Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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"A disciplina das Forças Armadas é usada para justificar a mudez conveniente"

“A disciplina das Forças Armadas é usada para justificar a mudez conveniente”

Post do leitor e amigo do blog Haroldo Amorim, coronel da reserva

PORQUE ESTAMOS ASSIM

Post do LeitorDia desses conversei com o Mike, um inglês boa praça casado com uma brasileira, dono de uma lan house perto da minha casa. A conversa descambou para política, pobreza e corrupção no Brasil.

No meio do papo, com a verve da lógica saxônica, o Mike perguntou: o Brasil tem muitos pobres, mas alguém perguntou o motivo da pobreza?

Espantosa e simples indagação. Concluímos que a pobreza é prima da ignorância, filha da corrupção, neta da omissão, irmã do populismo e bastarda da ausência de oportunidades.

Saí de lá com esse pensamento. Diante dos atuais, e porque não dizer históricos, problemas salariais dos militares brasileiros, cabe também a lógica pergunta do Mike: porque as Forças Armadas ganham mal ?

As explicações são várias: estrutura verticalizada da autoridade, com as decisões centradas no que manda mais, ou seja o Comandante. Quem manda é o Comandante. Por isso, quem está logo abaixo quer o cargo dele. É a fila que anda sem marolas, e assim vai até a base.

Daí o círculo vicioso dos emarolados que não querem se queimar ou se indispor, de olho numa merreca a mais, como insinuou o Lula.

Militares são “migalheiros”, o Lula acertou.

Outra explicação, consequência da primeira, é a acomodação com a miséria. Estamos precariamente aparelhados, equipados e nos acostumamos a cumprir a missão dessa forma. Nossos hotéis de trânsito são ruins e nossas moradias são acanhadas porque incorporamos esse modo acochambrado de viver, afinal somos militares e militar não pode ter conforto.

Daí nos contentarmos com migalhas salariais, como disse o Lula. Sempre foi assim. É o conformismo da merreca, pior do que não vir nada…., já dizia o meu avô.

Uma terceira explicação é a conveniência da disciplina. A disciplina é usada para justificar a mudez conveniente. Não podemos dizer isso ou tomar tal atitude porque somos disciplinados, o regulamento não permite, temos de acreditar nos chefes, não posso me manifestar porque o estatuto impede, então só resta mandar a mulher protestar batendo panela, isso é ridículo.

Manifestação da UNEMFA, União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas: "Alguém já viu mulher de juiz, político, diplomata, auditor da receita ou procurador batendo panela no meio da rua?"

Manifestação da UNEMFA, União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas: “Alguém já viu mulher de juiz, político, diplomata, auditor da receita ou procurador batendo panela no meio da rua?”

 Alguém já viu mulher de juiz, político, diplomata, auditor da receita ou procurador batendo panela no meio da rua? Marola, quando justa não faz mal a ninguém, pelo contrário, alerta sobre um estado de coisas. O que é mais feio: esposa batendo panela ou a penúria com disciplina?

As carreiras citadas acima são carreiras de Estado, mas os militares pagam mais pelas mazelas do Estado. Uma quarta e última explicação é a mania de se desvalorizar. Militar não se dá valor, os cursos são difíceis, as exigências profissionais são absurdas, mas o militar despreza esse fato. Quando faz um curso, tira do contracheque a habilitação anterior.

Não incorpora gratificações, não ganha hora extra e fica disponível ao empregador em regime integral, sem receber por isso, ao contrário, os chefes antigos até aquiesceram quando a MP 2215 subtraiu a gratificação por tempo de serviço e o posto acima na reserva. Só que quem negociou e assinou embaixo não perdeu nada.

A culpa não é do Chefe “A” ou do Comandante “B”. A culpa é do patriotismo errante, da postura filha do carreirismo, irmã da autoflagelação merrequeira , neta do comodismo da marola, prima do complexo de inferioridade e bastarda da conveniência verticalizada.

Um dos sinais da desagregação de uma nação é quando as Forças Armadas dão sinais de fragilidade. Na queda do Império Romano foi assim. Mas isso eu não falei pro Mike.

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/

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