Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O desafio de mudar o jeito careta das camisas

Fonte:|valoronline|

Por Maria da Paz Trefaut

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Macchione: "Minha camisa é uma das melhores que há por aí. Mas, comparado ao que há na Europa, lamento dizer, meu produto é de segunda categoria"

Quando começou a vender camisas no pequeno escritório de seu apartamento, em São Paulo, o empresário Francisco Macchione descobriu algumas particularidades masculinas. Uma delas é que os homens escolhem a camisa pelo colarinho. "O cara olha o colarinho no espelho. Se ele dá uma arrumada, começa a puxar para um lado e para outro, é porque não gostou", comenta. "Mas se ele olha, não ajeita nada, e depois confere como ficou de perfil, a venda está feita". Nesse caso, diz, é só esperar a pergunta: que outras cores você tem?

Macchione, que trabalha com moda desde sempre e já havia produzido todos os itens do vestuário masculino, chegou a essa conclusão em meados da década de 90, período difícil, em que recomeçou na atividade vendendo camisas para os amigos.

Decidido a centrar foco apenas em camisaria, rapidamente passou a desenvolver coleções para grifes conhecidas - M.Officer, Sergio K., Ellus -, e a produção cresceu. Manteve, no entanto, uma pequena escala destinada aos amigos e conhecidos, que existe até hoje, a Uomo Woman Macchione, onde o atendimento é com hora marcada. Nela, não segue modismos e, fiel aos preceitos que considera essenciais, faz apenas peças com mangas compridas e sem bolsos. "É mais bonito", argumenta simplesmente. Mas, se o cliente faz questão, a contragosto, coloca bolsos e corta as mangas.

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"Conforto e elegância não andam juntos. Impossível unir os dois", diz Macchione

Com certo humor, conta que recentemente foi procurado por um artista plástico bastante conhecido que, além das mangas curtas, queria dois bolsos enormes. "Ele trouxe a medida dos bolsos, era uma coisa ridícula, parecia uma sacola de feira. O pior é que encomendou logo três camisas do mesmo jeito. Ficou horroroso. Quando fui entregar, falei: você não vai dizer que comprou isso aqui! Eu faço essas coisas que me pedem, mas confesso que minha vontade é tirar a etiqueta".

As camisas feitas por Macchione seguem um estilo clássico, com pequenas variações nos punhos e no colarinho. Algumas de suas coleções são desenvolvidas especialmente para o exterior, para serem vendidas nas lojas de Carlos Miele, dono da M.Officer, em Paris e Nova York. Quando o assunto é Brasil, suas opiniões são bastante ácidas. Para ele, o país está 20, 30 anos atrás da indústria internacionalizada. "Houve um pequeno ápice nos anos 80, mas depois afundou. A moda pode até ter crescido, mas os equipamentos capengaram e não há boas costureiras. Embora os eventos aconteçam periodicamente e a moda brasileira seja notícia, está totalmente sucateada".

Nessa crítica devastadora, ele não poupa nem o próprio negócio. "Minha camisa é uma das melhores que há por aí. Trago fio do Egito, uso algodão bom e corto em escala industrial para manter o padrão de qualidade. Mas, comparado ao que há na Europa, lamento dizer, meu produto é de segunda categoria".

Se para o consumidor a moda de camisas parece não ter tantas variantes, para quem fabrica a mudança de silhueta tem sido constante. De dez anos para cá, prevalecem camisas cada vez mais justas, a cada estação. Macchione conta que, três anos atrás, a camisa era curta e meio seca. "Depois ficou totalmente seca, deu uma encompridada e o colarinho ficou mais alto", afirma. De acordo com ele, o terno também tem mudado. "O estilo bem agarradinho e grudado no ombro, que era considerado ridículo décadas atrás, tornou-se padrão na silhueta contemporânea. É desconfortável? Claro que sim, mas é bonito".

A camisa é a peça do guarda-roupa à qual os homens, em geral, dedicam mais atenção e a que mais vende. Macchione destaca que muitos clientes trocam três ou cinco vezes de camisa e continuam usando a mesma calça. Pela sua observação, faz parte dos hábitos masculinos substituir a camiseta pela camisa por volta dos 30 anos. Mas a troca é cada vez mais tardia. "Nos últimos anos, você vai a qualquer lugar e os caras estão todos de camiseta. Não importa a faixa etária nem o peso", queixa-se.

Menos taxativa, Lu Pimenta, coordenadora de estilo da Daslu Homem, tem uma visão semelhante quanto ao "império da camiseta" que se instituiu entre os brasileiros. Frequentadora de um clube da elite paulistana, ela diz que, para descobrir quando um homem acabou de sair de um casamento, basta olhar para a maneira como se veste nos finais de semana. "Se ele estiver sozinho, usando jeans preto e camiseta preta, pode apostar que é recém-separado. Não sei o que acontece, mas os homens brasileiros acham que essa indumentária é sinônimo de juventude", afirma.

Nos editoriais de moda masculina e na propaganda produzida pela Daslu sempre há um esforço em apresentá-los de bermuda com camisa, embora não seja um hábito brasileiro. Ela diz que, em Punta del Este (Uruguai) ou na Europa, é comum os homens vestirem camisa quando estão na praia, mas no Brasil ninguém usa. A especialista acredita que isso ocorre, em parte, porque há uma tendência em associar a camisa ao trabalho.

Além de estilista da Daslu, na qual também comanda a recente etiqueta "Daslu Pimenta", Lu é conhecida no mundo da moda pela Tweed, marca de alfaiataria que resistiu por décadas. Apesar de temporariamente fora de circulação, a Tweed permitiu que ela acompanhasse o comportamento masculino diante da evolução da moda. Uma de suas conclusões é que, nas novas gerações, há cada vez mais resistência ao uso da camisa. "Para eles, parece que a camisa é só para situações formais: para um casamento, para a formatura. No dia a dia a garotada veste camiseta e ponto final. O brasileiro ainda não descobriu que existem milhares de variações de camisas além das sociais".

Para incentivar o uso mais descontraído da peça, várias lojas têm colocado à venda linhas especiais, que chegam às prateleiras amarrotadas e já com tecidos amaciados. Outra batalha dos estilistas é mostrar que a camisa de manga curta não precisa ser necessariamente larga e quadrada, fiel ao velho estilo fazendeiro: as atuais foram inspiradas no surfwear e acompanham a silhueta do corpo.

A coordenadora de estilo da Daslu Homem acredita que, aos poucos, tem conseguido introduzir o conceito de que a camisa de tecido pode ser mais fresca e até mais confortável do que uma camiseta. "Mas para os homens é preciso dar as novidades aos poucos. Sei o quanto é difícil desconstruir a visão da camisa que eles trazem na cabeça e mostrar que é uma peça que também pode ser jovem", explica Lu Pimenta.

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Comentário de HANS JURGEN BRAEMER em 3 maio 2010 às 10:37
Cecília, você está sendo redundante.
Estou nêste segmento de moda há sómente 43 anos. Talvez você não tenha isto de idade !!!
Se você realmente dominasse a língua portuguesa você me entenderia melhor. Quanto ao ítem moda é uma opinião pessoal da Maria Trefaut de acordo com o Macchione.
O autor não explicou o porque da indústria de confecções de camisas estarem SUCATEADAS.
Entre em qualquer loja da RICHARDS, ARAMIS, WÖLLNER OU OSKLEN ( alguns exemplos ) e olhe ( vire do avesso ) e sinta a qualidade das camisas lá oferecidas. Não são importadas não !!! O melhor tecido de camisaria do Brasil chama-se: SOMELOS ( multinacional portuguesa ), a qual só bate os tecidos com FIO EGÍPCIO e depois vem a INDUSTRIAL CATAGUASES. Temos a RENAUX também ( 2º plano ). Bem, o resto é o resto. As maquinárias e respectivos complementos das confecções ( mão de obra ou facçionistas ou oficinas como queira ) são todas de última geração. Que sucateamento é êste ???
O que houve realmente foi uma queda radical no número de confecções de camisas no Brasil, principalmente depois da queda nas tarifas de importação.
Comentário de Cecília Parodi em 1 maio 2010 às 22:44
Para as pessoas que entendem de Moda, ou que analisam o conteúdo, o texto tem informação, mas pessoas que gostam de criticar ao invés de criar um texto....
Pq ainda existem pessoas que criticam ao invés de criar, ou acrescentar conteúdo??
Pesquisem e divulgem artigos é mais construtivo.
Pensem positivo!!!
Comentário de Textile Industry em 30 abril 2010 às 13:09
O objetivo de tudo que é divulgado aqui, é ajudar nossa comunidade.
Nada é definitivo, pode ser contestado, questionado, criticado e por que não re-editado?
Não cai antes na sua mão, pois não admitimos nenhum tipo de censura, mas depois de publicado, não apenas você, mas qualquer membro pode fazer o que quiser com os textos e publica-los novamente, assumindo a autoria das atualizações.
Abraços,
Erivaldo
Comentário de HANS JURGEN BRAEMER em 30 abril 2010 às 12:53
Olá Erivaldo,
Entendo perfeitamente o que queres exprimir. Mas lhe pergunto como eu posso lhe ajudar se um texto desses não cai antes na minha mão para tentar construí-lo de forma mais adequada para que todos possam entende-lo.
Pelo jeito o pessoal te municia com artigos e voce os repassa imediatamente. É isso ?
Erivaldo entenda me: as minhas críticas são e serão sempre construtivas. Também desde que me inscreví, foi a primeira vez, que aparece um artigo tão fora de esquadro ( confuso ).
Comentário de Textile Industry em 30 abril 2010 às 11:48
Caro Hans,
Nossa intenção é passar uma informação para aqueles que militam no ramo têxtil, avaliamos que esta informação teria alguma utilidade.
A transcrevemos conforme foi publicada e citamos a fonte, não fazemos edição de nenhum post.
Se você o considera tão inadequado, porque não nos ajudar fazendo uma edição competente e mais inteligível?
Para que todos possam entender e aproveitar melhor.
Agradecemos qualque tipo de ajuda
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Comentário de HANS JURGEN BRAEMER em 30 abril 2010 às 11:29
GENTE, ESTÁ MUITO CONFUSO E INCOMPLETO ESTE ARTIGO !!! FALTANDO PALAVRAS, PORTUGUES GRAMATICALMENTE INCORRETO OU ATÉ FRASES. NÃO TEM NINGUEM QUE REVISE E CORRIGA ESTAS GAFES ??? EM ALGUM MOMENTO PARECE UM TREM EM PÁTIO DE MANOBRAS, OU SEJA, VOLTA SEMPRE PARA O MESMO LUGAR. O TÍTULO DO ARTIGO É ALTAMENTE SUGESTIVO E IMPORTANTE, PARA SE PERDER NO MEIO DO CAMINHO DESTA FORMA.

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