Fonte:|abril.com.br/noticias/comportamento|
Estado socialista tentava ditar regras de estilo, mas população também recebia tendências de grifes do mundo capitalista
Imagine ser um jovem em Berlim Oriental. Você quer se vestir e pensar diferente, por mais que o estado socialista insista na igualdade de todos os cidadãos. Não há muitas marcas de roupas e os produtos dos países capitalistas não chegam até você. A solução é uma só: criatividade.
De fato foi isto que ocorreu n Alemanha Oriental durante a Guerra Fria: a briga entre o Estado tentando controlar o consumo – assim como ocorreu no nazismo – e a população inventando novas formas de usar as próprias roupas. A polarização Ocidente x Oriente foi marcante na moda de Berlim.
Diferentes formas de estilo conviviam no país. Havia aqueles que defendiam os interesses do partido e outros que tinha como inspiração a moda ocidental, vinda, sobretudo, dos estilistas de Paris.
“Enquanto que alguns funcionários defendiam os estilo proletário e rural como a estética ideal do auto-proclamado “primeiros trabalhadores e camponeses” do solo Alemão, outros usaram Paris como estrela-guia e tentaram emular a alta costura internacional”, aponta Judd Stitziel no livro “Consuming Germany in the Cold War”.
Berlim Oriental era um caldo cultural em que conviviam tendências estéticas diferentes: a soviética, a americana, a francesa e também a alemã. Do ponto de vista socialista, a boa roupa seria aquela que cumprisse a sua função, como aquecer no inverno e dar mobilidade ao trabalhador. Não havia nenhum grande salto criativo, pois a função definia a forma.
Mas a população não se contentava apenas com isso; era necessário dar, sobretudo às mulheres, roupas que fossem elegantes e que pudessem ser usadas em evento sociais, inclusive em festas do próprio partido socialista.
“A instituição central responsável por desenhar e propagar a linha de moda oficial da Alemanha Oriental, publicava, com frequência modelos que contradiziam diretamente o desejo de muitos líderes do Partido”, aponta a autora em um outra trabalho, denominado “Socialism: Clothing, Politics and Consumer Culture in East Germany”.
Nesse sentido, era possível encontrar terninhos parecidos com os de Jaqueline Kennedy Onassis ou roupas antenadas com a contra-cultura, como batas florais e brincos de plástico. Os homens, por outro lado, demoraram a receber as mesmas influências ocidentais.
O auge foi a década de 1980, onde, em uma atmosfera que já previa o fim do estado socialista, garotos desfilavam com suas jaquetas coloridas e cabelos punks. A cultura pop – inclusive com a visita de Michael Jackson – entrava sorrateiramente pelo país, contribuindo para derrubada do muro da vergonha.
A opressão acabou sendo libertadora: quem não queria seguir tendências, costurava a própria, como relatou a estilista alemã do período Sabine von Oettingen: “Muitas pessoas costuram suas próprias roupas. Eu só percebi mais tarde que na Alemanha Ocidental e em outros lugares a maioria das pessoas não podem costurar, mas lá era dado como certo que a sua mãe ou avó iria te ensinar a costurar. Era, para mim, uma forma de libertação”.
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