Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Quando elas ganham mais, o divórcio é uma possibilidade

Quando li que Angela Ahrendts está recebendo uma soma que pode chegar a US$ 68 milhões como presente de boas-vindas da Apple, logo pensei em seu marido. Esse novo aumento, junto à pilha de dinheiro que ela já tem, deverá catapultar seu marido Gregg para o topo do ranking global "minha-esposa-ganha- mais-do-que-eu".

É uma conquista e tanto. Não sei se os dois se gostam, mas eles estão juntos há muito tempo. Conheceram-se na escola e ele desistiu de seu emprego para acompanhá-la ao Reino Unido quando ela foi nomeada presidente da Burberry. Ele parece ter passado os últimos oito anos basicamente cuidando dos três filhos do casal, reformando a casa e servindo a sobremesa quando ela finalmente chega do trabalho.

Acho que o verdadeiro gênio de Angela Ahrendts está mais na maneira como ela convenceu as pessoas a comprar casacos de chuva de 22 mil libras (com ornamentos de penas de pavão) do que em ter convencido Gregg a se casar com ela - e ficar com ela até hoje.

Atualmente, já não é tão raro a mulher ser a provedora do lar - nos Estados Unidos, um quarto das esposas ganha mais que os maridos. Mais raro é um relacionamento desses dar certo. Um livro lançado pelo jornalista Farnoosh Torabi reúne informações que mostram o quanto isso é difícil: mulheres com grandes salários têm dificuldades para encontrar um marido e, quando conseguem, a possibilidade de ele ser infiel é cinco vezes maior. A mulher provavelmente fará mais que sua cota de obrigações diárias; mas se ele começar a passar roupa e a cozinhar, provavelmente acabará se sentindo tão emasculado que deixará de ter uma vida sexual ativa. De qualquer modo, o divórcio será uma possibilidade.

O livro "When She Makes More" [Quando ela ganha mais] é uma leitura deprimente que parece um retorno à década de 1950. Mesmo assim tenho a sensação desagradável de que sua mensagem central não está totalmente errada. Quando penso em muitas amigas que ganham mais que os maridos, vejo que muitas delas estão divorciadas. Uma amiga reclamou que não conhecia mais o marido, pois ele não ganhava muito dinheiro nem demonstrava vontade de ajudar em casa. Não admira nada o fato de a versão dele dos eventos ser diferente: como ela insistia em dominar a vida dos dois, tanto em casa quanto profissionalmente, ele se sentia só e sem função.

Só conheço dois casais de amigos em que a mulher ganha mais e mesmo assim os casamentos parecem sólidos. Em um deles não há filhos e portanto os dois passam o tempo livre sendo carinhosos um com o outro. No segundo, o homem é tão bom em cuidar das crianças e na cozinha enquanto a mulher não está em casa que todos parecem felizes.

Reconheço que meus amigos são uma amostra diminuta e não diversificada das pessoas educadas, estudadas e com mais de 50 anos. Para se obter um quadro um pouco mais amplo, na semana passada mandei um e-mail para 500 jornalistas do "Financial Times" com idades entre 20 e 60 e tantos anos, pedindo exemplos de casamentos em que a mulher é a provedora do lar. As primeiras respostas não foram encorajadoras. "Minha ex-exposa ganhava mais do que eu", diziam algumas. Ou, "meu ex-marido ganhava menos".

A maioria dos colegas, mesmo os mais jovens, ainda parece manter relações em que o homem ganha mais. Um colega muito jovem e esperto disse que sua namorada, feminista e igualmente inteligente, disse a ele que não conseguiria casar com um homem que ganhasse menos do que ela, uma vez que não consegue imaginar para si uma vida em que terá de ficar estimulando o ego do marido.

Aqui há algo. Me parece que esses casamentos só funcionam quando a mulher não precisa ficar amparando o ego do marido. Isso pode acontecer de suas maneiras. Primeiro, através da personalidade. Um colega diz que o hábito da esposa de ganhar muito dinheiro é uma benção para ele, uma vez que ele gosta de dinheiro, mas é preguiçoso demais para correr atrás.

É mais comum isso acontecer quando o ego profissional do marido não é medido pelo dinheiro. Vários homens do "Financial Times" têm esposas que ganham fortunas na City de Londres, o que os libera para serem "profissionais incompetentes" que ganham relativamente mal. Dentro do casamento há o entendimento de que a carreira dele é tão - ou mais - importante que a dela. Do mesmo modo, algumas jornalistas apoiam homens que são músicos e estilistas, que amam o que fazem e (na melhor das hipóteses) também estão felizes por assumir a criação dos filhos.

Os casos mais interessantes são quando ambos começam juntos em um setor parecido, mas ao longo dos anos ela se sobrepõe ao marido. A maioria desses casos parece terminar mal. Mas um jornalista bem-sucedido me explicou como ele superou o problema de ter uma mulher ainda mais bem-sucedida. "O que importa mais, a desigualdade ou o padrão de vida?" Para o bem do último caso, ele sabiamente se recusou a sentir qualquer ressentimento, declarando-se em vez disso muito orgulhoso de sua esposa.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira


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