Trama Afetiva promove a economia afetiva e a ressignificação dos descartes têxteis através do upcycling

[Romildo de Paula Leite]

O projeto Trama Afetiva que busca conectar o design, a moda e o empreendedorismo para agregar valor e responsabilidade socioambiental nos processos produtivos, ganha exposição em São Paulo até dia 13 de novembro.

A partir de mais de 340 inscrições de todo o Brasil e exterior, a Fundação Hermann Hering, de Santa Catarina, apoiadora do projeto, selecionou 14 portfolios de estudantes e profissionais para integrarem a primeira edição do projeto TRAMA AFETIVA, que consiste em painel de estudos, imersão criativa e oficinas de produção orientados por designers de segmentos variados como Alexandre Herchcovitch (moda), Marcelo Rosenbaum (arquitetura/design) e Patrícia Centurion (joias/design).

A ação, que durou dois meses, se encerra com uma exposição dos itens produzidos durante as atividades onde foram utilizados os resíduos têxteis gerados pela Cia. Hering através do “upcycling”, processo de transformação de descartáveis em novos produtos com forte apelo em relação ao design, qualidade e formas de uso.

A ideia é promover e multiplicar o conceito da “economia afetiva”, que procura estabelecer novos parâmetros nas relações de produção e consumo através de práticas colaborativas e transformadoras baseadas em comprometimentos social e ambiental.

Além disso, a iniciativa procura atingir o profissional do futuro e a sua necessidade de conexão com processos horizontais e colaborativos de produção de forma a atender uma demanda de consumo mais racional e afetivo por parte dos consumidores.

O TRAMA AFETIVA veio ao encontro do principal objetivo da Fundação Hermann Hering, que é o desenvolvimento de programas de formação e preparação de profissionais para o mercado de moda através de uma visão inovadora, criativa e responsável baseada em três bases programáticas: empreendedorismo, cultura criativa e conexão varejo.

Segundo Jackson Araujo, diretor criativo do TRAMA AFETIVA, a característica de pluralidade autoral e participativa que norteia o projeto resume os principais fundamentos da economia afetiva. “O grande legado dessa imersão foi o fato de dar tempo para as coisas irem se construindo. Afinal, saímos do parâmetro do fast fashion e, com o trabalho de um time multidisciplinar, a partir da essência de cada um, criamos uma linha de produtos”, analisa, destacando que, dentro do conceito colaborativo do processo, não existe um dono ou único criativo responsável pelas peças desenvolvidas.

Indústria e a economia afetiva

Para o diretor criativo do projeto, as grandes indústrias têxteis e confeccionistas também podem se beneficiar dos conceitos da economia afetiva ao observar procedimentos, como a horizontalidade, a transparência, a valorização da mão de obra e a produção sob demanda, entre outros, que caracterizam o projeto. “É um processo novo, porém irreversível”, decreta Araujo. “Mais do que a discussão sobre sustentabilidade, as indústrias vão ter que olhar para as mudanças necessárias no processo produtivo. O futuro aponta para o consumo de coisas que tenham propósito e que possam aliar atemporalidade, durabilidade, origem e transparência do custo”.

No caso especifico da indústria confeccionista, Araujo destaca os custos inerentes aos resíduos considerados lixo, como energia, espaço, transporte e descarte, sugerindo formas de reaproveitamento desse material – também como gerador de receitas -, ao lançar mão do design como diferencial competitivo. “Essas empresas mantem estoques de tecidos que são bons, mas não constam da cartela de cores da última temporada e, por esse motivo, são descartados. Um pequeno acessório, como um botão estrategicamente aplicado, pode valorizar e estimular o desejo sobre esse produto. Estamos na época do ‘novo luxo’, onde o grande fator de valorização passa pela mão de obra, a utilização de descartáveis e a produção sob encomenda que substitui os grandes volumes”.

Dentro do projeto, a formação profissional voltada para processos e produtos que valorizem as questões sociais, culturais e ambientais também é estimulada, assim como o uso de diversas tecnologias para a difusão dessas características. “O papel da indústria tem que ser educativo para aproximar os processos educacionais formais destas novas linguagens. o grande desafio é que os atuais procedimentos sejam questionados por pessoas que queiram criar, ressignificar materiais e agregar valor aos novos produtos”, destaca o especialista.

Novos produtos
O resultado final das oficinas promovidas pelo TRAMA AFETIVA revela como os conceitos da economia afetiva, aliada ao design e a experiência pessoal e profissional da equipe envolvida, podem contribuir para a produção de itens diferenciados, extremamente atraentes e que possibilitam novas utilizações para artigos do dia-a-dia.

Dentre os nove produtos finais desenvolvidos, onde em sua maioria foram utilizados resíduos de tecido índigo da Cia Hering em várias tonalidades e texturas, destacam-se o poncho ângulo que também pode ser utilizado como cobertura de sofás, o biombo dobra, multiuso com espaço para revistas, toalhas e acessórios, o banco livro, com almofadas inspiradas em páginas de livro que aliam o lúdico ao funcional, a jaqueta casca, com mochila que une duas funcionalidades em uma única peça e o orquidário de parede que possibilita a criação de um jardim vertical dentro de casa. “Utilizamos o design como plataforma de transformação e de ressignificação de produtos e processos, substituindo o individualismo por ações de interdependência, que valorizem a colaboração para fazer com os outros e para os outros”, conclui Araujo.

Participaram do TRAMA AFETIVA: Adriano Catenzaro, Carolina Ecco, Eglair Quicolli, Eliane Marques, Francisca Laura, Herculânia Reis, Itiana Pasetti, Leandro Castro, Marcelo Badan Caparroz, Nadezhda Mendes da Rocha, Nina Coimbra, Paula Franchi, Patricia Sayuri, Rosinha Matos e Yae In Choi.

http://estilistasbrasileiros.com.br/trama-afetiva-promove-a-economi...

Todas as etapas do projeto TRAMA AFETIVA, incluindo palestras e oficinas, estão disponíveis na fanpage: https://www.facebook.com/tramaafetiva.

Serviço:
Exposição TRAMA AFETIVA
Até 13 de novembro de 2016
Das 14h às 18h
Estúdio Marcelo Rosenbaum
Rua Cristiano Viana, 224 – Pinheiros, São Paulo/SP

 

• Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI