Entre os 37 países membros e parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo com a pior taxa de formação técnica e profissional entre os formandos do ensino médio, ficando atrás apenas do Canadá.
Enquanto aqui, só 9% dos adolescentes concluem a educação básica com um diploma de curso técnico, a média da OCDE é de 38%. Em países como Áustria, Suíça e Reino Unido, o percentual ultrapassa os 60%.
Os dados, referentes à 2019, constam no relatório Education at a Glance 2021. Outro dado que chama atenção é que, enquanto nos outros países, os homens são maioria entre os concluintes do ensino médio com o profissionalizante; no Brasil, as mulheres representam 56%. O índice é bem próximo ao do ensino superior, onde elas são 54%.
O percentual poderia indicar avanços na busca por maior participação delas no mercado de trabalho, porém deve ser analisado junto a outros indicadores e ao contexto da oferta da educação profissional no país, alerta o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI), Rafael Lucchesi.
“Além de ter poucos estudantes de ensino médio recebendo uma formação profissional e estar longe da meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação, o Brasil tem, historicamente, uma maior oferta de cursos técnicos nas áreas de gestão e saúde, mais procuradas por mulheres. Nos outros países, as áreas de engenharia, manufatura e construção respondem pela maior parte das matrículas”, compara Lucchesi.
A edição 2020 do Education at a Glance mostrava que apenas 15,95% dos alunos dos cursos técnicos do ensino médio no Brasil se formam nessas três áreas; enquanto a média OCDE é de 32,76 %, chegando a 47,14% no Chile, por exemplo.
Em 2020, o Brasil registrou 1,9 milhão de matrículas na educação profissional técnica de nível médio, e o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece como meta alcançar 5,2 milhões de matrículas até 2024, sendo 50% na rede pública.
O SENAI, um dos cinco maiores complexos de educação profissional do mundo, faz parte da rede privada e é referência no Brasil, tendo formado mais de 80 bilhões de pessoas nos últimos 79 anos em cursos técnicos, de qualificação, aperfeiçoamento, entre outros, alinhado às demandas da indústria.
Para o diretor da instituição, o novo ensino médio - que inclui a educação profissional em um dos cinco itinerários formativos e deve começar a ser implementado a partir do ano que vem nas redes públicas e privadas de ensino - é a oportunidade de corrigir a distorção na matriz educacional brasileira, que tem como foco a preparação para o ensino superior.
De acordo com o Education at a Glance 2021, apenas 20% dos homens e 27% das mulheres de 25 a 34 anos têm um diploma de ensino superior. E 28% dos brasileiros de 25 a 34 anos não completaram o ensino médio, enquanto a média OCDE é de 15%.
Além de oferecer uma formação que seja porta de entrada para o mercado de trabalho e uma preparação para a faculdade, Lucchesi destaca que o ensino técnico no ensino médio também pode engajar o estudante e reduzir a evasão e a segregação ocupacional por gênero (áreas e profissões “masculinas” e “femininas”).
Para que a escolha profissional de meninas e mulheres não seja mais influenciada por papéis de gênero tradicionais, é necessário trazer o mundo do trabalho e possibilitar a construção de projetos de vida e de carreira em sala de aula, abordando as oportunidades de cada área.
Por fim, o relatório da OCDE mostra a relação entre emprego, gênero e escolaridade. Entre a população que não concluiu o ensino médio, 35% das mulheres estavam empregadas em 2018 e, entre os homens, o percentual é de 69%.
Por: Amanda Maia
Da Agência de Notícias da Indústria
Foto: José Paulo Lacerda/CNI
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