Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O novo made in China 

A Les Lunes, marca de moda sediada em Paris e São Francisco, aprovisiona as peças de vestuário numa fábrica no distrito de Qingpu, nos arredores de Xangai. Nessa fábrica, revela o portal Fast Company, é possível encontrar os filhos das costureiras a brincar em espaços criados para os receber e, na hora de almoço, os trabalhadores reúnem-se numa divisão ensolarada para comer e conversar. Muitos são amigos próximos, trabalhando na fábrica há décadas. Este parece um mundo distante da típica imagem da vida fabril na China.

«Ao contrário de outras partes da China, onde os trabalhadores migram de outras cidades para trabalhar em fábricas, todos os 50 funcionários são da aldeia onde a fábrica está localizada», explica Anna Lecat, fundadora e CEO da Les Lunes, ao portal.

Depois de mais de duas décadas a trabalhar com fábricas do país, Lecat quer mudar a perceção de que o “made in China” se traduz em trabalhadores mal tratados e produtos de má qualidade. Não está sozinha. Uma vaga de empresas de moda ocidentais que se concentram na produção ética – incluindo a Grana, Ellie Kai, Everlane e Caraa – está agora a apostar numa nova geração de fábricas chinesas que paga salários dignos aos trabalhadores, oferece condições de trabalho agradáveis e horários razoáveis e produz vestuário, calçado e acessórios de qualidade.

Nos últimos anos, os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre questões de aprovisionamento. Mas, segundo Marshal Cohen, analista de retalho no grupo NPD, os clientes estão dispostos a pagar mais 10% a 15% por vestuário produzido de forma ética.

Como resultado, uma série de startups de moda optou por produzir os seus produtos nos EUA para oferecer aos clientes mais transparência. O movimento está alinhado com o esforço para trazer a produção de volta à casa (reshoring) – em parte devido a uma crescente frustração pela perda de empregos industriais para os trabalhadores estrangeiros. Ainda assim, como a economia de mercado mantém a maioria das fábricas no exterior, algumas empresas estão a argumentar que as fábricas chinesas não são tão más como se faz parecer e que o “made in China” não implica necessariamente baixa qualidade.

Condições de trabalho 
Ao longo dos anos, Anna Lecat sempre teve facilidade em encontrar fábricas que combinem com os seus valores em Xangai. Lecat defende que a produção de alta qualidade está muitas vezes – embora não sempre – ligada a melhores condições de trabalho. Em Xangai, uma cidade próspera, é difícil encontrar trabalhadores de fábrica, por isso os empregadores precisam de competir por talento: isso significa oferecer melhores salários e benefícios. Por conseguinte, isso leva a um menor volume de negócios e, por consequência, os trabalhadores tendem a ter mais experiência nas suas tarefas. No caso da Les Lunes, isto significa que as costureiras são hábeis a costurar tecidos delicados e a lidar com rendas complexas.

As condições de trabalho nas fábricas chinesas estão em trajetória ascendente, de acordo com o investigador Keegan Elmer, da China Labour Bulletin, organização que apoia os movimentos de trabalhadores na China. Mas isso não quer dizer que sejam universalmente éticas. «Um dos problemas com a avaliação do estado da fábrica chinesa é que as coisas são muito irregulares», ressalva Elmer.

Os padrões do local de trabalho podem variar por província e região, por exemplo. Em 1980, Pequim designou as regiões de Shenzhen, Guangzhou, Hong Kong e Macau como zonas económicas especiais, oferecendo incentivos fiscais aos empresários chineses e ao investimento estrangeiro para a criação de unidades fabris. Empresas de todo o mundo reconheceram ali uma oportunidade para tirar partido de uma força de trabalho barata e muitas marcas americanas e europeias começaram a deslocalizar a sua produção para a China. Atualmente, a área representa apenas 5% da população do país, mas produz um quarto das exportações.

Para acompanhar este volume de produção, os proprietários das fábricas de Shenzhen dependem do fluxo constante de trabalhadores de regiões próximas em busca de oportunidades. A maioria trabalha durante curtos períodos e, depois, muda-se para as cidades em busca de empregos mais bem remunerados e menos servis – ou regressa a casa com mais de dinheiro no banco. Essa cultura de trabalhadores migrantes de curto prazo significa que os proprietários de fábricas tendem a tratar os funcionários como substituíveis, pelo que não se incomodam em investir em bons salários ou em locais de trabalho agradáveis. Com falta de formação ou experiência, não surpreende que os produtos que fazem tendam a ser de má qualidade.

Mas mesmo em Shenzhen, a cultura de fábrica de vestuário está a começar a mudar. Muitos locais de trabalho tornaram-se mais limpos, mais seguros e mais profissionais. O trabalho em si tende a ser menos árduo e os trabalhadores tendem a trabalhar menos horas. Depois de anos de greves – e de três décadas da política do filho único ter limitado a população ativa –, os trabalhadores migrantes viram o seu poder crescer ligeiramente, à medida que uma geração com mais formação ingressou na força de trabalho.

De acordo com Benjamin Cavender, diretor do China Market Research Group, as fábricas estão também a automatizar cada vez mais as suas linhas de produção, o que significa menos tarefas de trabalho intensivo para os trabalhadores.

As grandes marcas internacionais estão a pressionar as fábricas com as quais se associam a transformar os edifícios em espaços mais ecológicos, bem como a procurar garantir que os trabalhadores sejam tratados com justiça.

O governo chinês também procurou criar proteções para os trabalhadores, incluindo contratos escritos e compensação por despedimento. No entanto, refere Elmer, muitas fábricas não pagam aos trabalhadores todos os benefícios que lhes são legalmente devidos. «Há problemas universais mesmo em algumas das melhores fábricas», admite. «Na realidade, em muitos casos, estes seguros sociais são mal pagos ou nem chegam a ser pagos. Isso motiva greves e protestos regulares dos trabalhadores».

Não obstante, este progresso foi uma das principais razões que fez com que Liz Hostetter encontrasse uma confeção em Shenzhen quando lançou a marca de vestuário feminino Ellie Kai, há cinco anos. Hostetter estava a viver em Hong Kong desde 2008 e reconheceu a próspera indústria de confeção na cidade. Assim, fundou a Ellie Kai, que permite que as clientes escolham de uma seleção de peças e tecidos e, de seguida, os personalizem. Os produtos chegam à casa da cliente três semanas depois do pedido.

A deslocalização 
Contudo, o movimento em direção a fábricas mais éticas na China não sinaliza uma tendência global. Cada vez mais, as empresas chinesas procuram mão-de-obra barata noutras regiões da Ásia e no resto do mundo, perpetuando os padrões que outrora governaram Shenzhen. Muitos empresários começaram a comprar fábricas no Vietname, Índia, Malásia ou Sri Lanka.

Na esperança de conter a maré de deslocalizações de fábricas para outras regiões da Ásia, o governo chinês passou a oferecer subsídios às empresas que apenas se mudassem para outras regiões dentro da China, onde os salários podem ser até 30% mais baratos.

Face à deslocalização, uma subdivisão de fábricas chinesas está a estabelecer uma cultura de produção premium, afirma Luke Grana, fundador da Grana, empresa de vestuário com sede em Hong Kong.

A Grana compra linho da centenária Baird McNutt, na Irlanda, lã merino do grupo Albini e popelina de uma empresa familiar em Avignon, na França. As matérias-primas são enviadas para um conjunto de fábricas em Huzhou e Guangdong, não muito longe de Hong Kong, onde fabricantes de vestuário sabem cortar e costurar esses materiais caros adequadamente. «São realmente especialistas e técnicos qualificados», garante Luke Grana.

FONTE: PORTUGAL TÊXTIL

 
 

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