Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Ao rastrear a imprensa brasileira para entender o que se passa na pátria, eu percebi que muitos tentam entender o andar dos protestos através do espanhol Manuel Castells, sociólogo-guru, especialista em novas mídias. Ele circulou no Brasil recentemente e falou da importância destes novos instrumentos mobilizadores no mundo inteiro, em contraste ao desprestígio da política convencional. Muita gente diz que protesta sem partido, sem líder. Castells, é claro, se protege dizendo que não devemos superdimensionar o poder destas novas mídias.

Sem dúvida. E não podemos deixar de dimensionar o outro lado. Os impérios contra-atacam. Em primeiro lugar, podem ser governos vigentes com seu aparato de repressão, propaganda, aparelhamento, mera ocupação do vácuo político ou apropriação do desabafo, como está fazendo agora a presidente Dilma Rousseff.

Acorda ainda mais forte, Brasil, cuidado com a jogada daqueles que querem passe livre nesta onda. Impérios também contra-atacam quando exibem competência política e institucional em uma crise, impedindo que o espaço seja ocupado pelos invasores do Vandalistão ou encaram justas demandas populares com transparência e negociações realistas.

Mas, impérios contra-atacam mesmo quando são grupos de oposição (já poderosos nesta condição). Eles ganham a parada na hora da confusão e descrédito do status quo. No último caso, está aí o caso recente e bem emblemático do Egito. A moçada Facebook foi para a praça Tahrir, no Cairo, mas o poder foi ocupado pela Irmandade Muçulmana, com sua vasta estrutura de organização forjada ao longo de décadas de clandestinidade. além de representatividade popular.

Existe muita atenção na imprensa global com a Turquia (é verdade que o Brasil ocupa bom espaço nesta semana), então vamos novamente para a praça Taksim, em Istambul. O primeiro-ministro Recep Erdogan enfrenta o maior desafio em 11 anos de governo (eleito três vezes democraticamente), com os protestos das últimas semanas. Numa frase que deixaria feliz o Manuel Castells, Erdogan foi rápido no gatilho retórico (além do gás lacrimogênio) para acusar os dois Ts pelo tumulto: terroristas e o Twitter.

Mas o fato é que Erdogan vai para a batalha campal não apenas com a tropa de choque e a fuzilaria verbal. Ele é acusado com toda razão de aprofundar o autoritarismo e o islamismo na Turquia, mas tem espaço para tal graças ao respaldo de um setor da população a favor destas bandeiras de luta, um setor que associa a oposição com vandalismo ou conspiração para derrubar o regime vigente. Com esta base do seu partido de raízes islâmicas, Erdogan tem condições de contra-atacar.

O contra-ataque se mostra efetivo, pois o primeiro-ministro também sabe explorar as divisões da oposição, que não sabe mostrar serviço. A moçada secular, bem educada e de classe média que impulsionou os protestos desgosta do Partido da Justiça e Desenvolvimento de Erdogan, mas tampouco se sente representada pelos partidos tradicionais de oposição.

Com uma oposição sem potência e manifestantes em ritmo de desabafo, o jogo de Erdogan é vencer os manifestantes com repressão e pelo cansaço, enquanto mantém um nível suficiente de alta mobilização de sua base para garantir sua vitória nas primeiras eleições diretas para presidente no ano que vem, um cargo que ele pretende exercer com poderes reforçados, com a mudança da legislação. A lei. Ora, a lei.

Moçada, para o bem e para o mal, os velhos instrumentos mobilizadores ainda funcionam.

http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/dilma-rousseff/os-imperios-...

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 21 junho 2013 às 9:00

Moçada, para o bem e para o mal, os velhos instrumentos mobilizadores ainda funcionam

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