa, o órgão máximo do futebol internacional, disse até que os preparativos da Copa do Mundo do Brasil eram os piores que ele já tinha visto. Esta não é a narrativa promissora que o Brasil uma vez imaginou.

Ainda assim, os 12 estádios do torneio provavelmente estarão prontos a tempo, ainda que no último minuto. E, como a presidente Dilma Rousseff comentou, atrasos não-chineses são parte do custo de o Brasil ser uma democracia com uma imprensa livre e o direito de dissidência - direitos civis que Dilma, que lutou contra a ditadura militar do país, tem defendido por toda a sua carreira. Sejam quais forem as deficiências do Brasil, essas qualidades são dignas de comemoração em um torneio que acontecerá apenas uma semana depois do 25º aniversário da repressão contra os protestos da Praça de Tiananmen.

A partida de abertura acontece nesta quinta-feira, quando o Brasil enfrentará a Croácia, em São Paulo. Então começará um torneio que é parte espetáculo esportivo e parte a mais pacífica demonstração de completo nacionalismo. De fato, uma das características mais atraentes da Copa do Mundo é que os países pequenos muitas vezes vão bem, mesmo sendo, geralmente, europeus ou latino-americanos. (Desculpas a todo o resto do mundo, mas todas as 10 equipes top de linha são desses continentes.) Tradicionalmente, eles exibem diferentes estilos de jogo: eficiência europeia contra o toque latino. Mas essa divisão foi borrada, uma vez que os latino-americanos que jogam em campeonatos europeus aprenderam novas formas de jogar, e as trouxeram para casa. A equipe do Brasil, embora favorita, foi criticada por ser rígida. Essa homogeneização pode ser o preço, ou benefício, da globalização. Mas isso não significa que vai faltar drama nos jogos.

Nem faltará emoção fora do campo também. A Fifa enfrenta perguntas difíceis em São Paulo nesta semana, sobre o processo supostamente corrupto de conceder ao Qatar os direitos de sediar a Copa do Mundo de 2022. A questão mais ampla é se os países emergentes, com necessidades sociais mais urgentes, deveriam realizar esse tipo de evento; o Brasil também vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Se assim for, então eles devem ser tratados como uma oportunidade: a chance de os eventos esportivos serem deslocados da fixação com o dinheiro e construções e voltarem para os jogos em si.

O maior drama fora de campo, no entanto, será do próprio Brasil, especialmente tendo em conta as eleições presidenciais em outubro. Embora não exista uma correlação entre o desempenho do Brasil em Copas do Mundo e os resultados das eleições subsequentes, desta vez pode ser diferente. No ano passado, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em protesto contra os serviços públicos de má qualidade, com um grito de "hospitais padrão Fifa também". A economia está desaquecendo. O índice de aprovação de Dilma Rousseff, embora ainda bem à frente de seus adversários, está cedendo. O Brasil pode se sentir atolado em mal-estar.

Um torneio vitorioso pode diminuir esse sentimento - embora momentaneamente. Uma perda ruim, que pode cristalizar temores populares, poderia aprofundá-lo. Por muitas razões, o país, portanto, precisa emergir de um torneio que seja considerado um sucesso, ou, pelo menos, bom o suficiente; especialmente porque quase metade do planeta vai assistir um pouco. Dado o calor e o otimismo brasileiros, o mais provável é que consiga. E que comece a competição.


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