Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Anteontem, tive a privilegio de observar a opinião de dois amigos: Um, ateísta, acreditava que o homem devia agir corretamente por isso era ético, e pronto. Mas ou menos se recusava ter de uma crença na bondade divina e também não culpava o velho guerreiro Diabo como responsável pela maldade no mundo. Se assim cresse, direta ou indiretamente, a culpa do mal de reverteria ao criador do Maldoso.

Já o amigo religioso, de vida modificada para bem melhor, por meio de sua fe no Rabino  (Mestre) Jesus, o via como a salvação da humanidade, e ponto final. As guampas estavam entrelaçadas firmemente, e não se moveram em suas respectivas visões.

Sem querer entrar no mérito das duas opiniões paradoxais, e respeitando ambas, gostaria de dar um “pitaco”, não sobre a discussão entre eles, mas sobre a minha visão de meu céuzinho. Visão juvenil, boba e caipira, mas a minha visão:

                                                                       CÉU CAIPIRA

 

Dizem haver vários tipos de céus:

De Cristão, com anjos e harpas e Serafim,

De Judeu, Talmude, Toras e nenhum Salim,

De Muçulmano, Alcorão, mesquitas e nada de Sefaradim.

Enfim,

Céu de Índio, Budista, Capitalista, Fetichista,

Ateísta, Comunista, de Sambista e Vigarista,

Mas,

Pudesse eu decidir, meu céu seria tropical,

Simples e bem caipira como o meu céu já vivido em

Ferias de menino e agora já longe, e quase

Perdido na garoa de passado distante,

Certamente

Era um céu matuto, com montões de bananeiras,

Com riachinho lerdo e dengoso a sussurrar suave

Amor e besteiras entre bambuzais e capoeiras.

Neste céu,

De sonolento vilarejo, uma dúzia de ruelas e

Com boteco sertanejo, de madeira furadinha,

Ventilada e cheia de cupim; era bolicho estocado, de

Caboclos, Lusos, ex-escravos Imigrantes e Negros,

Com pingas, brevidades, bijus e bolinhos de aipim,

Sim, meu céu Seria Caipira,

Com matas, passarinhos e muitas mangueiras,

De manga rosa, manga espada, peito-de-moca,

manguita e manga-do-conde e também araçás e

Goiabeiras de goiaba branca e vermelha e mais

Jaqueiras, de jacas moles e duras, muitas caramboleiras,

Laranjeiras com carnaval besta e gafieira e na boa

Tradição interiorana também um doido local, o Seu Moreira.

E lá haveria,

Atento em sua bicicleta um policial da vila, policiador

Das domesticas e chegado ao jogo-do-bicho, amigo da fauna

           Pesquisador de capoeiras de revolver velho e cassetete duro, uma

Figura quixotesca, mas serviçal, bom amigo do decoro, com

Sorriso franco e brilhante - cheio dentes de ouro.

Seu domínio,

A esquecida cadeia sempre cheia de teias de aranha,

Construída com manha a mando do Frei Ortiz,

Para penitenciar as ressacas de Seu Nonô e sua

Compulsão infeliz de arriar suas calcas e casaca na Igreja Matriz.

Cadeia amiga, cadeia “só p’ra Inglês ver”:

A bunda preta -e bem conhecida- de Seu Nonô.

 

Mas, não podendo deixar de ser,

        Meu Céu Caipira teria bom farmacêutico, receitando

Abluções anais,, supositórios, óleo de rícino e laxativos,

Biotômico Fontoura, Óleo de Fígado de Bacalhau,

Pílulas de Ross e para uma boa manutenção de casal

Estrato de Barbatimão e Garrafada de Catuaba.

Teria também que ter,

Uma envelhecida Ponte Preta e u’a Maria Fumaça,

Dormitando sofregamente em companhia do velho Agente.

E mais também,

Uma Estrada, quase uma picada de barro vermelho,

Livre de carros e bordejada de mato e recapada com

Merda de vaca; diacho de eternidade feliz acompanhado

De primos, pescando traíras, bagres, carás-pebas e lambaris,

Piabinhas e piabas - Açu e enfiando mãos nas locas a buscar

Lagostins e garrafa de cana resfriando em plácidos remansos

Sombreados e com fieis vira-latas, bosteando nas matas,

Fuçando as capoeiras e tocas em busca de pacas.

No fim das tardes,

Já meio Cananeu, baixo o sol vermelhão e macho que devagar

Escondia-se atrás do Monte Seco, parecendo paquerar as

Viçosas coxilhas da terra - e a turma já subindo de barreira acima,

Com fieiras de peixes a admirar as reflexões da garrafa

Vadia, flutuando rio abaixo para o tudo-nada, como se fosse

A buscar o Meu Velho, os finados tios Henrique, Joaquim e Corintho,

e mais

Vô Silvino e Vό Marquinha e os afobados primos Paulinho e

Adilson, malandros sacanas que deram rasteira na velhice.

E novamente unidos,

Pela vida e pela morte e o tudo-nada, a preparar mesas de

Banquete eterno, bailando baixos bandos de periquitos, sabiás,

Caga-sebos, tizius, siricoras e frangos d’água e flutuando em

Correntes térmicas, ascendendo a referencias não postuladas, e

Depois a rapaziada faria uma romaria até Congregação dos Cananeus,

Ouvindo a pregação apócrifa de Baco e nirvanizados por inúmeras saideiras,

Entre papos de rameiras e futebol no etéreo Boteco de Seu Zé de Mello;

E vem a cuspida derradeira p’ro santo cana-nizado

E com os cabos entre as pernas, rabos cheio de aperitivos e estômagos a rugir

Com apetite voraz, pronto a devorar o feijão tropeiro,

Arroz carreteiro e couve Mineira fritada na banha de porco,

Um bom naco de carne de sol frita, com rodelas de cebolinha

E depois Vό Mariquinha a pedido da garotada fritaria um ovo

Na gordurinha, reforçando o jantar com uma farofa caseira.

Ah, céu sem azia,

De dias quentes e sol,

Nada de depressão, ansiedades e veias entupidas,

Céu do Eldorado, despreocupado, de jogo de porrinha,

Céu sem julgamentos,

Paraíso das meninas entendidas e

Sem colesterol, ataques de coração, ou de apoplexia.

 

 

 

 

Mais tarde,

Viria o Sacrossanto lava-pés de bica,

 E um amor a ser encontrado fica imerso

Em atmosfera noturna e mística entre cânticos Gregorianos

De sapos-boi, grilos e cigarras perdulárias, salpicados de vaga-lumes,

Balançando na rede ao lume de lamparinas venero telhas enfumaçadas,

O pão preto, linguiça enrolada em varal flutuando sobre fogão de lenha

Com bule esmaltado e caldeirões de ferro fundido e

Defumando o café requentado,

Ouviríamos a Negra Dorothea ferrada com um “C” do Corisco,

 Na testa a contar as estórias do Saci-Pererê, da Mula Sem Cabeça, do

Caipora, de Lobisomens, bugres e dos amores de Capitão Lampião a da

Dona Maria Bonita e lendas do Norte antes de dormir ao crepitar

Das brasas do fogão e a parca luz do Lampião Aladim, leria

Castro Alves, Zé de Alencar ou o Guimarães, saboreando um quindim.     

E da janela,

Sempre aberta convidando a noite enfeitada e morena, pensaria,

Na mágica das estrelas e pessoas cadentes, veneraria constelações,

Discerniria a simetria do Cruzeiro do Sul ouvindo um caboclo sanfoneiro

Tirando acordes tristes e dolentes lá p’ros lados da casa do paiol,

                               Em ninar precursor da passagem apocalíptica e cacofona

                                                            Do Tinhoso,

                     Do Trem Noturno, praga de Ferro e Fogo matador de Céus Bucólicos,

                                  Nos amedrontando com apitos distantes e tristes –

                  Para depois sacolejar a vila com trovoes, ribombos, troar de vagões:

                                                            Um vulto Negro, fedendo a

Enxofre, raptando em quadrados iluminados uma humanidade, que

Sonolenta some entre cidades mortas, pontes negras e estações

Dormitantes com Marias-Fumaças cochilantes

Visão dantesca

De tremores, assombros e berros de crianças assustadas nos parapeitos de janelas humildes, chuvas de fagulhas, guinchos de roda de aço atritando

Trilhos, cacarejar de galinhas assustadas e uivos da cachorrada local

Exorcizando o Capeta da Noite para fora da Vila, o qual algumas vezes

Desaparece em trilhos, outras em trilhas de sonhos ou voltando disfarçado de Pesadelos.

Mas nesta vila ideal,

O Noturno só causa tensão poética, uma tormenta controlada em trilhos

Onde o pesado ar de enxofre da defunta Rede Ferroviária Federal se dissipa,

E as derradeiras revoantes fagulhas se tornam efêmeros pirilampos e se

Transformam em galáxias distantes - e a sua fumaça transmuta

Em nebulosas cósmicas,

E chega a amada Rede Matuta Sideral, num trem azul de sonhos que

Paternalmente nos sacoleja mansamente, como um ninar de um Morfeu

Luso-Acaboclado, viril, peixeira na cintura, cantador de Congos e de

Bumba-Meu-Boi, germicida celestial, fumigador de germes tecnicologicos que

Paulatinamente nos destrói; e esta figura heróica Greco-Tupinambá, com a

Ajuda da Africana Iemanjá, quebra cadeias eternas de Espaço-Energia-Tempo e

Assino a minha carta eterna de alforria, onde, em dialética do boteco de

Seu Zé de Mello, “se caga-e-anda” p’ro Principio da Entropia, e p’ra

Teoria da Relatividade e a dos Buracos Negros e vence a universalidade da Teoria matuta local, A dos Buracos Rosas ,

Comprovada até mesmo na Negra Dorothea.

 

Quebrada feitiçaria moderna, sou embalado em aspirais que giram

E rolam, rolam e giram, crescendo em aspirais infinitas de dias tranquilos,

E em meu Céu Caipira, oásis no deserto da física abstrata e da

Metafísica e astronomia, me liberto dos arreios intocáveis da Velocidade da luz;

E livre de Pastores de Circo, Padres de Televisão,

De anúncios de remédios e de Propaganda Eleitoral,

Me liberto em referencias simplísticos onde a realidade

Universal e atingível com a mão: Trabalho árduo, boi no pasto, pasto verde.

Cana velha e cabrocha nova, muito barbatimão e abundancia de catuaba.

E, maviado pelo Céu Caipira, ouço

Anjos do Aleijadinho cantando: “Eita trem bão” - e Arcanjos de argila

Do Sertão Brabo, lá pras bandas de Petrolina completam: “diacho de

Céu Caipira” e eu me liberto, esvoaçando entre jacupemas, siricoras e

Arapongas, seguindo o rastro de rostos vivos e relembrados Sou Um,

Diluido na realidade de uma fé ingênua e simplística, na Verdade de uma

Emancipação descomplicada, para finalmente me amalgamar em palavras

Simples, na semântica libertadora de meu Céu Caipira, um céu de

De vida ideal e abundante, um círculo eterno sem gravata, e sem terno,

E liberto de gente neurótica e aflita num céu tão simples e liberal,

Onde até o Seu Moreira, nosso venerável doido local,

Encontra um momento de paz inaudita,

Comendo em sua marmita, uma farofa saborosa e nutritiva

                                        De bundas de tanajuras fritas...

Exibições: 186

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Comentário de Sam de Mattos em 13 fevereiro 2011 às 17:46
Senhores, nesse domingo, aqui fico eu. Para os queridos amigos, uma boooooa viagem. SdM

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço