Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Há no Brasil um projeto político - sem partido - composto daqueles que se inquietam com a desindustrialização do país, ou melhor, com a redução da parte da indústria em nossa produção e exportações. Em meados do século 20, quando o subdesenvolvimento e seus males despertaram reflexões de alta qualidade, entendeu-se que, para saírem da miséria, os países mais pobres deveriam ir além da agricultura, pecuária e extração de minérios. A única forma de se desenvolverem seria agregando valor-trabalho a seus produtos. As mercadorias com baixa quantidade de riqueza gerada pelo homem acabam valendo menos. Mesmo a grande exceção dentre os produtos coletados, o petróleo - que, por sinal, começou a se tornar mais caro apenas na década de 1970 -, não é uma benção para as nações que o extraem. A grande exceção são os Estados Unidos, mas justamente porque sua produção de petróleo é apenas um item numa economia complexa e rica. Em outros lugares, o petróleo desestimula a geração de riquezas pelo trabalho humano. Mas, ficando no Brasil, entendeu-se que a solução de nossos males passava pela industrialização. É o que une Volta Redonda, construída ainda na ditadura Vargas, os projetos de JK na década de 1960, o planejamento de Celso Furtado e as grandes obras da ditadura militar.

Riqueza natural não basta para fazer rico um país

Contudo, os dois últimos presidentes da República, FHC e Lula, conviveram bem com o que desde a década de 1990 alguns chamaram de desindustrialização. Voltou a crescer, em nossa pauta de exportações, o que vem da terra: seja a riqueza mineral gerada ao longo de milhões de anos e que desaparece para sempre, seja o produto do campo, ora lavoura, ora pecuária. Na análise que a Cepal fazia das causas da pobreza, trata-se de produtos honrosos, mas que não permitiriam dar o salto para o desenvolvimento. É verdade que a agropecuária e a extração de minérios hoje têm uma qualidade nunca antes vista. Ciência e tecnologia estão embutidas nelas. Por outro lado, hoje não basta ter indústrias: há as de primeiro e de segundo time. Só as melhores representam um diferencial. O trabalho agora valorizado não é qualquer um - é, sobretudo, o intelectual. Ou seja, a diferença de nossos dias não é bem entre indústria e agricultura: é entre o uso da inteligência e o uso dos braços. Mesmo assim, o fato é que nas últimas décadas - por coincidência as mais estáveis de nossa história política, as que também mais contribuíram para a redução da miséria e da pobreza - nossa economia de exportação voltou a se constituir principalmente de produtos com pouca agregação de valor. Há, aí, pelo menos um paradoxo, e talvez um risco.

Testemunhei um episódio dessa história quando jovem. Meu pai, Benedicto Ribeiro, jornalista econômico (ver José Venâncio de Resende, "Construtores do Jornalismo Econômico", 2005), trabalhava em 1967 com Horácio Coimbra, que presidia o Instituto Brasileiro do Café. Horácio, dono da Cia. Cacique de Café Solúvel, perdeu o cargo, vítima das pressões norte-americanas para que o Brasil não exportasse café solúvel, mas só em grão. Em plena vigência do Ato-5, o então deputado Helio Duque relatou esse caso em "A guerra do café solúvel" (1970). A simples transformação do café para solúvel, incluindo mais trabalho no valor do produto, já era um elemento de combate ao subdesenvolvimento.

Temos economistas e políticos preocupados com essa redução da qualidade do que exportamos. Os nomes óbvios são Luiz Carlos Bresser-Pereira, que deixou o PSDB no ano passado (como revelou ao jornal Valor), e José Serra, que em sua carreira se empenhou na defesa da indústria. Contudo, este assunto hoje não é pauta de discussão política. Não tem destaque na maior parte dos jornais, nem na televisão aberta. Apenas devo lembrar, aqui, que não se trata exatamente de defender a indústria na exportação brasileira; é antes de mais nada entender que o país não pode depender tanto da exportação, digamos, de soja para alimentar o gado estrangeiro. É ótimo exportarmos esses produtos, mas não bastam. Ou seja, o que chamei de partido industrial não é bem um defensor só da indústria, ou de qualquer indústria: o que o incomoda é a hipercommoditização do que mandamos para fora, que nos deixa econômica e politicamente vulneráveis, e o que ele quer é agregar trabalho brasileiro para o país produzir mais riquezas. Mais ainda: pretende romper com a ideia do país "rico por natureza", quando riqueza é o que fazemos, com o trabalho e, cada vez mais, a inteligência.

O problema é que esse partido da agregação do valor-trabalho não existe. Há economistas preocupados com o problema. Só que o assunto não vai à praça pública. Nem sei se Serra ainda lhe dá importância: na campanha, mal o mencionou. Pode ser tema impopular - é tão barato importar da China... Mas os pontos cruciais são dois: aparentemente, vemos aqui o calcanhar de Aquiles de nossa economia, que tem permitido uma redução drástica da pobreza; e, seguramente, é o assunto de que não se fala. Haverá políticos querendo trazer o assunto para o debate? Na verdade, o que chamei de partido industrial deveria ser conhecido como o "partido da inteligência como força produtiva". Talvez aí esteja o problema: ele se concentra demais no Ministério da Ciência, Tecnologia e, agora, Inovação. Poucos sabem dele. Mas é prioritário para nosso desenvolvimento. Não sei, a rigor, se ele tem que virar partido. Como os empreendedores de quem falei na coluna passada, talvez seja melhor que contaminem as diversas forças políticas. Mas tem que fazer-se presente no debate público.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras

Fonte:|http://www.valor.com.br/politica/2527590/o-partido-industrial

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Comentário de Gustavo Pereira dos Santos em 15 fevereiro 2012 às 7:37

SE AGREGARMOS  "O TRABALHO" ÀS COMMODITIES EXPORTADAS AGREGAREMOS VALOR AO PRODUTO.

PARA AGREGAR VALOR SEM AUMENTAR "O PREÇO" PRECISAMOS DE INDÚSTRIAS PREPARADAS.(TECNOLOGIA)

PARA EXPORTAR ESTES PRODUTOS TEMOS QUE TER "A LOGÍSTICA".

O TRABALHO, COM PREÇO E LOGISTÍCA VÂO GERAR UM PAIS MAIS "RICO E HUMANO".

Comentário de Sam de Mattos em 14 fevereiro 2012 às 18:23

Bem um dos GRANDES responsaveis pelo aumento de consume, jundo com aumento do PIB, salarial etc, etc... Quanto aos fabricantes Chineses, vamos ver o custo final depois das "mordidas" de vereadores locais, de "colaboracao" (forcada) com a comunidade, com partidos, com as artes, esportes, eventos sociais, com canpanhas, com assedios de fiscais aplicando multas, com os encargos sociais, com os dias de folga, feriados, dispensas medicas, impostos... Vamos ver como eles se saem com esse "Custo Brasil". Creio que se acomodarao bem por aqui. Teem uma cultura de corrupcao tao acintuosa quanto a nossa.

Comentário de Julio Caetano H. B. C. em 14 fevereiro 2012 às 18:12

Entendo que a redução da inflação brasileira do patamar de 70% ao mês para 6% ao ano, foi o grande responsável pelo estrondoso aumento de consumo das classes.
Entendo que os asiáticos estão implantando fábricas de automóveis no Brasil, por terem concluido que a fabricação local faz com que o bem fique mais em conta do que o por lá fabricado e exportado para cá, e assim poderão continuar competindo com os demais fabricantes.

Comentário de Sam de Mattos em 14 fevereiro 2012 às 17:18

Meu querido Georges Louis: Sou somente um velho rabujento, irritado consigo mesmo por ainda ter uma boa visao das coisas, que vagarosamente afunda em seu nadir, em seu INEVRNO TEXTIL - como o nosso movimento primaveril, que "aL carajo se fue".

Comentário de GEORGES LOUIS D. DE CASTRO em 14 fevereiro 2012 às 17:12

SAM DE MATOS VC MERECE UM PREMIO PELO QUE ACABOU DE ESCREVER...

REALMENTE ...SEM PALAVRAS! VC DISSE TUDO!!!

PARABÉNS!!!

 

GEORGES LOUIS

Comentário de GEORGES LOUIS D. DE CASTRO em 14 fevereiro 2012 às 17:05

POIS VEMOS AGORA, OS E.U.A. RETOMAR A INDUSTRIALIZAÇÃO DE SEUS PRODUTOS.

NO BRASIL, COM FARTA MÃO DE OBRA,NÃO PODE SE DAR AO LUXO DE IMPORTAR SOMENTE.

SE O GOVERNO FOSSE SÉRIO, JÁ TERIA IMPLANTADO INÚMEROS PROGRAMAS DE INCENTIVOS PARA CAPACITAÇÃO DE MÃO DE OBRA EM TODOS OS SETORES PRODUTIVOS NO PAÍS.

 

GEORGES LOUIS

Comentário de Sam de Mattos em 14 fevereiro 2012 às 16:38

Não creio que há uma redução de pobreza sustentável e significativa no Brasil. Há mais uma medida paliativa, um ambulatório despreparado para pesquisas oncológicas, aspirinas a guisa de radiação e jornal sendo usado como palmilha para sapatos furados. É por ai. Pobreza não se elimina sem produtividade, sem emprego; o Governo e Estados gerando empregos públicos é um modelo falido; a medida que o setor privado, e a Industria encolhem, mais dependentes ficamos desse empreguismo Estatal que gera estagnação a criatividade, a competição, aumenta os custos e destorce a democracia. Já no Brasil os nossos filhos ficam muitos anos baixo a laje paternal a espera de uma sorte grande de passarem num “concurso” para isso e para aquilo. Esse é um sistema DE MERDA. Esse é um sistema enganoso que alimenta o faminto e da ao miserável um falso nome de classe media. Em lugar nenhum do mundo qualificaria a nossa classe media de tal. Seria classificado de PENURIA ou MISERIA. De novo, de comer ao miserável, mas o ENSINE a se alimentar. DE remédio ao enfermo, mas o ensine prevenção básica: A cavar poços artesianos,  colocar as suas fossas higiênicas longe da fonte de agua potável e usar redes co9ntra o mosquito da malária. Sintetizando tudo se resume na EDUCACAO. Esse seria o investimento em longo prazo para redução definitiva da nossa pobreza. Uma vez negligenciado esse ponto, tudo não passa de um show de vaudeville, meras manipulações politiqueiras e besteiróis para Ingles ver. Para se ganhar votos e pontos na UNESCO. Essa chamada redução de pobreza no Brasil e uma mansão de cartas de baralho em equilíbrio Instável onde uma pequena brisa arruinara tudo. Tudo isso e bosta. E Broadway. São miçangas para emganar índio. São mijadas contra o vento – nos molhando a cara.

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