O surgimento de um Dia Internacional da Mulher está relacionado com uma tragédia em uma confecção, no dia 25 de março de 1911. A Triangle Shirtwaist Company, que ocupava os três últimos andares de um edifício em Nova York e empregava, aos modelos da Revolução Industrial, mulheres e crianças para trabalho pesado e remuneração exígua, pegou fogo. Diz-se que a única porta de saída era estreita e, aliada à falta de segurança do trabalho, foi responsável pela morte de 146 pessoas (das 600 que estavam lá).
A Triangle era já voraz opositora dos direitos dos trabalhadores e das mulheres. Um pouco antes, uma passeata do partido International Ladies Garment Workers foi duramente combatida pela companhia e outras do ramo em Nova York.
Hoje o que a gente vê na indústria da moda, e aqui destacando o Brasil - o fenômeno acontece praticamente no país inteiro -, é que a condição de trabalho e a remuneração das mulheres não evoluiu muito em 102 anos.
A indústria confeccionista é formada, desde seu início, majoritariamente por mulheres. Mais do que isso, são elas que ocupam os cargos mais baixos e mais vulneráveis. Esse setor, por causa do maquinário simples e barato, se constitui em grande parte de trabalho externo, ou seja, as empregadas trabalham em sua própria casa, com vínculo informal. Elas chegam a trabalhar de 12 a 14 horas por dia para tentar ganhar um pouco mais.
A informalidade do setor livra as empresas de leis e encargos trabalhistas, se tornando lucrativo para o contratante. E, assim como em todos os outros setores da economia, as mulheres ganham menos que os homens desempenhando exatamente a mesma função.
Não há uma divisão nítida entre a confecção e o lar. Se torna ainda mais exaustivo porque o trabalho em casa se confunde com as tarefas domésticas, mesclando uma jornada à outra. Tudo isso justificado no suposto "papel feminino" na sociedade.
A situação, é claro, é parecida também em outros lugares do mundo, como em Los Angeles, pólo confeccionista nos EUA, com fábricas tomadas por imigrantes. Enquanto as mulheres se encontram na base dessa cadeia produtiva, muitos dos cargos de chefia nos EUA da indústria têxtil e de confecção são ocupados por homens: as mulheres formam, como no Brasil, a base produtiva.O Women's Wear Daily fez uma comparação com todas as 500 top empresas presentes na Forbes em 2012 - dentre elas, 3,8% dos CEOs eram mulheres. Separando as empresas de moda, esse número caiu para 1,7%!
A comemoração do dia 8 de março nos lembra que ainda há muito o que progredir. E algo tão categoricamente feminino (desde a sua produção até a outra ponta, a sua utilização) como a moda é o maior retrato disso.
Vivian Berto
tendere.blogspot.com.br
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