Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Como fazer amigos, empreender e liderar pessoas

Ana Paula Paiva/Valor / Ana Paula Paiva/Valor

Para quem sempre quis dar uma espiada no guarda-roupa da dona da Dudalina, a própria Sônia Hess revela: tem mais de 150 camisas e 40 calças da marca. É tudo o que ela usa, além de peças em jeans da Base, outra grife do grupo que comanda. Na presidência da empresa desde 2003, a executiva ajudou a transformar uma confecção do interior de Santa Catarina em um negócio com perspectivas globais e meta de faturamento de R$ 1 bilhão, em 2016.

Sexta filha de uma família de 16 rebentos, Sônia gosta de dizer que herdou da mãe, Adelina, a vontade de empreender. E do pai, Duda, veio a facilidade de liderar e fazer amigos. Foi com a junção dos nomes dos dois que a família batizou a Dudalina, criada em 1957, e considerada hoje uma das maiores camisarias da América Latina. Com sede em Blumenau (SC), escritório em São Paulo (SP) e seis fábricas no Sul do Brasil que totalizam 103 mil m2 de área total, a empresa vende 5 milhões de peças ao ano. Faturou R$ 520 milhões em 2013 e deve fechar 2014 com R$ 650 milhões no caixa. "A meta para 2016 é chegar a R$ 1 bilhão de faturamento", diz Sônia. "Sou a primeira a chegar e a última a sair do escritório."

A executiva de 58 anos nasceu na pequena Luíz Alves, cidade de 11,3 mil habitantes a 135 km de Florianópolis (SC). Foi lá onde tudo começou. A família mantinha uma pequena loja de secos e molhados e, por conta de um farto estoque de tecidos - resultado de uma compra exagerada -, resolveu fazer camisas. "Ainda lembro do perfume do álcool que a minha mãe usava para colar as entretelas [material que dá forma aos colarinhos das camisas]", conta.

Na adolescência, mudou-se para a vizinha Blumenau para completar os estudos. Ainda muito jovem, trabalhou nas lojas da família em Balneário Camboriú (SC), cumpriu expediente em empresas do setor têxtil em Minas Gerais e fez um estágio em uma fábrica de camisas na Espanha. Em 1984, foi convidada pelos irmãos para "abrir" o mercado paulista e administrar o escritório da empresa, em São Paulo. Em 2003, depois de passar por diversas áreas da companhia, como produção, marketing, produto e comercial, assumiu a presidência, a convite do conselho de administração. Além da Dudalina, o grupo fabrica as marcas Individual e Base. Do total da produção, 65% vão para o público masculino. As camisas da Dudalina para mulheres custam em média R$ 300, com ofertas do tamanho 34 ao 50. São mais de 2,5 mil modelos, entre diferentes cores e tecidos.

"Nunca tive problemas com gêneros no trabalho", diz Sônia Hess. "É a competência, e não o sexo, que determina quem ocupa cada função"

Foi sob o comando de Sônia que a marca também assumiu um caminho próprio no varejo. A operação rumo ao consumidor fim é considerada a grande virada da Dudalina, que, a partir de então, ganhou mais holofotes no mercado de moda e ampliou seu espaço em shopping centers. A primeira experiência de uma loja monomarca apareceu em 2010, em um shopping sazonal, em Campos do Jordão (SP). Hoje, são 94 unidades, sendo 59 próprias e 36 franquias. A internacionalização começou em 2012 com pontos na Itália e no Panamá. As próximas lojas serão abertas na Suíça e Áustria.

O crescimento da empresa chamou a atenção de investidores internacionais. No final de 2013, a Dudalina vendeu, segundo informações do mercado, 72,3% do seu capital. As companhias envolvidas não informam o valor do negócio. Sônia admite a venda, mas desconversa sobre o tamanho da fatia entregue. Cita apenas os compradores: as gestoras americanas de investimentos em participações Advent e Warburg Pincus (WP). A Advent tem sob sua gestão cerca de US$ 32 bilhões em ativos e ficou conhecida por aportes na Kroton, da área de educação, e na IMC, dona dos restaurantes Viena. A WP gerencia mais de US$ 35 bilhões em ativos, com um portfólio de mais de 120 companhias.

Trabalhando normalmente após a venda, a presidente pratica uma gestão conhecida como "de portas abertas". "Não há salas nem divisórias. Estou sempre disponível para receber qualquer pessoa", diz. No comando, tem de lidar com uma diretoria composta 100% de homens, mas não encara a situação como uma dificuldade. "Nunca tive problemas com gêneros no trabalho. É a competência, e não o sexo, que determina quem ocupa cada função."

Há oito anos, estabeleceu uma política de participação nos resultados da Dudalina para os 2,5 mil funcionários - 75% são mulheres. Doze por cento do lucro líquido anual entra na partilha. "Na prática, são cerca de cinco salários a mais por ano." Ações de interesse social também estão no seu radar. No fim do ano passado, a empresa arrecadou cerca de R$ 300 mil para a campanha Outubro Rosa, de conscientização e combate ao câncer de mama. Ofereceu 13 itens confeccionados especialmente para o movimento e parte das vendas foi revertida para a iniciativa.

A companhia também criou, em 2005, um projeto social em parceria com o Instituto Sócio Ambiental Adelina Clara Hess de Souza. O objetivo é atuar no desenvolvimento comunitário, na redução do impacto ambiental das fábricas e incentivar a formação de grupos de geração de renda. A Dudalina doa retalhos não aproveitados na linha de produção para instituições e costureiras que usam o material em sacolas retornáveis. Depois, compra as sacolas e as distribui nas lojas.

Fora do escritório, a prioridade de Sônia é a família. Casada, ela é avó de três netos, dos casamentos de suas três enteadas. A quarta neta deve chegar em julho. "Da sexta à noite até a segunda de manhã eu sou exclusiva da família. Não há espaço para negócios", diz a executiva, que, mesmo assim, nunca conseguiu tirar 30 dias ininterruptos de férias. "No máximo, fiquei uma semana sem trabalhar."


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Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo

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