Mesmo que lenta, a retomada da economia brasileira provoca uma invasão de produtos asiáticos que atemoriza setores da cadeia produtiva nacional. Sindicatos de diversas áreas e economistas alertam para o aumento de importações, especialmente aquelas vindas da China, efeito que foi reduzido com a recessão, porém, retorna com força ante a saída da crise. 

Em Minas Gerais, entre julho de 2017 e março deste ano, as indústrias têxtil, de vestuário, de couro e calçadista registraram esse movimento que, embora inferior ao momento anterior à crise nacional, tem gerado perda de competitividade e de mercado. 

Apenas no setor de vestuário, o crescimento das importações em Minas foi de 40% no período. As importações saltaram de US$ 13 milhões para US$ 18,8 milhões. E os produtos chineses ganharam destaque, representando 68% de tudo que entrou no Estado. Para se ter ideia, a participação deles saltou de US$ 11,2 milhões para US$ 12,8 milhões, um aumento de 14,8%. 

Destacam-se, ainda, a Índia, que passou a vender 544% mais para Minas – de US$ 198 mil para US$ 1.276 milhão. O Japão saiu de zero para US$ 2,2 milhões, na mesma base comparativa.

A retomada da economia é decorrente do aumento do consumo, conforme especialistas, mas as importações batem de frente com as vendas de produtos nacionais, o que é maléfico para a indústria nacional.

“Os produtos chineses são de baixo valor agregado, com os quais não temos condições de competir. Com isso, nosso setor não consegue registrar crescimento nos últimos anos”, afirmou o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais (Sindvest-MG), Luciano Araujo. 

Para o dirigente, as importações têm comprometido os investimentos em infraestrutura das fábricas e, também, a ampliação do quadro de funcionários. “Além dos importados, há muito material que entra no país de forma irregular”, alertou.

Atualmente, a indústria do vestuário mineira tem 10 mil empresas, com 136 mil empregados contratados.

Crescimento sucessivo

As importações no Estado somaram US$ 91 milhões entre julho de 2017 e março deste ano, um aumento de 12%, no comparativo com período anterior, segundo levantamento do pelo Centro Internacional de Negócios, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a partir de dados do Ministério de Desenvolvimento da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), especialmente para o Hoje em Dia.

“Tradicionalmente, as importações são sempre maiores que as exportações. Os desembarques deveriam gerar impostos para os importadores, mas, no Brasil, quando há acordos comerciais, as taxas praticadas são bastante reduzidas, o que não surte o efeito de equilíbrio desejado para a balança comercial”, explicou o consultor de Assuntos Internacionais da Fiemg, Alexandre Brito.

No ramo calçadista, o resultado das importações passou de US$ 847 mil para US$ 3,031 milhões no período, o que pode ser explicado pelo aumento de 257% da entrada de um tipo específico de produto, que tem sola exterior de plástico, também de origem asiática.

O presidente do Sindicato da Indústria de Calçados do Estado de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), Jânio Gomes Lemos, destacou que a importação de couro é inexpressiva no Estado. Em compensação, a entrada de calçados prontos ou semi acabados de origem asiática e confeccionados com “couro sintético” também impactam de forma negativa a produção interna. “Os produtos chegam com preços subfaturados. Quando há campanhas de controle, param os chineses e começam os vietnamitas e de Taiwan”, lamentou. Segundo ele, o processo é cíclico. 

Com 1300 fábricas no Estado, a maioria delas micro e pequenas empresas, o setor calçadista aposta na qualidade do produto para ganhar a preferência do consumidor e “segurar” o mercado.

Movimento afeta setor de Bolsas, mas beneficia o têxtil

A entrada de importados asiáticos também tem afetado a produção de maletas e bolsas de couro.

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Bolsas do Estado de Minas Gerais (Sindibolsas-MG), Celso Luís Afonso da Silva, o resultado do setor em 2017 não foi positivo, fruto da queda do consumo. “A recessão aprofundou-se no comércio e as vendas caíram muito”, argumentou. Segundo ele, com a retomada, o problema agora é o aumento da competição com os importados de países asiáticos.

Segundo maior produtor de bolsas do país, o Estado tem 200 fábricas, das quais 35 associadas ao Sindicato. 
 

Jânio Gomes e Celso Luís da Silva, representantes das indústrias de calçados e bolsas 


Beneficiados

Ao contrário do que ocorre com outros setores, a indústria têxtil comemora o aumento de importação de produtos chineses em 26,5%, entre janeiro e março deste ano. É que os desembarques são de insumos, dentre os quais se destacam os filamentos e fios sintéticos, que são matérias-primas para os setores de malharia e tecelagem.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de Minas Gerais (SIFTMG), Fabiano Soares Nogueira, afirmou que o PIB do setor cresceu, no Estado, 11% no primeiro bimestre deste ano. 

“Houve melhora nos negócios, com 18,86% de aumento nas vendas de tecidos para atacadistas e confecções, apenas entre janeiro e março”, afirmou justificando os números pela retomada da economia. 

“O nosso setor já viveu tempos piores, quando o dólar foi a R$ 1,55 no segundo mandato do presidente Lula”, lembrou.

No Brasil

Em âmbito nacional, nos últimos três trimestres, os setores de vestuário, têxtil, couro e calçados registraram incremento de 22,16% entre janeiro e março deste ano, 25% entre outubro e dezembro de 2017 e de 17,7% entre julho e setembro do ano passado, segundo dados de um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O economista da entidade, Rafael Cagnin, adianta que esse movimento deve se prolongar. “O processo ensaiado por alguns segmentos industriais de substituir as importações pelo fornecimento nacional foi pontual, temporário e ficou para trás”, ressaltou. 

Luciana Sampaio Moreira

http://hojeemdia.com.br/primeiro-plano/nova-onda-chinesa-aumento-de...

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