Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Há clima para carnaval? Ou: É hora de abandonar o “Pão & Circo”

“Nem acabei de comer meu panetone e já estão falando em carnaval”, li outro dia nas redes sociais. De fato, percebe-se que o clima de carnaval já está instalado, e que muitos começam a falar dos enredos dos sambas, das marchinhas de rua, da folia contagiante.

Normalmente não sou daqueles que condenam qualquer tipo de “fuga” por meio da diversão coletiva, como se fossem todas provas definitivas da alienação burguesa da classe média. Acho que as pessoas têm o direito à diversão mesmo – ou principalmente – em um mundo problemático.

Mas talvez a coisa tenha ido longe demais no Brasil, especialmente no Rio. Talvez seja um sintoma de que a velha política do “Pão & Circo”, em que governantes distribuem esmolas e estimulam o entorpecimento por meio da diversão, passou dos limites na “cidade maravilhosa”.

Vejo na coluna de Ancelmo Gois que o famoso arquiteto Chicô Gouvêa lidera um movimento que deseja barrar os desfiles por conta da crise hídrica. Alega que em meio a esta falta de água os blocos vão sujar tudo, o que vai demandar muita água depois.

Alguma lógica há. Afinal, o governo do estado pensa em cortar o abastecimento de indústrias para garantir o acesso de água aos seres humanos. E vai gastar litros e litros de água para limpar a sujeira da folia? Quais são as prioridades do governo e do povo?

Além disso, ao que tudo indica, nosso governo está literalmente quebrado, tendo de anunciar bilhões em cortes de gastos. Inclusive na segurança, em um estado dominado pelo crime e que tem visto a quantidade de vítimas de “balas perdidas” aumentar exponencialmente no começo do ano.

A PM, segundo reportagem de hoje no GLOBO, deve R$ 19 milhões só de contas atrasadas de água e luz! A nossa polícia militar deve ainda outros quase R$ 10 milhões a uma empresa de limpeza e tarefas administrativas. Sem dinheiro para pagar em dia água, luz e limpeza, mas vamos encher as ruas com “alegria” como se tudo estivesse normal, como se não houvesse amanhã?

Para jogar mais lenha na fogueira, temos o escândalo da Petrobras, que nesta quarta atingiu novas proporções catastróficas. A estatal divulgou um balancete inútil, não auditado, sem reconhecer as perdas contábeis provenientes da incompetência e da corrupção.

O tamanho do rombo chega a quase R$ 90 bilhões, valor que estaria registrado nos balanços acima do real. O carioca atentou para a cifra? Quase R$ 100 bilhões. Por extenso agora, para ver se cai a ficha: quase cem bilhões de reais!

Essa montanha de recursos, que virou pó no balanço da Petrobras, daria para construir quantos hospitais e escolas? Claro, estamos agora falando do governo federal, parceiro do estadual. Mas o Rio é diretamente impactado pela destruição da Petrobras, pois o estado depende muito dos impostos cobrados sobre o petróleo.

O povo foi às ruas protestar contra os vinte centavos da tarifa de ônibus em 2013, mas vai simplesmente ignorar os R$ 90 bilhões que desapareceram dos ativos da Petrobras? É isso mesmo? Chegamos a esse grau de loucura?

Enfim, compreendo a necessidade individual que muitos têm de fuga. Se não é possível a física, para outro país, que venha ao menos a “espiritual”, afogando-se as mágoas na folia. Mas calma lá! Será que estamos mesmo no clima de carnaval, como se nada estivesse acontecendo em nosso entorno?

Vamos dar um pouco mais de dinheiro para os bicheiros e políticos corruptos como se nada de anormal ocorresse com o Rio? Vamos “protestar” contra essa quadrilha ligada ao PT que vem assaltando os cofres públicos e as estatais usando uma máscara engraçadinha do Cerveró, que já ameaça com processo quem fabricá-la? É assim que pretendemos melhorar nosso estado e nosso país? Levando tudo na brincadeira?

PS: Alguns podem argumentar que, sem tal válvula de escape, o carioca poderia deixar a passividade para trás e se tornar um revolucionário perigoso. Tenho minhas dúvidas, hoje, se isso seria tão pior do que a passividade bovina…

Rodrigo Constantino

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