Escrito por: Carlos Lopes/Hora do Povo
Nas contas externas de abril, divulgadas pelo Banco Central (BC), para uma exportação de US$ 19,6 bilhões, o saldo comercial foi de apenas US$ 882 milhões; de janeiro a abril, esse saldo caiu 33,7% em relação a 2011 – as importações, evidentemente, aumentaram bem mais que as exportações.
O resultado é o déficit externo (nas “transações correntes”), em quatro meses, de US$ 17,5 bilhões (com o BC projetando US$ 68 bilhões até o fim do ano).
Para usar uma expressão simples, as contas externas estão penduradas no dinheiro especulativo estrangeiro. Até a ideia, por si mesmo asinina, de cobrir o rombo externo com “investimento direto estrangeiro” (IDE), ou seja, vendendo mais e mais empresas nacionais, já é insustentável agora.
Não porque falte IDE no país, mas porque o rombo é crescente: aumentou 86,62% de 2008 a 2011.
Portanto, a continuar esse processo, a tendência é aumentar a dependência do dinheiro especulativo estrangeiro. O problema é que toda a propaganda do BC sobre o “colchão de liquidez”, constituído por “poderosas” reservas monetárias – em abril, estiveram em US$ 374 bilhões -, que seriam um seguro contra turbulências e ataques especulativos, não é mais que publicidade de elixir miraculoso.
Segundo o próprio BC, há US$ 571 bilhões em dinheiro especulativo estrangeiro dentro do país. As reservas cobrem um pouco mais da metade – uma situação perigosa, pois estas reservas não são constituídas pelo resultado de saldos comerciais, mas pelos dólares que os especuladores trocam por reais. Rigorosamente, não são reservas do país, mas dos especuladores.
Porém, apesar de alguns alardes na mídia, esse não é o nosso problema principal, mas os US$ 659 bilhões em “investimento direto estrangeiro” (IDE) no país. Nem a Ypioca escapou da desnacionalização. Nosso real – e cada vez mais imediato - problema é o excesso de IDE.
Depois de ler o noticiário econômico dos vários jornais nos últimos dias, e os boletins das várias entidades empresariais (os comentários econômicos da TV são perda de tempo), tem-se a impressão de que nunca houve tantos palpites sobre isso e aquilo - e tanto nervosismo inflamável.
A economia continua ladeira abaixo, apesar da redução nos juros básicos e da melhora (ainda que “tímida”, como disse uma economista) na taxa de câmbio: ninguém prevê reversão para o que houve até agora, quando o crescimento trimestral - o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre – que será divulgado pelo IBGE na sexta-feira, foi previsto, na terça-feira, pelo próprio ministro da Fazenda, como ínfimos “entre 0,3% e 0,5%”. Em poucos dias, o ministro recuou duas vezes a sua previsão para o ano: de 4,5% para 4%, e, agora, para 3,5%.
Já o Banco Central (BC), na segunda-feira, reduziu sua “expectativa de mercado” de 3,09% para 2,99% de crescimento no ano - e o leitor não nos pergunte como é possível variar previsões em um décimo de ponto percentual. Mas a sinalização é clara: o BC reviu a previsão para baixo.
A indústria é o centro da questão. A queda na produção industrial em -3% no primeiro trimestre é muito ruim, mas o pior é que mascara quedas maiores: a produção de bens de capital caiu -11,4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado e -9% em relação ao trimestre anterior. Houve quedas na fabricação de: veículos (-20,4%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-12,1%); material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-13,1%); máquinas para escritório e equipamentos de informática (-12,7%); têxtil (-7,5%); vestuário (-14,1%), comparadas ao mesmo trimestre de 2011.
O emprego industrial caiu -0,8%; a previsão da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é que o PIB industrial do primeiro trimestre terá crescimento zero; a capacidade ociosa está acima da média histórica; e todos concordam, algo intuitivamente, que houve queda no investimento (formação bruta de capital fixo – a compra de máquinas e equipamentos pelas empresas) de uns 3% no primeiro trimestre.
Nessas horas aparecem gênios que declaram coisas como, na quarta-feira: “a indústria brasileira precisa se reinventar para aumentar a sua eficiência e competitividade”. Muito profundo, não é, leitor?
O problema da indústria nacional é que ela está desaparecendo, comprada por niágaras de IDE. O que tem resultado em remessas de lucros crescentes (as remessas totais para o exterior aumentaram 262,92% entre 2003 e 2011); importações crescentes (no mesmo período, aumentaram 368,51%, devido, sobretudo, às importações de componentes para montagem nas filiais de multinacionais); baixo investimento (as multinacionais compram o que já foi instalado e paralisam sua expansão – como no caso da produção de etanol); nenhum nível de inovação (as empresas de alta tecnologia compradas pelo capital estrangeiro tornam-se usuárias das caixas-pretas da matriz); campanha permanente contra os aumentos do salário real (como têm que remeter lucros para a matriz e exploram, como monopólios, uma faixa estreita do mercado, as multinacionais tentam reprimir os aumentos de salários); e preços de monopólio (o exemplo evidente são os monopólios da indústria automobilística, com suas caríssimas carroças com ejeção eletrônica).
Está claro, nessa breve enumeração, a relação entre desnacionalização e desindustrialização – simplesmente, a própria entrada das filiais de multinacionais onde antes havia indústria nacional, destrói partes das cadeias produtivas industriais dentro do país: o que era fabricado aqui, passa a ser importado.
O resultado geral é a estagnação e o retrocesso da indústria, e, por consequência, da economia. Esse problema, que tanto as contas externas quando a difícil situação econômica interna expressam, não vai ser resolvido com desonerações, ou com “uma política de projeção internacional e de associação no exterior”, ou por “mais incentivo do governo para fusões e aquisições”. O monopólio não é solução para os problemas do monopólio – sobretudo quando os monopólios que existem são estrangeiros, com cofres abarrotados de dólares vadios para comprar os candidatos a monopólio “nacional”.
A economista Cristina Fróes de Borja Reis frisa algo que levantamos aqui algumas vezes: o estrago causado pela casa de doidos que foi a política cambial (e de juros) no ano passado, não são consertados automaticamente por uma melhor taxa de câmbio. Nota ela que um dos elos da cadeia produtiva da indústria química, a produção de corantes e pigmentos, deixou de existir. Passamos a importar corantes e pigmentos da Índia – que passou a ser o maior produtor mundial.
Ou, um caso extremo, o da indústria eletro-eletrônica: “Antes, a indústria importava componentes que eram mais baratos e montava os produtos. Hoje, eles importam o produto pronto e revendem. A indústria virou comércio”.
A economista observa que os custos de produção da indústria têxtil são praticamente os mesmos no Brasil e na China. Quanto à mão de obra, sua participação no custo é até maior que no Brasil (34% na China, 25% no Brasil). A diferença de preços, toda, está no câmbio – acrescentamos nós: no fato da China ter-se defendido da guerra cambial dos EUA, enquanto nós não o fizemos, pelo contrário, os aumentos de juros de 2011 pioraram a situação do câmbio.
Mas há um problema na indústria têxtil, comum à indústria em geral, que no momento é gravíssimo: a maior parte dos insumos usados por ela são, hoje, importados. Por isso, a correção no câmbio acabou afetando empresas nacionais que agora não compram mais seus insumos no mercado interno. O exemplo é uma das empresas nacionais modelares, a Coteminas, a maior do setor têxtil, que vai transformar uma de suas três fábricas em shopping center.
Certamente, é preciso uma política provisória para esse tipo de problema. No entanto, é evidente que o problema somente pode se resolver com a substituição dos importados por fabricação nacional interna. O que não é, aliás, muito difícil, já que temos uma larga experiência no assunto – e uma multidão de gente que adora empreendimentos. Mas isso implica em investimento e financiamento públicos dirigidos para empresas nacionais – assim como na prioridade para elas nas compras do governo.
Fonte:|http://www.conticom.org.br/destaque-central-nac/48483/desnacionaliz...
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Amigo Edson: Claro me sinto melhor (e mais jovem) sendo “tuteado” o “voceisado.” Por favor, “voce”.
seu monologo foi interessante a abrangeu vários tópicos.
1- Sim vivo há mais de 40 anos nos EUA. Sai de moleque de vinte anos, Era acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto, falei o que pensava na hora e no quadro político não favorável e tive que vir para aqui. O auto-exílio se tornou exigência e depois costume. Família, etc.
2- A indústria textil aqui vai mal, obrigado. Claro, dentro do quadro de UTI relampeja uma melhorinha ou outra, mas de modo geral, vai mal, obrigado.
3- Sim o chamado Laissez-Faire, o comercio livre, foi interessante aos EUA quando exportávamos forte. Agora eu prevejo um protecionismo maior (e.g., procurando pelo de ovo no suco de laranja, enlatados, códigos de inspeção mais cuidadosos e essas picuinhas que são prenuncio de protecionismo.
4- Sou parcialmente adepto do Laissez-Faire quando as coisas estão indo favorável as nossas (Brasil e USA) exportações. Sou um fiel crente que “pimenta no rabo dos outros e refresco”. Quando querem “colocar em nosso rabo”, vale a musiqueta do macaco: “Acabou-se a brincadeira, olé- olé - ola...” isso se chama PRAGMATISMO.
5- Acredito também que na vida não a lanches gratuitos e que “ aguentar mais, deve chorar menos”
6- Como os EUA, ainda que indisciplinado e ficando burro, é uma Nação enorme e rica e o Brasil, ainda que corrupto, idem; creio que quando chegar a hora do “pega p’ra capar” não ficaremos tão ruim assim. Mas o “pega p’ra capar” pode algum dia exigir DEFESA e daí devemos estar preparados para tudo, bombão incluso. Leão sem dente e leão doente. Daí chega essa de demonizar as forcas armadas e deixarem os nossos oficiais a mendicância. Isso e feio e injusto.
7- Precisamos-nos disciplinar urgentemente o Brasil. Pena de morte e uma opção viável, mas se não for votado pelos piegas, corrente e bola (Gang Work) seria uma opção viável. Bandidos estariam na Amazônia, MTS, PA, MA, capinando, acertando estradas, na corrente e bola de ferro nas canelas. Não ficar com vários celulares, fazendo de nossos presídios Escolas Superiores de Formação de Bandidos, onde lá são se aprende Transmissão de Aids, PhD de Malandragem, e Arquitetura de Crimes e Trafico de Drogas.
8- No Brasil há uma confusão muito grande em LIBERDADE E LIBERTINAGEM. OPORTUNIDADE E OPORTUNISMO. AJUDA E MENDICANCIA. Enquanto os parâmetros e a semântica não estiver correta, seremos uma Banana Republic.
9- Creio também que o nosso sistema político TEM QUE SER REVISADO. Mas como ainda não chegamos ao fundo do poço, ainda há espaço para mais vagabundos no Senado, Camara, Prefeituras, Sindicatos e Presidência. Onde não se há educação, não há cognição, e qualquer um filho de Senador, de Presidente da Vale, de Governador de estado tem um futuro promissor mamando do erário. Daí a minha voz e inútil e a sua também. O Brasil detesta varas de peca, só gosta de sardinhas e atuns enlatados ou congelados, já limpos.
10- Finalmente tenho saudades do tempo de Marx, quando só a religião era tida como o “Ópio do Povo”. No Brasil e a religião, Bundas, Futebol, Carnaval, Micaretas, Festas Juninas e o escambau. Somos um povo que deve crer no Papai-Noel, na Branca de Neve, em allco grátis, em cursos de auto-ajuda e ate na integridade dos políticos. Acreditas em bolsas famílias, do Predidiario, em ajuda disso e daquilo, Saci-Pererê, incluso. Daí, estamos onde estamos. Na rabeira do BRICS. Ricos e indo de mal a pior. Falta-nos VONTADE, CULTURA e DECENCIA, em geral. Tivéssemos isso, já era MEIO caminho andado. Esses alem do EBX são alguns “Xs” do problema nosso.
Quanto ao politicamente correto, CAGO e ANDO. Prefiro o incorreto para Brasília, mais integro em meu espírito e em minha visão.
Sam
Uma colocação provocante, embora possam lhe acusar de ser um "politicamente incorreto" , como todos que ousam pensar e sugerir alternativas, devem ser. Creio que você ( permita-me o "você"). Creio você mora nos Estados Unidos? A onde neo-liberalizante, defensora da deregulação, desembocou , no que está ainda para vir - possivelmente, um tragédia global sócio-econômica. Faltando pão , nós o povo, se famintos, queimamos nossos ídolos, seja com eleições ou pendurando-os numa forca de cabeça para baixo. (Nelson Rodrigues , o famoso teatrólogo dizia que a maoria é sempre burra, que a maioria está sempre errada..). O que convecionamos chamar de "ocidente" está em crise. Denada adiantará a formidável capacidade criativa e de produção da Alemanha , se cercada de fracassos, pricipalmente na União Européia. Sobre os EUA você pode nos contar, e seria muito bom se fizesse isto, pois conhece de perto como está o setor têxtil por aí. Mas vejamos que o Brasil foi construído com protecionismo - não estou defendendo o protecionismo - mas trata-se de uma contastação. Chamava-se a isto, a este protecionismo , "política de substituição de importação". Isso foi feito, no sentido figurado, desde vassouras, até microeletrônica, até que entrassem os quatro ( na realidade três) cavaleiros do apocalipse: Collor, FHC, Lulla .Itamar Franco foi um ilha de correção, e foi no seu governo que o plano Real foi nascido. O primeiro, um desclassificado, ao segundo um privatizador fanático, uma figura do clássico "entreguista", finalmente chegamos ao terceiro, não tão privativista, mas um destruidor do Estado como o concebemos- falo dos três poderes, hoje arrasados. Mas para não me alongar, é possível que só o caos sócio-econômico, a crise, uma grande discontinuidade, poderá mudar o atual estado do mundo e assim o nosso-Falo do protecionismo que poderá até tirar o eletron de seus gigolôs , vendido a um preço exorbitante, considerando que é gerado por quedas dágua. Existem outros exemplos de "mais caros". São muitos- internet, telefonia, carros etc Enfim tudo
IMPOSTO NO INPORTADO E FACILIDADES AOS DE CASA. Vamos ao protecionismo: Podemos viver sem "importados". Eles nao vivem sem alimentacao. Fato. SdM
Excelente post. E ainda se ousa falar em "inovação" quando o setor é um deserto de cérebros, e as associações empresariais estão impregnadas de falidos e fracassados.Fala-se em Senai fazendo "inovação" . Inovação em que. Vem tudo de fora . O governo bate cabeça um parte indo numa direção e a outra na direção contrária
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