Pesquisas indicam evolução mais contida do bem importado
Autor(es): Por Arícia Martins e Rodrigo Pedroso | De São Paulo |
Valor Econômico - 15/05/2012 |
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A participação dos importados no consumo interno de bens industriais ficou ligeiramente menor no primeiro trimestre deste ano em relação aos últimos três meses do ano passado, após quatro trimestres seguidos de crescimento nessa base de comparação. Na média de janeiro a março, as importações atenderam 22,5% da demanda por produtos industrializados, segundo cálculos da LCA Consultores, abaixo dos 22,8% registrados no fim de 2011. Divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), outro indicador do consumo de importados vai na mesma direção, mas mostra uma queda mais acentuada. Na mesma comparação, a parcela de produtos estrangeiros no mercado local passou de 24% para 22,6% do total. Na comparação com igual período do ano passado, porém, os produtos nacionais continuaram perdendo mercado para os importados. Na série calculada pela LCA, o coeficiente de importação era de 20,5% no primeiro trimestre de 2011, enquanto a Fiesp calculou esse percentual em 21,6%. A pequena redução dessa fatia frente o último trimestre de 2011, avaliam economistas, é explicada mais pelo movimento de perda de fôlego da demanda do que por retomada da indústria nacional, cuja produção amargou queda de 0,5% no período, feitos os ajustes sazonais. A escalada do dólar, que começou em março, também pode ter diminuído o apetite por importações e aumentado a fatia da produção destinada à exportação, de acordo com dados da Fiesp - a parcela de produção vendida ao mercado externo subiu de 17,5% para 19% entre o primeiro trimestre de 2011 e igual período de 2012. Em relação ao último trimestre do ano passado, essa fatia recuou 0,9 ponto percentual. A conjugação de endividamento maior das famílias com um importado mais caro em função do câmbio explica o recuo da importação, diz o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) José Augusto de Castro. "Esse quadro começa a assustar o consumidor e o importador, que estão mais cautelosos", afirma. Também com perspectiva de desaquecimento do consumo, a indústria está reduzindo a compra de insumos importados. "O grosso das importações é feito pela indústria nacional", diz Castro. É consenso que a parcela de importados no mercado doméstico deve continuar crescendo este ano - ainda que em ritmo menor do que no ano passado - em linha com a demanda externa ainda reprimida, que estimula a "desova" do excesso de produtos em mercados ainda pujantes, como o brasileiro. Em 2011, quando a produção interna cresceu apenas 0,3%, a fatia de produtos importados no consumo avançou quase dois pontos percentuais, segundo a LCA. "O que determinou o desempenho decepcionante da indústria também afetou o coeficiente de importados", diz o economista Thovan Tucakov, da LCA, referindo-se à acomodação da demanda na esteira do elevado comprometimento de renda das famílias e do consequente aumento da inadimplência. A depreciação do câmbio, diz ele, é muito recente para ter dinamizado as exportações já neste início de ano e deve dar alento maior à produção no futuro. Em seu cenário, Tucakov projeta que o dólar encerre o ano cotado a R$ 1,80, já que o atual patamar do câmbio, em sua opinião, resulta do mau humor dos mercados com a atividade global, principalmente da China, e não uma nova taxa de equilíbrio vista como "ideal" pela indústria. O real mais depreciado, junto à redução dos juros, deve permitir um aumento parco da produção este ano, sustenta o economista, mas insuficiente para que a produção doméstica ganhe espaço das importações no mercado interno. "A tendência é de um crescimento mais fraco da penetração dos importados", resume. Na pesquisa da Fiesp, que levou em conta dados do Ministério do Desenvolvimento (Mdic) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20 dos 33 setores analisados apresentaram queda das importações em relação ao quarto trimestre do ano passado. A indústria extrativa, por exemplo, registrou retração de 10,6 pontos percentuais das compras externas. As baixas mais significativas no período aconteceram em aeronaves (17,5 pontos percentuais), material eletrônico e aparelhos de comunicação (7,5 p.p.) e preparação de couros e artefatos de couro (6,6 p.p.). Assim, a penetração desses importados no consumo total ficou, respectivamente, em 42,5%, 48,5% e 21,1%. Já nos dados da LCA, a redução na participação de importados dentro do mercado interno atingiu 13 dos 22 setores pesquisados na passagem do quarto trimestre de 2011 para o início do ano, mas ainda continua elevada em setores intensivos em mão de obra que sofrem concorrência externa mais acirrada, tais como material eletrônico (54,6%), máquinas e equipamentos (37,4%) e têxtil (21,8%). "Todos os recuos foram bem pequenos. Como é um movimento inicial, o mais importante é a redução generalizada", diz Tucakov. Para o economista Mansueto Almeida, a tendência é que a participação de bens estrangeiros no consumo interno continue em trajetória de alta para atender a demanda, em detrimento da fraqueza da indústria, que não é competitiva em relação a outros países na maioria dos setores. "Não temos vantagem comparativa. Temos um salário mínimo que não nos permite mais ser um grande competidor com indústrias de trabalho intensivo. O cenário para a indústria não é muito tranquilo", diz |
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