Financiamento, gestão eficiente dos recursos dos bancos multilaterais de desenvolvimento, mercado de carbono e atenção à força de trabalho são soluções apontadas pelos especialistas do B20.
Ondas de calor e de frio, inundações, incêndios florestais e ciclones. O ano de 2023 foi marcado por desastres ambientais que mostraram os efeitos devastadores da crise climática. A saída é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e a principal ambição dos países tem sido alcançar a neutralidade de carbono. Mas como as nações podem aliar a ambição do net zero a um desenvolvimento inclusivo?
Para responder essa pergunta, o B20 Brasil convidou o enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, a vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores (OIE), Renate Hornung-Draus, o presidente de Negócios da OCDE, Charles Rick Johnston, e a membro fundadora da Catavento Consultoria e membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Clarissa Lins, que apresentaram os seguintes caminhos:
Os especialistas participaram nesta segunda-feira (29) do evento de lançamento do B20 Brasil, no Rio de Janeiro, com a coordenação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Opening Event é o primeiro encontro da agenda dos grupos do Business 20, o braço de negócios do G20. Veja abaixo as opiniões dos painelistas:
O enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, afirmou que, hoje, ainda há pouco financiamento para os países emergentes reduzirem suas emissões de gases de efeito. Segundo ele, para que o mundo alcance a neutralidade climática são necessários 1,8 trilhão de dólares até o fim desta década.
“Então, o que que os bancos multilaterais de desenvolvimento podem fazer? Podem contribuir com uma proporção significativa disso. Algo em torno de 400 bilhões de dólares utilizando uma gestão mais eficaz”, apontou Carney.
Para a vice-presidente da Organização Internacional dos Empregadores (OIE), Renate Hornung-Draus, os países precisam conciliar as ações de sustentabilidade às necessidades dos trabalhadores. Renate disse que, neste momento em que os governos passaram a implementar políticas climáticas, também começaram a surgir muitos problemas sociais e econômicos.
“Vemos muitos protestos de fazendeiros e muitos produtores falindo. As pessoas não sendo capazes de pagar suas contas de luz. As políticas verdes têm que levar em consideração as necessidades das pessoas, a necessidade de empregabilidade e de coesão social”, reforçou a vice-presidente da OIE.
“Às vezes, os governos na tentativa de salvar o planeta, esquecem das pessoas. Estamos enfrentando os efeitos adversos dessas políticas míopes e um dos motivos para isso é que as políticas ambientais foram desenvolvidas rapidamente.”
Renate Hornung-Draus explicou que o debate climático negligenciou a força de trabalho e que, agora, as empresas precisam mudar suas orientações para permitir que as pessoas sejam capazes de viver e de trabalhar, de acordo com as demandas impostas pela busca da neutralidade climática.
O presidente de Negócios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Charles (Rick) Johnston, afirmou que o mundo vive, atualmente, um novo paradigma de advocacy. Segundo ele, as empresas precisam atuar para além das organizações internacionais.
"Trabalho em advocacy para regulação de políticas há mais de 50 anos e estamos em um momento de transição, porque muitos de nós focamos em organizações internacionais. Temos que continuar isso, claro, mas precisamos pensar no advocacy governamental à nível internacional."
Advocacy, na atualidade, é usado como sinônimo de defesa e argumentação em favor de uma causa. É um processo de reivindicação de direitos que tem por objetivo influir na formulação e implementação de políticas públicas que atendam às necessidades da população.
O enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, apontou o desenvolvimento dos mercados de carbono em âmbitos doméstico e internacional como forma de alcançar a agenda verde de forma inclusiva.
No Brasil, o tema, atualmente, está nas mãos do Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados aprovou, em dezembro do ano passado, projeto de lei que regulamenta o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) — conhecido como PL do mercado de carbono. A matéria, agora, precisa da apreciação do Senado Federal.
A membro fundadora da Catavento Consultoria e membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Clarissa Lins, chamou atenção para o potencial do Brasil no desenvolvimento de novas tecnologias de geração de energia, a exemplo do hidrogênio verde.
“O Brasil já é o segundo maior produtor de etanol [do mundo] e, olhando para o futuro, isso significa que temos um ponto de partida muito importante. Mas isso não é o suficiente se pensarmos em onde estaremos aqui há 20 anos.”
Para que o país avance, Clarissa destacou a necessidade de se desenvolver políticas públicas que atraiam investimentos e novas tecnologias. “Então, é hora de pensarmos em políticas para o hidrogênio verde, os biocombustíveis e a captura e armazenamento de carbono”, exemplificou. “Acho que temos possibilidades muito boas no setor da energia, mas temos que reter esses produtos e transformá-los em uma vantagem competitiva.”
O lançamento dos trabalhos do B20 Brasil acontece nesta segunda-feira (29), na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), no Rio de Janeiro, e reúne autoridades de governo, como o vice -presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Geraldo Alckmin, e CEOs de empresas brasileiras e estrangeiras. Desde que o fórum empresarial foi criado, esta é a primeira vez que o Brasil assume a coordenação, exercida pela CNI.
Por: Letícia Carvalho
Foto: Lucila Villela/FIRJAN
Da Agência de Notícias da Indústria
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